SÓ OS BURROS NÃO MUDAM

É conhecida a teimosia desse querido animal de 4 patas, mas mais reconhecida ainda é a hipocrisia e o cinismo do ser humano ao obrigar esse generoso animal a trabalhos, a esforços e  até a comparações bem para além das possibilidades físicas e mentais.

Já em 2014, José António Saraiva, num artigo de opinião, contava que um dia e para justificar mais uma das suas regulares mudanças de opinião, que na altura pelos vistos não incomodavam ninguém, Mário Soares dizia – “Só os burros não mudam!”.

Nunca fui um adepto de Mário Soares a não ser perante a sua equilibrada posição durante o chamado processo revolucionário em curso (PREC) contra o fanatismo do PCP na preparação e tentativa de golpe de estado de 25 de novembro de 1975. 

Mas muitos dos que ainda existem têm de confessar que quando Mário Soares botava opinião sobre qualquer assunto, difícil era contrariá-lo e muito mais fazê-lo na imprensa falada ou escrita. Dizia muitas coisas, acertada e convenientemente, fruto da sua passagem pelo calvário comunista e pela oportunidade de que dispôs um dia, de reconhecer os sinistros erros de uma obscura ideologia. Outros tempos afinal, tempos em que a mudança de atitude mostrava pelos vistos ocasionalmente e perante alterações de posição, que um indivíduo não é casmurro, é de intelecto aberto e capaz de reconhecer erros.

Hoje, à frente de um partido que tem 50 deputados na Assembleia da República, há um André Ventura que, perante as constantes e variadas mudanças de política e atitude da irmandade PS/PSD, é obrigado a mudanças de posição que mais não são do que aquelas a que obrigatoriamente a tática política obriga. 

Colocado entre talas por um socialismo e uma social-democracia à lusitana, perseguido por uma imprensa que se vende com facilidade e sistematicamente encalacrado por um presidente habituado a distorcer a realidade e a explicar o inexplicável, Ventura procura com inteligência, posicionar-se contraventos e tempestades.

Reage como qualquer comandante de navio, face às vagas que se lhe apresentam, mudando cuidadosamente de rumo e dando à sua rota a segurança a que qualquer comandante está obrigado. Não reage às constantes vagas de um mar revolto, foge a correntes dos ventos fortes e conhece o intervalo entre as cristas das ondas. Observa o swell formado em tempestades distantes e estuda a sua chegada às areias de Portugal. Ainda e inteligentemente longe da costa, espera a sua oportunidade e não se aproxima sequer da possibilidade de um naufrágio. Quem o pode condenar? Quem são as gentes que á tripa forra cavalgam essas ondas que, à comunista maneira, martelam as consciências à exaustão, para que verdade se tornem?

Na realidade, e salvo o carinho e respeito que tenho por eles, só os burros não mudam, como diria o outro. E de burro, o André Ventura não tem nada.

Tem tido quase sempre a noção da realidade e a calma dos justos perante as sinistras atitudes, as linhas vermelhas, os mercenários comentadores, os fazedores de histórias de esquerda e as guerras sem propósito, que lhe são movidas pelos restantes políticos, presentes numa Assembleia da República com abandalhadas e irresponsáveis vestes a condizer com as suas normalmente rascas e sinistras posições. Já não há gentes socialistas responsáveis como antigamente, apenas gentes com volumosas frustrações e cada vez mais fanáticas posições a precisar de tratamento. Daí o lembrar-me da lucidez de um homem como Soares que os socialistas de hoje, ensinam a esquecer.

Vou lembrar também da posição idiota de um primeiro-ministro que diz ao povo que com o CHEGA nunca, que nem pensar como se pensar fosse o seu forte e não o medo que tem de trair a irmandade PS/PSD e os seus satélites em nome de uma sobrevivência, de um arco chamado da governação e de uma democracia que deixa muito a desejar tal o desrespeito assumido por bem mais de um milhão de portugueses filhos, a seus olhos, de um Deus menor.

Afinal, a mudança natural de posição mas que dizem ser múltipla é, como facilmente se pode observar, o único e inteligente movimento a fazer face às múltiplas posições e ameaças da irmandade lusitana e seus pequenos satélites. É óbvio, mas a propaganda tem destas coisas e desde o princípio que é obrigatório acabar com o CHEGA. Não porque seja só o CHEGA e a direita mas porque o repasto não dá para todos que à muito se sentam à manjedoura.

Quem muda de posição, dizem, é o Ventura. Os outros, leia-se os restantes partidos políticos, são todos coerentes e nunca o fazem. Donde, embora contrariado, me inclino perante a visão de Mário Soares que um dia em defesa própria e quem sabe, julgando-se possuidor de poder sobrenatural, previu o futuro dizendo, SÓ OS BURROS NÃO MUDAM.

Sem querer insultar seja quem for, mas ciente do que leio, auxiliado pelas buscas que faço e consciente do que é a minha obrigação, salvaguardando sempre e mais uma vez o respeito que tenho pelos burros que marcham a 4 patas, chego à conclusão que não passam de mais uns “tró-la-rós” a propagandeada opinião de que o Ventura e o CHEGA mudam demasiadas vezes de opinião.

A minha é de que de manhã, os de esquerda, acordando tarde ainda julgam que estão no dia anterior. À tarde, recompostos, estudam o que Ventura quis dizer sem chegar a conclusões racionais. À noite, seguindo sempre as mesmas instruções, mas ainda sem o compreender, dizem “o que lhes sopram ao ouvido” como confirma o Negromonte, condenando Ventura porque sim e porque é essa a ordem de quem está por detrás disto tudo. Perceberam? Eu já e penso que até os mais burros de 2 patas também, mas só por conveniência, não se manifestam.

Como ainda tenho o direito de dizer aquilo que penso, acho que só não percebe o que se está a passar há demasiado tempo, é mesmo aquele que não quer ver. 

E sinto que Mário Soares, conhecedor do povo e vidente nas horas vagas, era exatamente a esses que se referia! Só mesmo um burro, mesmo burro, não muda de opinião.

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