Filhos de um Deus menor

Este é o título de um filme dos anos 80 que narra uma história de amor entre um professor e uma Ex-aluna surda e cuja trama gira em volta da resistência desta em se integrar no mundo dos que ouvem.

O tema que hoje abordo bem que dava também ele um filme, dramático com certeza tal é o impacto que tem tido na vida de muitas pessoas e empresas, mas assim como no filme aqui também ninguém, a nível do poder central, quis ouvir aquilo que eram as preocupações da população.

Refiro-me aos constrangimentos causados com as prolongadas obras na ponte Edgar Cardoso na Figueira da Foz.  Esta ponte inaugurada em 12 de março de 1982 na presença de figuras ilustres do estado português na altura como o presidente Ramalho Eanes e o primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão é relevadora da importância desta para a cidade, região e País, foi um marco na vida e história figueirense, ela que veio substituir a antiga ponte de ferro de Gustavo Eiffel que datava o seu início de 1907. Refira-se que de 1982 até aos dias de hoje já sofreu naturalmente algumas intervenções, nesse sentido destaco a de 2005 orçada em cerca de 14 milhões de euros e que iria permitir aumentar o período de vida desta em 30 anos, pois bem estávamos em 2022 quando as infraestruturas de Portugal anunciou uma intervenção de fundo na referida infraestrutura com um prazo de execução de 21 meses e um custo estimado de 16,8 milhões de euros. Paralelamente foi anunciado o plano de execução e com ele o alarme para as populações e empresas com as implicações resultantes, nomeadamente com os cortes totais noturnos da circulação na grande maioria do ano a contemplar 5 noites por semana, sim, porque por este país a fora não deve haver a consciência que na Figueira da Foz decorre uma obra numa infraestrutura vital, que é necessária certo, mas  que faz com que a cidade fique desligada da zona sul do concelho onde entre muitas indústrias se encontra também o hospital, só para terem uma ideia a alternativa aos normais 4 a 5 quilómetros de distância  entre a sede de concelho e a unidade hospitalar são quase 40 quilómetros percorrendo a A-17, isto aplica-se para quem tiver de ir nessas noites ao hospital como para muitos trabalhadores, o efeito só não é ainda pior em termos económicos também  porque em abono da verdade diga-se a autarquia fez bastante pressão para que nesse período o troço percorrido da A-17 ficasse isento de pagamento, foi também alargado o funcionamento do barco que assegura a travessia entre as margens como forma de minorar os constrangimentos.

Agora, alguém acha possível em Lisboa ou no Porto isto acontecer? Privar-se autenticamente a circulação de pessoas? É em nome da segurança, dirão, ok e ainda bem, mas nessas cidades que referi isso acontece? Não porque têm outro tipo de alternativas que não seja terem de fazer mais 40 quilómetros para cada lado para ir trabalhar ou deslocar ao hospital por exemplo. Portanto, não foi em 2022 que descobriram que era necessário fazer uma intervenção desta envergadura, logo tiveram tempo para acautelar os interesses das populações, creio que isso ainda importa! Lembro que no papel está um projeto de uma travessia no Mondego, entre as Freguesias de Vila-Verde e o Alqueidão que fará parte da rede europeia de ciclovias, esse mesmo projeto no entanto como só contemplava a travessia de bicicletas foi por intermédio da câmara municipal  alvo e bem de alterações que possibilitem a travessia também de automóveis, mas não tivéssemos nós em Portugal o processo tem sofrido avanços e recuos principalmente devido à obtenção do respetivo financiamento e aquilo que deveria estar pronto e assim mitigar o sofrimento de quem precisa diariamente atravessar para o outro lado ainda antes das prolongadas obras começarem tarda em ver a luz do dia.

Estamos em fevereiro de 2025 e as obras que dever-se-iam ter iniciado a 31 de outubro de 2022 e demorado 21 meses, continuam, verdade que acabaram por se iniciar alguns meses mais tarde, mas os constrangimentos esses logo se fizeram sentir dada a diminuição de 4 para 2 faixas de rodagem, causando logo desde essa altura inúmeras filas de trânsito diariamente com o consequente aumento no tempo da travessia.

Desculpem que vos diga, mas continuamos a olhar para Lisboa e Porto com uns olhos e para o resto do país com outros.

 

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