Crazy? Ou talvez não!

O ano de 2025 ainda agora começou e já está marcado pelo regresso de Donald Trump à Casa Branca e pelo toque muito pessoal que ele imprime nas mais diversas decisões que toma.

Em várias partes do mundo, chamam-no de louco e criticam a sua eleição, questionando como esse homem pôde vencer as eleições num país como os Estados Unidos da América. Mas venceu, certo? Não houve nenhum golpe de Estado, nem eleições manipuladas ao estilo da Venezuela, por exemplo.

É aqui que deveríamos focar: a Europa teve tempo mais do que suficiente para se preparar desde o momento em que o atual presidente norte-americano anunciou a sua recandidatura. As sondagens já indicavam a sua provável vitória, primeiro contra o ex-presidente Joe Biden e depois contra a sua vice, Kamala Harris. No entanto, preferiram negar a realidade e, aqui e ali, tentaram dar uma ajuda aos candidatos que surgiram para enfrentá-lo.

Os Estados Unidos são o terceiro maior país do mundo em extensão territorial, com mais de 330 milhões de habitantes. Desses, “apenas” cerca de 40% possuem passaporte. Isso significa que, apesar de ser a maior potência mundial, mais de metade da sua população não tem o hábito de viajar. O conhecimento e o interesse pelo mundo exterior são, por isso, pequenos ou até inexistentes. E foi para essa população que Donald Trump voltou a direcionar a sua campanha e venceu, dando grande ênfase à imigração e à segurança interna.

Portanto, por mais que nos custe (Europa), a sua principal preocupação será, naturalmente, governar o seu país e defender os seus interesses, assim como os de seus cidadãos e eleitores. Não foi surpresa que uma das suas primeiras medidas tenha sido, novamente, a saída da OMS (Organização Mundial da Saúde). Não é difícil entender a lógica: os Estados Unidos, com 330 milhões de habitantes, contribuem com cerca de 118 milhões de dólares anuais para a OMS, enquanto a China, com aproximadamente 1,42 mil milhões de habitantes, contribui com cerca de 38 milhões, e a Índia, também com 1,42 mil milhões de habitantes, com apenas 10 milhões.

Outra frente importante tem sido a guerra na Ucrânia. Para muitos norte-americanos, especialmente os eleitores de Trump, esse conflito acontece na Europa, e cabe aos europeus fazer o maior esforço na defesa dos valores ocidentais, com a democracia em primeiro lugar. Se Putin não for parado agora, não será nos EUA que ele chegará primeiro, mas sim às portas da Alemanha.

Nesse sentido, a União Europeia já deveria ter pensado há muito tempo em introduzir um componente militar na sua estrutura de segurança, em vez de focar-se exclusivamente na vertente económica. Muitos norte-americanos não entendem por que motivo o principal esforço na defesa da Ucrânia deve recair sobre os EUA e não sobre os países europeus, que estão geograficamente mais próximos. E, honestamente, faz sentido: não podemos esperar que quem está do outro lado do Atlântico defenda o nosso território e os nossos valores. Essa responsabilidade é nossa, dos europeus.

Na área económica, muito se tem criticado a política de tarifas impostas à China. Mas, se analisarmos o impacto da transferência da industrialização europeia para esse país asiático, veremos que muitos países, incluindo a Alemanha, começam a ver a sua capacidade industrial enfraquecer. Talvez Trump não seja tão irracional quanto muitos afirmam – afinal, ele quer proteger a economia do seu país.

Neste início de governação, nem tudo são rosas ou fáceis de compreender. Destaco, por exemplo, as declarações sobre possíveis anexações do Canadá e da Gronelândia, que são territórios pertencentes à NATO, bem como a ideia de “limpar” a Faixa de Gaza. Criticam-no, mas ninguém apresenta uma solução duradoura para aquela região. Gostemos ou não, Trump é isso mesmo: um homem fora dos padrões e do politicamente correto. Diz o que pensa sem hipocrisia barata e mantém-se fiel a si mesmo.

Independentemente de sermos a favor ou contra Donald Trump, é importante entender os motivos por trás das suas ações. Espero ter ajudado.

Artigos do mesmo autor

Este é o título de um filme dos anos 80 que narra uma história de amor entre um professor e uma Ex-aluna surda e cuja trama gira em volta da resistência desta em se integrar no mundo dos que ouvem. O tema que hoje abordo bem que dava também ele um filme, dramático com certeza […]

Foi pelas 00:00 do dia 04 de novembro de 2006 que não só os residentes no concelho da Figueira da Foz, mas também alguns dos vizinhos de Soure, Pombal e Cantanhede se viram privados daquilo que deveria ser um direito básico, nascer na sua terra, ou o mais próximo desta. Nessa altura justificou-se, como se […]