COISA IMPORTANTE A QUE NÃO LIGAM IMPORTÂNCIA: ÁGUA

Li com atenção o que um comentador importante diz das coisas importantes. Chama ele a atenção do presidente da república que “em vez de se meter nos assuntos do governo ou a ameaçar com o uso dos seus poderes, podia com mais proveito comum, encabeçar a defesa da terra, da agricultura, da água, da paisagem e do futuro do país”. Não concordando com a preocupação sobre se o PR deve ou não abster-se de meter o nariz nos assuntos do governo ou a lembrar sequer os seus poderes, já dou alguma razão quando fala sobre a água e tudo o que ela proporciona pensando que deveria ser preocupação prioritária do PR este problema da chamada fonte da vida. Como nunca gostei de misturar as coisas, não me refiro aos campos de golfe, aos campos de abacateiros, a laranjais intensivos ou às suas necessidades. Muito menos consigo perceber o raciocínio que obriga à opção única da água de que se dispõe, quando a verdadeira opção deveria ser pelo avançar decidido por outra, mas não como se faz a sul do país com o Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve, que dizem com recurso ao PRR e que integra a central de dessalinização há muito projetada, mas sempre guardada na gaveta. Diz-se que o seu funcionamento, ignorando-se o alcance físico ou a dimensão do projeto, está previsto para 2026. Valha-nos Deus! Facto é que o governo da república não tem, tal como diz o semanário que “nos dá liberdade para pensar”, medidas novas para enfrentar um problema vital para o país como é o problema da água. Não tem medidas novas nem velhas, acrescento eu. Nem sequer vontade de através de exemplos externos, contratar gentes que nos seus países conseguiram transformar verdadeiros desertos em áreas imensas de produção agrícola e não só. Afinal o que falta é vontade como todos já se aperceberam. E essa falta de vontade não passa sequer pelas prioridades que dizem ter de seguir. Passa tão só pela falta de visão e irresponsabilidade. Pois se se discute tudo e mais alguma coisa até o que nada tem a haver com a vida em si e a sua essência, porque não um debruçar sério sobre o oceano que quase nos abraça e a dessalinização das suas águas que poriam fim à desgraçada seca que nos invade e que por cá ficará, dizem os entendidos na matéria, para todo o sempre? 

Monitorizam-se os níveis dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, continuam-se projetos de transferências de albufeiras de umas para as outras como as do Alqueva para as das bacias do Sado e do Guadiana. Promove-se a utilização das águas residuais tratadas para reduzir as perdas na distribuição da água urbana ou agrícola, ou seja, promove-se a lei do remendo e da solução pobre daqueles que persistem em não ver e que com a sua teimosia nos levam a falsas soluções e àquelas que estão sempre sujeitas às variações climáticas cada vez mais presentes. Quando se lhes mete na cabeça que há que impedir a realização de obras estruturais, tais como as construídas ainda no antigo regime de que muito falamos após meio século, aparecem sempre os ditos candidatos a estadistas dizendo que sai tudo muito caro mesmo que entre pelos olhos a dentro o estado de necessidade, a lógica, a prevenção e a vida.  Dessalinização da água? Nem pensar! Procure-se uma solução mais barata acompanhada de pareceres comprovantes e de gente com nome para dar alguma credibilidade à posição e à negação do evidente. E continuam a assustar as pessoas com as imagens de um Alentejo e de um Algarve onde as águas das albufeiras mingam e onde cada vez mais são suspensas as autorizações para estufas e proibidas novas captações das águas subterrâneas. Falam mesmo no norte do país, antevendo secas futuras e prazos limites para a existência do líquido sagrado que sustenta a vida.

 Ir buscar água ao Atlântico é que está quieto. Tântalo nunca pôde chegar à água sendo condenado pelos deuses à sede eterna. Por aqui, os portugueses não merecem semelhante castigo. Apenas que liguem importância ao que é de importância vital.

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