Hoje, numa visita guiada aos jornalistas, a artista explicou que os trabalhos agora expostos foram produzidos durante uma residência realizada em Serralves, ao longo de mais de um ano.
Num atelier montado numa sala na quinta da fundação, Sara Bichão adaptou-se ao ambiente e às mudanças sazonais que marcam o quotidiano e a relação com a natureza envolvente.
No seu trabalho, a artista utilizou o saibro, que serviu para a elaboração de um conjunto de esculturas, dez cabeças, com olhos iluminados, que observam no escuro, restos de azulejos verde-água, que revestem a fonte no jardim da Casa de Serralves, e outros resíduos, como mangueira, pigmento de uvas, pvc, fibra de coco e tecidos.
Sara Bichão criticou “a produção artística contemporânea que vê a arte como mercadoria comercial, contribuindo, assim, para um ciclo interminável de consumo e desperdício”.
A artista considera a arte como “um ato de resistência, uma ferramenta para desafiar as normas estabelecidas e promover uma consciência coletiva sobre a importância da sustentabilidade e do respeito pelo meio ambiente”.
Aos jornalistas, disse que esta preocupação ambiental acompanha-a desde que começou a trabalhar e “vem ganhando peso na mesma medida em que, hoje, como pessoa tem mais consciência do que tinha” desta problemática.
“Não se trata de um movimento político, é uma forma de vida de fazer determinadas coisas”, esclareceu.
Por exemplo: “Sou incapaz, nomeadamente, de pedir para me produzirem mais quilos de plástico, mas porque penso que é realmente desnecessário. E no âmbito criativo, é que é mesmo. Para se ser criativo e fazer poesia, bastam palavras, não é?”.
Nesta exposição, Sara Bichão contou aos jornalistas que utilizou “materiais usados de maneira periférica por outros artistas e que ali ficaram, mas que têm uma memória forte, que vibra, quando trabalhamos com essa matéria”.
Referiu que iniciou este seu projeto com a elaboração de “um plano de jogo, marcado pelo material escolhido” e a partir daí desenhou “possibilidades em fricção com a própria unidade de corpo e com o espaço da galeria”.
Além das obras expostas na Galeria Contemporânea do Museu de Serralves, a exposição estende-se também à sala da sacristia da Capela da Casa de Serralves, onde um conjunto de desenhos é iluminado pela luz que entra por um janelão.
Aqui, a claridade proporciona uma experiência que contrasta com a penumbra da Galeria Contemporânea do museu.
‘Lightless’, que ficará patente até 03 de novembro, está integrada no programa “Projetos Contemporâneos”, um ciclo de exposições iniciado pelo Museu de Serralves com o objetivo de promover a produção artística dos nossos dias.
A exposição é organizada pela Fundação Serralves — Museu de Arte Contemporânea, e tem curadoria de Inês Grosso, curadora-chefe do Museu de Serralves e produção de Giovana Enham.