“Estamos num ponto crucial. Esta eleição não se trata apenas de questões imediatas, mas de decidir o rumo do Canadá. As escolhas que fizermos agora terão impacto profundo na nossa economia e nas nossas relações com os Estados Unidos”, considerou Andrea Lawlor, em entrevista à Lusa.
Para a professora associada no Departamento de Ciência Política da Universidade McMaster, em Hamilton, no cenário atual as eleições não são apenas uma disputa partidária, mas uma oportunidade para redefinir o futuro do país.
As tarifas impostas por Donald Trump, especialmente nas indústrias de aço, alumínio e automóvel, tornaram-se um dos pontos centrais da campanha, disse Lawlor, especialista em políticas públicas, opinião pública e direito eleitoral.
A guerra comercial entre os EUA e o Canadá substituiu discussões tradicionais como emprego, crescimento populacional e desenvolvimento social, questões que normalmente dominam as campanhas eleitorais.
“A campanha tem sido dominada pela necessidade de proteger a economia canadiana, garantir empregos nos setores mais afetados pelas tarifas e reavaliar as relações comerciais do país”, observou Lawlor.
O resultado destas eleições vai definir a política interna do país e o futuro da relação com os vizinhos EUA, considerou.
“A forma como o Canadá se relaciona com os Estados Unidos, especialmente em relação às tarifas e à segurança económica, será central. Mas também está em jogo como o Canadá se posicionará globalmente, diversificando as relações comerciais e fortalecendo alianças internacionais, como com a UE e o Reino Unido”, acrescentou.
Independentemente do vencedor, Lawlor afirmou que o novo governo vai enfrentar questões difíceis, bem como definir o futuro da segurança económica e social do Canadá.
Embora as sondagens sugiram que o Partido Liberal de Mark Carney possa manter o governo, o Partido Conservador de Pierre Poilievre tem uma forte base de apoio e pode surpreender.
“A mobilização do eleitorado será fundamental. Ambos os partidos farão todos os esforços para garantir que os eleitores saiam para votar. O que é certo é que os canadianos estarão mais empenhados do que nunca”, disse.
A participação antecipada nas eleições, que já registou um aumento de 25% em relação a 2021, é reflexo da crescente mobilização dos eleitores.
“A maior taxa de participação antecipada na história das eleições mostra que os canadianos estão mais preocupados com o que está em jogo”, afirmou a especialista, sublinhando que não se tratar apenas de escolher um partido, mas “escolher o futuro do Canadá”.
Lawlor também destacou a crescente ameaça da desinformação, especialmente com o uso de tecnologias como inteligência artificial e “deepfakes” , que alimentam campanhas de desinformação.
Os “deepfakes” são conteúdos multimédia falsos, mas de aparência autêntica, resultantes da manipulação informática de sons e/ou imagens.
“Até os eleitores mais informados podem ser enganados por imagens e vídeos manipulados”, disse.
As autoridades canadianas, como a Comissão Eleitoral, estão atentas e a combater este fenómeno, “mas o uso crescente de ‘deepfakes’ é uma preocupação real” e pode afetar a confiança dos eleitores no processo eleitoral, afirmou.
Sobre o impacto das campanhas de desinformação, Lawlor apontou que tanto atores internos quanto estrangeiros podem tentar influenciar os resultados.
“Existem atores domésticos e internacionais, como os de países, como a China e a Índia, que utilizam essas ferramentas para desestabilizar as eleições e influenciar a opinião pública canadiana”, alertou.
Tais campanhas não só afetam o apoio a candidatos, mas também podem desorientar os eleitores sobre onde votar ou até mesmo desmotivar a participação.
Perante as tensões internas e externas e uma elevada participação eleitoral, estas eleições são vistas como uma das mais importantes na história recente do Canadá.
Cerca de 7,3 milhões dos 28 milhões de eleitores participaram na votação antecipada, entre sexta-feira e segunda-feira, um aumento de 25% em relação às eleições de 2021, quando estão ainda por apurar algumas mesas de voto.