Os nossos antepassados não eram escravizadores

Nunca li Lídia Jorge e, após as suas declarações sobre “os pecados” da época dos Descobrimentos e os males do colonialismo, que mais não fazem do que denegrir a História de Portugal, não tenho um pingo de interesse em explorar a sua obra, se esta perpetuar as mesmas desgraças históricas presentes no seu discurso de 10 de junho. O seu discurso não serve para homenagear Portugal, mas sim como auge da vergonha, promover agendas extranacionais que vilipendiam o próprio país que supostamente representa no Conselho de Estado.

Sendo o descendente de um homem que emigrou para Angola em 1955, considero esse discurso um autêntico murro no estômago de todos aqueles que conciliaram as suas vidas com os nativos, que estabeleceram as suas famílias em harmonia, e onde os casos de discriminação racial eram raros – muito mais raros do que em África britânica ou no Congo Belga.

Para ela, o colonialismo foi uma experiência dolorosa. Tão dolorosa que o governo central subsidiou durante séculos – sobretudo a partir de 1953, com os Planos de Fomento – o desenvolvimento das colónias, em detrimento da metrópole, somando centenas de milhões de contos.

Foi Portugal que introduziu o Cristianismo em África, no Brasil e na Ásia. Muitos indianos do Oriente com apelidos portugueses descendem de católicos que tomaram o nome dos padres que, sob o estandarte de Cristo, percorreram milhares de quilómetros para os batizar. Frank Tannenbaum documentou que o sacramento do matrimónio entre escravos era respeitado, podendo estes inclusive possuir propriedade (para obterem mais informação, podem consultar o seu livro Slave and Citizen: The Negro in the Americas, de 1947). O nosso vocabulário foi introduzido e modificado por línguas existentes – pan em japonês não existiria sem pão.

Foi Portugal, juntamente com Espanha, que se afirmou como um dos grandes, Estados-nação do século XVI ao conquistar o Novo Mundo, dando origem à era do comércio moderno como até então não se conhecia. Mas Lídia, uma socialista cujo negrume é embalado pelo fado, é favorável ao envio de ajuda externa – sob a forma de programas educativos e de saúde – a ditaduras comunistas que outrora fizeram parte do Império Português. Esse tipo de “colonialismo”, curiosamente, conta com o seu apoio declarado.

Não pretendo aqui apresentar uma visão acrítica da História – houve injustiças, como em todo o lado, e o trabalho forçado (sinonimo de escravatura) foi a mais grave. Chego mesmo a afirmar que os Planos de Fomento, entre 1953 e 1974, foram mais prejudiciais do que benéficos. Contudo, Portugal foi quase pioneiro na abolição da escravatura – iniciada em 1836, com os últimos escravos libertados antes de 1878 –, no comércio livre no ultramar, na assimilação pacífica de pessoas de cor em ambientes sociais e laborais ao lado de indivíduos de outras origens e linhagens.

Não, Lídia. Os nossos antepassados não eram escravizadores. Foram sim navegadores, comerciantes, e acima de tudo determinados – muitos de origens humildes (sem com isto querer proletarizar os seus feitos). E, tal como tantos hoje que fogem da pobreza e da ausência de oportunidades no seu país de origem, também eles procuraram uma vida melhor para si e para as suas famílias. Não devemos estar envergonhados, mas sim recordar essas pessoas pela sua audácia. Merecem ser celebrados.

Uma coisa é certa: os romanos estão a exigir reparações a Portugal por usarmos as suas pontes e a sua lingua. Que vergonha!

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