Pessoas com deficiência intelectual discriminadas no acesso à justiça em Portugal

As pessoas com deficiência intelectual são discriminadas no acesso à justiça em Portugal, segundo um estudo no âmbito de um projeto internacional, que denuncia falta de adaptações processuais, ausência de comunicação simplificada ou impossibilidade de haver um intermediário.

© D.R.

O estudo para Portugal é da responsabilidade da FENACERCI – Federação Nacional de Cooperativas de Solidariedade Social e insere-se no projeto internacional “Permitir a inclusão e o acesso à justiça de arguidos com deficiência intelectual e/ou psicossocial”, que envolveu, além de Portugal, a Roménia, Bulgária, República Checa, Eslovénia, Eslováquia, Espanha e Lituânia.

A abordagem metodológica combinou investigação documental e trabalho de campo e, em relação à primeira, os resultados mostram que o quadro jurídico português não contempla a possibilidade de serem feitas adaptações processuais para pessoas com deficiência, “nem especificamente a arguidos ou acusados com deficiência intelectual e/ou psicossocial”, por exemplo, para facilitar a comunicação.

Outra crítica tem a ver com o facto de a lei portuguesa não prever que nos processos que envolvem pessoas com deficiência haja um intermediário ou um facilitador, “uma lacuna jurídica [que] pode comprometer o direito de participação dos arguidos com deficiência”, já que estas pessoas teriam como função acompanhar os arguidos, facilitar a comunicação ou apoiar na compreensão dos procedimentos e na defesa das reivindicações.

“Do mesmo modo, a legislação nacional não permite explicitamente que as pessoas com deficiência sejam acompanhadas por familiares, amigos ou outras pessoas que lhes prestem apoio emocional e moral em todas as fases do processo, se assim o desejarem”, refere a FENACERCI, segundo a qual esta presença “pode desempenhar um papel essencial como facilitadores informais”.

No que diz respeito aos pedidos de adaptações, consoante as limitações da pessoa com deficiência, o relatório aponta que no quadro legal português isso só está previsto no caso dos menores, ou seja, pessoas com menos de 16 anos, o que deixa igualmente de fora crianças com deficiência.

“As crianças com deficiência, tal como todas as outras crianças (12-16 anos) acusadas de crimes, têm o direito de ser acompanhadas e de receber assistência na comunicação, ou seja, de lhes ser prestada informação clara sobre o processo”, defende o organismo.

Por outro lado, critica que a lei seja “omissa quanto ao fornecimento de informações numa linguagem de fácil compreensão às pessoas com deficiência intelectual”, salientando que apenas estão previstas soluções no caso de pessoas com deficiência auditiva ou quando a pessoa tem uma deficiência ao nível da fala, em que é permitido que responda por escrito.

“Não existem procedimentos específicos para prestar apoio em matéria de comunicação às pessoas com deficiência intelectual e/ou psicossocial”, o que significa que a pessoa “está sozinha, perante o juiz, sem qualquer apoio de comunicação para compreender o significado das perguntas que lhe são dirigidas”, refere o relatório.

Apesar de os juízes e procuradores entrevistados terem mencionado que “há um esforço para utilizar uma linguagem clara”, o relatório refere que “estas decisões são tomadas individualmente, de acordo com o senso comum de cada profissional de justiça, sem procedimentos ou diretrizes definidas”.

As quatro pessoas com deficiência que foram ouvidas relataram situações em que a polícia não lhes deu qualquer informação sobre os seus direitos no momento da constituição como arguido ou a família foi impedida de entrar na sala de audiências, além de várias situações em que se sentiram infantilizadas.

Todas apontaram o advogado como um ator fundamental, mas em dois casos houve experiências negativas, com uma situação em que a arguida nunca falou com o advogado e outra que só o viu no dia da audiência.

A FENACERCI faz algumas recomendações, por exemplo que o acesso à justiça das pessoas com deficiência tenha prioridade na agenda política, que o atual quadro jurídico seja alterado para ser possível a existência de um intermediário e que todos os profissionais da justiça penal utilizem uma linguagem simples e acessível em todos os atos processuais.

Apesar de não haver dados oficiais sobre arguidos ou reclusos com deficiência, os números sobre as pessoas inimputáveis (isentas de responsabilidade criminal) mostram um aumento de 42% entre 2016 (266) e 2021 (378).

Últimas do País

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) considerou hoje que a reunião com o INEM "foi muito produtiva" e que em 01 de fevereiro de 2025 haverá um novo protocolo com as regras de transporte de doentes urgentes.
Rúben Oliveira (“Xuxas”) foi hoje condenado a 20 anos de prisão em cúmulo júridico num processo em que estão em causa acusações de tráfico de droga, associação criminosa e branqueamento de capitais.
A Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) alertou hoje para o aumento do número de profissionais em situação ilegal no Serviço Nacional de Saúde e no setor social, onde apenas 4,1% dos dentistas exercem a profissão em hospitais ou centros de saúde.
A Polícia Judiciaria (PJ) recapturou em Trás-os-Montes mais um evadido do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, o português Fernando Ribeiro Ferreira, anunciou a corporação.
A GNR sinalizou entre 01 de outubro e 15 de novembro 42.873 idosos que vivem sozinhos ou isolados, ou em situação de vulnerabilidade, no âmbito da Operação Censos 2024, anunciou hoje esta força de segurança.
A Fenprof quer que o ministério divulgue a eficácia das medidas para reduzir o número de alunos sem aulas, considerando que entre as já conhecidas, umas tiveram "fraco impacto" e outras poderão levar os docentes à exaustão.
Ocorreu uma explosão, possivelmente originada por um equipamento de refrigeração, na esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP) de Portimão, no Algarve, que resultou em dois feridos, informa uma fonte do Comando Regional de Emergência e Proteção Civil.
A formação de técnicos de emergência pré-hospitalar (TEPH) deixará de ser dada exclusivamente pelo INEM a partir de 2025 e será externalizada em colaboração com as escolas médicas, anunciou hoje o presidente do instituto.
O antigo primeiro-ministro alega que o "processo Marquês nunca foi um processo judicial, mas uma armação política -- impedir a minha candidatura a Presidente da República e evitar que o Partido Socialista ganhasse as eleições legislativas de 2015".
O incêndio que deflagrou na quarta-feira numa pensão no centro histórico do Porto causou sete desalojados e há uma pessoa desaparecida, revelou hoje o comandante dos Sapadores Bombeiros do Porto.