“É a primeira vez em toda a história da Quinta República (francesa) que a presidente de um grupo da oposição na Assembleia Nacional é convocada por um motivo tão grave”, declarou Panot em comunicado, alertando “solenemente para esta grave instrumentalização do sistema judicial para amordaçar a expressão política”.
A investigação foi aberta na sequência de uma declaração do grupo parlamentar LFI publicada a 07 de outubro, dia do ataque sem precedentes perpetrado pelo grupo islamita Hamas contra Israel, descrito como “uma ofensiva armada das forças palestinianas” perante “a intensificação da política de ocupação de Israel” nos territórios palestinianos.
O líder da esquerda radical francesa, Jean-Luc Mélenchon, denunciou hoje um “acontecimento sem precedentes” destinado a “proteger o genocídio”, após a convocação de Mathilde Panot.
A notícia surge quatro dias depois da ativista franco-palestiniana Rima Hassan, sétima na lista da LFI para as eleições europeias, ser intimada pela polícia judiciária por “apologia do terrorismo”.
“Penso que não tenho nada a censurar a mim própria, pois sempre me expressei de forma crítica em relação ao Hamas e ao seu ‘modus operandi’ terrorista, mas também em relação a Israel”, declarou Hassan à AFP na sexta-feira.
De acordo com a intimação, revelada pelo jornal Le Monde e consultada pela AFP, Rima Hassan, advogada e especialista em questões de refugiados, foi convocada para comparecer no final do mês “a fim de ser ouvida em liberdade sob a acusação de defesa pública de um ato de terrorismo, cometido através de um serviço público de comunicação ‘online'”.
As alegadas infrações foram cometidas entre 05 de novembro e 01 de dezembro, segundo o documento.
Na semana passada, duas conferências do líder da LFI com a participação de Rima Hassan, sobre a situação atual do Médio Oriente foram canceladas em Lille, no norte de França, primeiro na universidade e depois numa sala privada, com as autoridades francesas a invocarem o risco de “perturbação da ordem pública” pelo aumento das tensões internacionais.
Os membros do partido de esquerda denunciam a manipulação do sistema judicial, alegando que estão a ser obrigados a pagar pelo seu apoio aos palestinianos e pela utilização do termo “genocídio” para descrever a situação em Gaza.
A ofensiva lançada por Israel como resposta ao ataque do Hamas até ao momento já provocou perto de 34.000 mortos, na sua maioria civis, segundo o Hamas, que governa o pequeno enclave palestiniano desde 2007.