Milhares de docentes estão hoje concentrados em frente ao Ministério da Educação, onde decorre mais uma ronda negocial com sindicatos, gritando palavras de ordem e lembrando que “Heróis de verdade não usam capas… ensinam”.
A rua de acesso ao Ministério da Educação está cortada ao trânsito devido ao protesto de milhares de professores de escolas do norte a sul do país e de todos os níveis de ensino que gritam palavras de ordem como “Respeito” e exibem cartazes com as suas principais reivindicações, mas também com mensagens como “Ensinar é um grande tesouro” ou “Heróis de verdade não usam capas… ensinam”.
Carla Ferreira é educadora de infância numa escola de Corroios, está no protesto com as duas sobrinhas que também são professoras e disse à Lusa que depois de 25 anos num colégio privado, começou a trabalhar num jardim-de-infância público para ficar mais perto de casa. Resultado: “Tenho 62 anos e estou no escalão zero”, ou seja, ainda não entrou na carreira docente.
Além da precariedade, Carla Ferreira critica a idade da reforma dos educadores e docentes, dando voz a outra das reivindicações dos professores que iniciaram greves em dezembro do ano passado.
“A reforma com muita idade não faz sentido nenhum. Sou uma educadora de infância com muito empenho, mas já estou cansada” lamentou.
Também a sobrinha, Mónica Simões, que dá aulas numa escola primária do Seixal, diz sofrer na pele o facto de a tutela não aceitar as propostas dos docentes de um regime especial de aposentação.
“A minha grande preocupação tem a ver com a reforma. Imaginar-me com sessenta e tal anos e a ensinar o ‘A, E, I, O U’ será desgastante”, disse.
Mónica Simões também se queixa das dificuldades na progressão da carreira. A professora do 1.º ciclo há 26 anos está “à espera de subir para o 5.º escalão”.
“Tive uma avaliação de quase excelente, mas fiquei retida no 4.º” escalão de uma carreira de dez, disse.
Também Carla Direitinho está retida no 6.º escalão e contou à Lusa que os seus “nove anos de formação superior não valem nada” em termos de salário.
O Ministério da Educação apresentou esta semana uma proposta aos sindicatos no sentido de aumentar a percentagem de docentes que acedem ao 5.º e 7.º escalões, mas os sindicatos exigem a eliminação das vagas de acesso, tal como acontece nas ilhas dos Açores e da Madeira.
A recuperação integral dos anos de serviço que estiveram congelados durante a Troika e a alteração do diploma de mobilidade por doença são outras das reivindicações dos docentes.
A estas reivindicações, a professora de Físico-Química acrescentou outros motivo para hoje sair à rua em protesto, como “a saúde mental dos professores”.
“Não é só pelo dinheiro, mas também pela degradação do nosso ensino e pelo facilitismo”, disse Carla Direitinho.
“Não podemos dar as notas reais aos nossos alunos”, lamentou Carla Direitinho, explicando que “os alunos chegam à faculdade e não tem competência para fazer determinadas coisas que os professores exigem”.
No protesto de hoje estão também pais de alunos, como Sara Esteves, que tem um filho com necessidades educativas especiais.
“Estou aqui por ela e por todas as crianças. Se não respeitarmos os professores, os alunos também não os vão respeitar”, disse Sara Esteves, defendendo que a situação do ensino “está insustentável”.
Antes de entrar para a reunião com a equipa do Ministério, o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) disse hoje não estar otimista quanto às negociações, acusando o ministro de “andar a dormir”, mas “otimista com a luta dos professores” em greve por melhores salários e condições de trabalho.
Os professores iniciaram em dezembro uma greve, tendo como principal reivindicação o fim da ideia de serem os diretores a escolher e contratar os professores para as escolas, mas também outras medidas que se traduzem em acabar com a precariedade, aumentos salariais e melhores condições de trabalho.
As greves foram retomadas no inicio do segundo período, estando neste momento a decorrer três diferentes greves organizadas por vários sindicados sem data de término.
A terceira ronda negocial começou na quarta-feira, dia em que foram recebidos a Federação Nacional da Educação (FNE) e outras cinco estruturas sindicais. Hoje, o dia começou com a Fenprof, seguindo-se agora outras cinco organizações, entre as quais o Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE) e o Sindicato de todos os Profissionais de Educação (STOP), que também convocaram as greves.