“O Estado virou-nos as costas”. Jovens desiludidos pensam em emigrar

Estudam, esforçam-se, querem ficar, mas são empurrados para fora por um Estado que os ignora. Os jovens portugueses sentem-se abandonados, desvalorizados e traídos por um país que investe mais em quem vem de fora do que em quem cá nasceu.

©️ Folha Nacional

Portugal está a perder os seus filhos. Jovens com talento, ambição e orgulho nacional são cada vez mais empurrados para fora do país por um Estado que teima em fechar os olhos aos seus problemas e às suas necessidades.

De acordo com um estudo divulgado este ano pelo Centro de Estudos da Federação Académica do Porto (CEFAP), são mais de 73% os jovens que ponderam emigrar após concluírem o Ensino Superior, com a maior parte a optar por países onde os salários são mais atrativos, quando comparados com os de Portugal. De acordo com o mesmo estudo, se estes jovens emigrarem, o país poderá perder 95 mil milhões de euros ao longo da próxima década.

A mesma fonte refere ainda que a maior parte dos alunos inscritos no ano letivo transato considera provável ou muito provável emigrar, sendo que cerca de 25% já decidiu mesmo que vai abandonar Portugal em busca de melhores condições de vida. De referir que apenas 10% dos inquiridos responderam que, garantidamente, ficarão em Portugal.

Face a este cenário, o Folha Nacional falou com vários jovens ao longo dos últimos meses e o retrato que encontrámos é alarmante: um país que já não lhes dá futuro, um Governo que prefere ignorar os seus e que entrega a nacionalidade de mão aberta a quem mal fala a língua portuguesa.

Quando se pergunta “porque pensas sair de Portugal?”, as respostas são duras e diretas: “São todas as situações e mais algumas”, diz uma jovem mãe. “O Estado virou-nos as costas. Vive-se com a corda ao pescoço”, acrescenta.

Para muitos jovens, a questão já não é “se” irão emigrar, mas “quando”. A decisão é pesada pela falta de perspetivas, pelos salários baixos, pelas rendas altíssimas e por um sistema que, na opinião de muitos, favorece os que menos contribuem. Um dos entrevistados desabafa: “Neste momento, parece que temos de ser de tal forma inclusivos que os portugueses estão a perder o seu espaço. Sinto-me cada vez mais estrangeiro no meu próprio país.”

Dizem os jovens que Portugal deixou de investir nos seus, passou a depender de mão-de-obra estrangeira, muitas vezes sem qualificações, vinda de contextos totalmente diferentes dos nossos. Um dos jovens relatou-nos aquela que é a sua experiência: “Trabalho numa exploração agrícola e posso afirmar que a mão-de-obra é barata porque não tem qualidade. Escondem-se do trabalho, são apanhados a dormir, roubam. No fim, o barato sai caro”.

Um dos jovens com quem falámos, estudante universitário, aponta o dedo ao sistema: “Estamos a formar jovens com altas qualificações que depois vão trabalhar para fora. É um desperdício de recursos pagos por todos nós.” E pergunta: “Para quê estudar tanto se o país não nos valoriza? Os nossos pais com 20 anos tinham casa. Eu aos 22 ainda nem trabalho tenho”.

A culpa está no desinteresse político, garante uma jovem: “Os políticos não percebem os nossos problemas porque não vivem no nosso mundo. Têm os filhos em colégios privados, casas herdadas e empregos garantidos. O resto do povo que se aguente.” E, nesta senda, lamenta: “Os políticos estão preocupados em melhorar a vida deles. Como os problemas dos jovens já não lhes tocam, simplesmente não querem saber.”

Mais do que a falta de oportunidades, o que revolta é a sensação de injustiça. Um exemplo gritante que uma jovem nos transmitiu: “Quando fui mãe, recebi 137 euros do Estado. A minha vizinha de etnia cigana, que nunca trabalhou, recebia perto de 900 euros. Até me perguntou se queria ser prima dela”, partilhou. “Os apoios deviam ser para quem precisa, mas parece que há cidadãos de primeira e de segunda”, lamenta. Outro caso semelhante revela o mesmo padrão: “Quando pedi apoio ao Estado, recusaram-mo porque vivia com os meus avós reformados. Disseram que eles tinham a obrigação de me sustentar. Que Estado é este?”

Esta perceção de desigualdade tem um peso enorme nas decisões de emigrar. Para muitos, só não o fazem porque ainda não apareceu “aquela” oportunidade. Mas a vontade está lá. E o orgulho em ser português já não chega para compensar a frustração.

“Tenho orgulho na nossa história, nos nossos símbolos, mas não posso dizer que me sinto orgulhosa do Portugal de hoje. Já qualquer um pode ser português. A nossa identidade está a desaparecer e o nosso lugar está a ser ocupado por outros.”, desabafa uma jovem. Outro entrevistado, mais direto, afirma: “Vejo mais preocupação em agradar a quem chega do que em proteger quem cá está desde sempre.”

O que os jovens pedem não é luxo, são condições básicas para viver com dignidade. Habitação acessível, salários justos, transportes públicos que funcionem, creches com vagas, um SNS que trate em vez de empurrar para filas de 10 horas. Pedem mais segurança, especialmente para as famílias, e menos facilitismo na imigração sem controlo.

“Não é ser contra quem vem de fora”, explica um jovem alentejano, “mas é perceber que não podemos ser substituídos por quem aceita trabalhar por menos e nem se esforça por se integrar”. Para muitos, “o barato sai caro”, porque a qualidade do trabalho e a segurança da comunidade ficam comprometidas.

Um dos jovens resume o sentimento de muitos: “Se pudesse, ficava. É o meu país. Mas Portugal precisa de cuidar de quem cá está e de priorizar sempre os portugueses. Precisamos de mais escolas e menos mesquitas, mais apoios à família e menos subsídios para quem não quer trabalhar.”

No meio deste cenário, uma coisa fica clara: os jovens ainda acreditam que é possível mudar, mas não com os mesmos de sempre no poder. “A mudança tem de vir da política e de quem realmente nos ouve. Precisamos de alguém que ponha os portugueses primeiro, sem medo de dizer as verdades”.

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