“Se a metodologia que estamos a desenvolver funcionar para o vírus da gripe, é possível que funcione também para outros vírus”, adiantou Maria João Amorim, investigadora e vice-diretora do Centro de Investigação Biomédica da Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa.
A vice-diretora do centro, que lidera a equipa que trabalha nesse projeto, adiantou à agência Lusa que a investigação pode vir ser útil para diversas doenças infecciosas para as quais ainda não há vacinas disponíveis, sendo o tratamento feito com antivirais, como o VIH, o Zika e Herpes simplex e vírus hemorrágicos como o Nipah, o Marburg ou o Lassa.
Segundo a docente da Faculdade de Medicina da Universidade Católica, o genoma do vírus da gripe, ao contrário do SARS-CoV-2, por exemplo, está dividido em oito partes diferentes.
Os investigadores constataram que esses compartimentos têm propriedades semelhantes às dos líquidos, o que permite que as moléculas se movam livremente e, desta forma, cada parte do genoma possa encontrar os seus outros sete interatores, um processo essencial para que o vírus se torne infeccioso.
A partir desta descoberta, os investigadores concluíram que dissolver ou endurecer estes condensados pode impedir a replicação viral.
Na prática, trata-se de “bloquear a capacidade do vírus de criar o genoma porque endurecemos estas estruturas, tiramos-lhe o dinamismo. E a partir daí deixa de haver infeção pelo vírus da gripe”, salientou.
“Da primeira estratégia antiviral, que é fazer o endurecimento de determinadas estruturas dentro da célula, já sabemos que funciona e já sabemos qual é a melhor forma de o fazer, o que já é um passo em frente muitíssimo grande”, salientou Maria João Amorim.
Na prática, passa por conseguir impedir o vírus de formar o seu genoma, referiu a investigadora, para quem esta descoberta pode contribuir para evitar futuras epidemias.
De acordo com Maria João Amorim, esta descoberta permitirá tratar as pessoas doentes e, desta forma, “permite que elas não infetem a próxima pessoa com tanta eficiência ou pelo menos tantas pessoas”.
O Centro de Investigação Biomédica realçou ainda que os antivirais que venham a ser desenvolvidos poderão proteger pessoas não vacinadas, reduzir a gravidade da doença em infetados e controlar a propagação de vírus respiratórios e emergentes, reforçando a resposta da saúde pública perante futuros surtos.
Estas abordagens inovadoras procuram ultrapassar as limitações dos antivirais atuais, como a resistência e o espetro de ação reduzido, com o objetivo de identificar novos alvos virais que permitam desenvolver terapias eficazes contra vários vírus respiratórios, reforçou Maria João Amorim.