A poucas semanas do início das primeiras eleições para a escolha do candidato Republicano para a corrida à Casa Branca, Trump resolveu manter a sua decisão de não participar em qualquer debate televisivo, na posição de melhor posicionado nas sondagens, muito à frente de qualquer um dos outros nomes.
Analistas ouvidos pelo New York Times são coincidentes na opinião de que a estratégia de Trump de ficar longe do debate — na quarta-feira realizou um comício com apoiantes à mesma hora – continua a ser um sucesso.
“Este debate praticamente resolveu a disputa a favor Trump”, disse Michael McDonald, um professor da Universidade da Flórida especialista em eleições norte-americanas, na rede social X. Os candidatos presentes, argumentou, “estavam demasiado assustados para o enfrentar”.
Num balanço de vencedores e derrotados do debate, também o Washington Post e o site informativo The Hill colocam Trump como o vencedor do debate, tal como em debates anteriores.
“A liderança de Trump só tem continuado a expandir-se, e os candidatos continuam a ser avessos a até mesmo realmente tentar atacá-lo”, afirma Aaron Blake, jornalista do Washington Post.
O jornalista do Post coloca como derrotados de quarta-feira o segundo melhor candidato nas sondagens, Ron DeSantis, governador da Florida, e Nikki Haley – ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora dos EUA na ONU, que nas últimas semanas tem subido nas intenções de voto entre Republicanos, tornando-se a terceira posicionada.
Apesar de críticas a Trump, exemplifica o Washington Post, Haley e DeSantis foram “cautelosos”, o que “não é surpreendente”. “Tem sido assim toda a corrida, e os candidatos estão obviamente preocupados com a alienação dos apoiantes de Trump. Mas não funcionou. E eles ainda não encontraram a receita para criticá-lo, mesmo de forma subtil, de uma forma que o atinja”, refere o balanço do jornal norte-americano.
No debate televisivo — transmitido pela cadeia televisiva NBC, a partir de Miami, Florida – Haley — tirou proveito da sua experiência em política externa e envolveu-se em discussões acaloradas. Num dos momentos mais animados do espetáculo televisivo, Haley disse que Vivek Ramaswamy era “escória”, a propósito de observações deste sobre a filha daquela e sobre a rede social TikTok.
Horas depois do fim do debate, os analistas elogiaram Haley pela sua postura pragmática em relação ao aborto — um dos temas centrais, sobretudo depois dos resultados das eleições locais desta semana, em que o Partido Republicano foi prejudicado pela sua posição de obstaculização ao acesso à interrupção voluntária da gravidez.
DeSantis apareceu combativo, trazendo para a discussão o tema do relacionamento que os EUA devem ter perante as ambições expansionistas da China, mas também o que fazer no conflito no Médio Oriente e perante a invasão russa da Ucrânia.
O senador Tim Scott manteve uma postura conservadora, defendendo a proibição federal do aborto após 15 semanas, mas guardou as observações mais duras para se referir ao Irão e à forma como este país tem desestabilizado o Médio Oriente, apelando a uma posição mais forte da Casa Branca perante o financiamento do terrorismo no exterior.
Chris Christie — ex-governador conhecido pela sua posição crítica sobre Trump — voltou a criticar a ausência no debate do ex-presidente, mas adotou uma abordagem menos conflituosa e opiniões mais moderadas sobre política externa, demarcando-se de Scott quando este defendeu que Washington devia atacar diretamente Teerão.
Em sentido contrário, o empresário Vivek Ramaswamy apareceu no palco com uma postura de ataque a todos os adversários destas primárias, com exceção de Trump, com quem continua a manter uma explícita deferência.
Em foco no debate, e por várias vezes, esteve o atual Presidente, Joe Biden, que foi alvo de severas críticas, sobretudo pela forma como a Casa Branca tem lidado com a situação económica — um dos trunfos dos Republicanos contra os Democratas, numa altura em que as sondagens indicam que os norte-americanos fazem uma apreciação muito negativa sobre a economia dos EUA, que continua a enfrentar dificuldades em controlar a inflação.