Jordânia diz que Telavive “não quer falar nem ouvir”

O chefe da diplomacia jordana afirmou hoje que Israel “não quer falar nem ouvir”, a propósito do boicote à reunião da União para o Mediterrâneo (UpM), mas avisou que Telavive terá de responder pelos “crimes de guerra em Gaza”.

© Facebook Israel Reports

“Israel escolheu não vir, estão a boicotar este evento, é a sua decisão. Vemos Israel a atacar todos os que não concordam com eles – secretário-geral [das Nações Unidas] Guterres, [o chefe da diplomacia europeia] Josep Borrell -, qualquer pessoa que não esteja a subscrever a agressão israelita ou mesmo quem esteja a apelar a um cessar-fogo”, disse hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia, Ayman Safadi, questionado pela Lusa após um encontro com os homólogos português, João Gomes Cravinho, e eslovena, Tanja Fajon, em Amã.

O governante jordano deu o exemplo da “reação israelita à posição muito razoável, prática, baseada nos valores e saudável do ponto de vista político, dos primeiros-ministros de Espanha e Bélgica”, comentou, aludindo à decisão de Telavive de chamar os embaixadores espanhol e belga por declarações dos respetivos primeiros-ministros, numa visita a Israel esta semana, que viu como um “apoio ao terrorismo”.

“Israel não quer falar e não está a ouvir, neste momento, mas vai ter de enfrentar as responsabilidades dos crimes de guerra que está a cometer em Gaza e que consideramos que se integram no conceito da definição legal do genocídio”, salientou o ministro jordano, que co-preside, com Josep Borrell, à reunião da UpM, que decorre na próxima segunda-feira em Barcelona.

O encontro junta os 27 membros do bloco europeu e 15 países do Mediterrâneo, incluindo a Autoridade Palestiniana, e deveria debater o 15.º aniversário da organização e “as reformas em curso”, mas o programa passou a ter como ponto único “a situação crítica em Israel e em Gaza-Palestina, assim como as consequências na região”.

Dada a mudança de agenda, Telavive decidiu cancelar a sua participação, considerando que a alteração “corre o risco de transformar [a UpM] noutro fórum internacional em que os países árabes criticam Israel”.

Segundo o ministro jordano, o encontro “vai permitir uma conversa franca e aberta entre vizinhos e parceiros, sobre como terminar esta guerra e responder ao impacto humanitário catastrófico, primeiro nos palestinianos que sofrem horrores nunca vistos cometidos pela guerra israelita”.

Israel, sublinhou, “não pode ter a possibilidade de vetar conversas ou de evitar que a comunidade internacional faça o que está no seu interesse, que é uma paz justa e duradoura na base da solução dos dois Estados”.

Os participantes deverão debater a resposta humanitária e “como avançar deste momento terrível para um plano para a paz que garanta que ninguém na região tem de voltar a viver os horrores a que estamos a assistir”.

“Vamos tomar uma posição contra esta guerra terrível e pela paz. Vamos ver como podemos trabalhar com os parceiros europeus, que sempre tiveram um papel crucial no esforço de paz, para de uma vez por todas termos um plano de paz”, disse Ayman Safadi.

“Não vamos continuar a falar sobre um processo. Tem conotações muito negativas, estivemos num processo durante 30 anos e não nos levou a lado nenhum”, acrescentou.

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