Em entrevista à agência Lusa a propósito do seu livro “Não Há Missões Impossíveis” sobre as operações das forças especiais israelitas, Bar-Zohar defendeu que após a guerra o atual primeiro-ministro, com o qual trabalhou no parlamento enquanto deputado, deverá perder o lugar.
“O primeiro-ministro Netanyahu está sob fogo cerrado. Não é muito popular e não sei quanto tempo irá manter a sua posição”, disse. “É um homem muito inteligente. Foi um bom primeiro-ministro, mas atualmente há muitas críticas contra ele”.
Netanyahu lidera o governo mais extremista desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, que une políticos da direita radical sionista e ultraortodoxos.
Antes do despoletar da guerra entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas, em 07 de outubro, o atual primeiro-ministro estava a ser contestado nas ruas pela sua polémica reforma judicial, que reforçaria os poderes do parlamento sobre a Justiça.
Bar-Zohar descreve Netanyahu como “um homem muito corajoso do ponto de vista da coragem física”, mas ressalva que “na política, ultimamente, ele mudou”.
“O atual primeiro-ministro esteve de facto no Comando Especial. Era um combatente muito corajoso, e o seu irmão, Yoni, era o chefe do Comando Especial, que foi morto em Entebbe durante o resgate dos reféns”, afirmou.
“De momento, enquanto a guerra durar, não queremos ter todo o tipo de discussões ou inquéritos sobre o que aconteceu a 07 de outubro, porque é muito doloroso para nós. Atualmente, temos de nos concentrar, infelizmente, na guerra, e depois da guerra haverá, penso eu, um inquérito muito profundo sobre o que aconteceu e quem deve pagar o preço”, continuou.
Bar-Zohar, de 85 anos, acredita que faltam hoje líderes como os seus amigos pessoais Shimon Peres, o oitavo primeiro-ministro de Israel, Moshe Dayan, antigo ministro da Defesa, e ainda David Ben-Gurion, o fundador do Estado de Israel. “Hoje, já não há pessoas deste calibre, nem em Israel, nem em Portugal, nem em lado algum do mundo”, afirmou.
O antigo militar foi membro do Knesset, o parlamento israelita, representante do país no Conselho da Europa e conselheiro para a comunicação social de Moshe Dayan.
Autor de mais de 30 obras, escreveu juntamente com Nissim Mishal, “Não Há Missões Impossíveis”, lançado em 2015 e traduzido para português em outubro deste ano.
Apesar da atual crise, Bar-Zohar considera-se “muito otimista” em relação ao futuro de Israel e à paz com os países vizinhos.
“Devo dizer com toda a franqueza, quando cheguei a Israel [em 1948], era um país com 650.000 habitantes, sem economia, sem exército, sem nada. E estou a olhar para hoje, somos cerca de 9 milhões. Temos uma indústria muito boa. Um exército que considero o mais forte do mundo. Temos uma boa cultura”, declarou.
“Temos os árabes israelitas, cerca de 2 milhões de árabes que vivem em Israel ou são cidadãos israelitas. Estão muito bem”, e “esta ligação entre as duas comunidades é boa”, afirma.
Bar-Zohar nasceu na Bulgária em 30 de janeiro de 1938, e em 1948 mudou-se para Israel. Participou na missão que atravessou o canal do Suez, na Guerra do Yom Kippur, no primeiro barco em direção ao Egito.