Direita radical em crescimento enfrenta teste eleitoral no Reino Unido

As eleições autárquicas britânicas e a legislativa parcial em Blackpool South na quinta-feira vão ser um teste de popularidade ao Partido Reformista, de direita radical, que tem vindo a registar uma subida nas sondagens, ameaçando o Partido Conservador. 

© Facebook de Richard Tice

 

O Partido Reformista [Reform Party] substituiu o Partido do Brexit depois concluído o processo de saída do Reino Unido da União Europeia (UE), em 2021, e até agora o impacto nas urnas tem sido residual, elegendo apenas alguns autarcas a nível local.

Mas a formação, mesmo sem Nigel Farage à frente, tem vindo a ganhar vitalidade nos últimos meses e conseguiu colocar um deputado na Câmara dos Comuns graças à deserção do antigo vice-presidente do Partido Conservador, Lee Anderson.

O apoio ao Partido Reformista duplicou no último ano, à medida que aumentou o tom das críticas ao Governo em questões como a política fiscal e a imigração, subindo para terceiro lugar a nível nacional.

Além de defender uma descida de impostos e maior controlo da imigração, é contra as atuais metas de redução da poluição para combater as alterações climáticas.

Segundo o agregador de sondagens do site Politico, os reformistas recolhem 13% das intenções de voto, mais de metade do valor (22%) registado pelos ‘tories’ liderados pelo primeiro-ministro, Rishi Sunak, e acima dos Liberais Democratas (9%) e Verdes (6%).

Os analistas antecipam que o Reform possa desviar votos do Partido Conservador em algumas localidades e até na circunscrição parlamentar de Blackpool South, sobretudo no norte de Inglaterra, onde os eleitores são mais eurocéticos e anti-imigração.

Enquanto em 2019 o Partido do Brexit optou por não lançar candidatos em competição com conservadores, este ano o líder Richard Tice afirmou que o objetivo do Reform nas próximas legislativas é “esmagar” os ‘tories’ e reconfigurar a política no Reino Unido.

A professora de ciência política da universidade London School of Economics (LSE), Sarah Hobolt, disse à Agência Lusa que, mais do que nas autárquicas, as atenções vão estar no desempenho do Reform na parlamentar parcial de Blackpool South.

A eleição foi desencadeada pela demissão do deputado conservador Scott Benton após violar as regras de lóbi.

Uma vitória dos Reformistas seria um “grande feito” porque o partido ainda tem um reconhecimento público bastante baixo” e talvez convencesse Nigel Farage a voltar à política ativa, ironizou Hobolt.

“Blackpool é uma das cidades mais carenciadas do Reino Unido. É um lugar que votou em peso pelo Brexit e o Reform deve sair-se razoavelmente bem. A questão é saber os reformistas vão roubar apenas votos aos conservadores ou também aos trabalhistas”, explicou Tony Travers, outro académico da LSE.

Travers referiu que em algumas sondagens no norte e centro de Inglaterra, o Partido Reformista está à frente dos conservadores entre os eleitores masculinos mais velhos.

Ambos os analistas consideram que o favorito em Blackpool South é o Partido Trabalhista, tendo em conta a grande vantagem nas sondagens, e que seria uma surpresa o Reform ganhar ou mesmo ficar em segundo.

“Se o Reform ganhasse, seria um momento de galvanização para a política britânica. Penso que seria um sobressalto, porque sugeriria a possibilidade de dar um salto em frente, criando mais um problema para os conservadores”, alertou Travers.

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