Inteligência artificial vai mudar métodos de ensino e avaliação nas universidades

Os avanços na inteligência artificial (IA) vão mudar os atuais modelos de ensino e avaliação nas universidades, obrigando a um controlo de qualidade ao trabalho realizado pelos estudantes, defendeu um especialista da Universidade de Coimbra (UC).

©D.R.

Questionado pela agência Lusa sobre os mecanismos ao dispor das universidades portuguesas para detetarem e avaliarem situações em que um estudante possa utilizar os recursos tecnológicos, baseados em inteligência artificial, para o ‘substituírem’ na elaboração de trabalhos, Paulo de Carvalho, coordenador do mestrado em Engenharia e Ciência de Dados da UC, considerou-a uma questão “absolutamente central”, mas notou que não existe “uma resposta muito fácil” para o problema.

“Aquilo que costumo dizer aos meus alunos e aos meus colegas é que não vale a pena fazer de avestruz, enterrar a cabeça na areia e fazer de conta que isso não existe. Existe e temos de potenciar isso, recorrendo a novos modelos de ensino e aprendizagem”, vincou o docente do Departamento de Engenharia Informática (DEI) da Universidade de Coimbra.

O professor enfatizou que o modelo tradicional de aulas, nomeadamente nas áreas tecnológicas, já não faz muito sentido no mundo atual: “Muito mais do que transmitir conhecimentos, temos de ensinar os alunos a aprender e a aprender de forma autónoma”, destacou, observando que os novos métodos “deslocam o centro da atividade do docente de uma vertente mais expositiva para uma vertente de controlo de qualidade”.

Este controlo de qualidade pode fazer-se por provas escritas tradicionais ou por provas orais onde os estudantes tenham de demonstrar, de forma prática, os conhecimentos adquiridos.

“A chave está aí, no controlo de qualidade. Neste momento, um aluno entrega-me um trabalho e eu não quero saber quem o fez, quero saber, em primeiro lugar, se o aluno o entendeu e, em segundo lugar, se o consegue estender. E isso passa, por exemplo, por realizar provas orais e obrigar o aluno, em tempo real, a fazer determinadas alterações, que obviamente não serão muito grandes, mas que, para alguém que domina o trabalho, consegue intervir sobre o produto que nos é apresentado”, exemplificou Paulo de Carvalho.

Doutorado em Engenharia Informática pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC desde 2002 — instituição onde se licenciou em 1992, ainda antes da criação do DEI (departamento que celebrou, esta semana, 30 anos), e mestre em Sistemas e Automação – Paulo de Carvalho defendeu que o controlo de qualidade “tem de ser muito personalizado”, obrigando a uma proximidade maior aos alunos.

“Não podemos usar aqueles modelos de ensino massificado, avaliações massificadas, como usávamos no passado”, argumentou o docente.

Notou ainda que a cultura de proximidade, “onde há uma grande interação com os alunos”, existe no DEI desde a fundação do departamento em 1995, ao nível da aprendizagem e da investigação.

“Isso faz parte do nosso DNA e, na informática, tem de fazer, necessariamente. Na informática não se aprende lendo, aprende-se fazendo, operacionalizando os conhecimentos, isso é parte integrante da nossa cultura”, disse.

A necessidade de adaptação às inovações tecnológicas desenvolvidas em pouco mais de uma década, concretamente pela inteligência artificial, está também a mudar estruturalmente o trabalho realizado nas universidades portuguesas, adiantou Paulo de Carvalho.

“Está a mudar de uma forma bastante estrutural e é uma mudança de que o próprio mercado começa a precisar”, alegou, exemplificando que, até há poucos anos, a porta de entrada para o mercado de trabalho de um estudante ou de um graduado em engenharia informática era a programação.

Atualmente, observou, grande parte da programação é feita com recurso a ferramentas de inteligência artificial como o ChatGPT (da OpenAI) ou o CoPilot (Microsoft), que permitem produzir código muito mais rapidamente daquilo que sucedia há 10 anos.

“Isto é uma prática que se está a instituir não só ao nível das universidades, mas também ao nível da indústria e faz todo o sentido. Mas levanta outro nível de questões, que é saber se estes programadores compreendem o código que estão a integrar”, reconheceu.

Na prática, acrescentou, as universidades deixam de formar alunos para tarefas de baixo valor acrescentado, passando a formá-los para desempenhos de alto nível, embora, reafirmou Paulo de Carvalho, o principal desafio esteja na garantia da qualidade.

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