“Sabemos o que enfrentamos e o que eles (regime) estão dispostos a fazer (…) Ouçam-me bem: sabemos o que temos de fazer e estamos a fazê-lo. A única coisa que lhes resta é recorrer à repressão e a essas argúcias baseados no medo (…) temos as nossas ações muito bem pensadas para ultrapassar todos os obstáculos, um a um”, disse Machado numa conferência de imprensa em Caracas.
Machado, que em outubro venceu as primárias da oposição para eleger o candidato que enfrentará Maduro nas presidenciais, foi na sexta-feira desclassificada pelo Supremo Tribunal de Justiça (STJ), com efeitos desde 2021 e por 15 anos.
“É óbvio que vão fazer tudo para tentar impedir a minha candidatura. Já o dissemos antes das primárias e repetimo-lo hoje: Nicolás Maduro não vai escolher o candidato do povo, porque o povo já escolheu quem é o seu candidato”, frisou.
“Promovemos o respeito e construímos confiança. É por isso que as bases do chavismo estão a vir para cima de nós e é por isso que o regime está a reagir desta forma (…) Isto já está a acontecer nas fileiras intermédias do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, o partido do Governo)(…) É esse o terror do regime”, disse.
Machado acusou o Governo de, ao mantê-la desqualificada, violar o acordado em outubro de 2023 com a oposição em Barbados.
“Mais uma vez, estão a violar o que acordaram, (…) faltaram à sua palavra, mudaram de funcionários, prenderam (seis) os nossos colaboradores, vandalizaram as nossas sedes, ameaçaram contratados, violaram procedimentos, inventaram documentos e emitiram uma decisão que não pode ser chamada de sentença, nem de arbitrária, chama-se delinquência judicial e é preciso chamar as coisas pelo seu nome”, disse.
A opositora disse ainda que “com esta decisão grotesca (…) o regime arrasta todos esses magistrados com uma sentença que vão recordar toda a vida” e denunciou que recorreram “à tortura contra militares no ativo ou reformados, para apontar-lhe com o dedo e a outros venezuelanos por conspirações que inventam para perseguir inocentes”.
“A simpatia que os membros das forças armadas têm pelo nosso projeto não tem nada a ver com conspirações, mas com aspirações a ter uma instituição que seja respeitada e onde possam trabalhar com dignidade ao serviço (…) Daí o apoio, também no seio das forças armadas e das suas famílias, a uma transição democrática, ordenada, através de eleições”, explicou.
À comunidade internacional instou a “travar” as “ações de Maduro, que recorre ao terror porque tem medo de se medir” com a oposição e pediu “que tomem medidas concretas para garantir umas eleições limpas, livres e competitivas” na Venezuela.
A Organização de Estados Americanos (OEA) condenou no domingo a decisão das autoridades venezuelanas de bloquear a candidatura presidencial da líder da oposição, que afirma eliminar qualquer possibilidade de uma eleição “livre e justa” este ano.
A decisão contra María Corina Machado, bem como a recente “acusação e prisão política de opositores”, são evidências de que o governo do presidente Nicolás Maduro “não tem intenção de permitir” uma eleição livre, como se havia comprometido no âmbito de um acordo que lhe valeu algum alívio das sanções económicas impostas pelos Estados Unidos, afirmou a OEA.
A Iniciativa Democrática de Espanha e das Américas (IDEA), que reúne antigos e atuais chefes de Estado e de Governo, criticou no sábado a decisão do STJ, considerando que “Machado, de acordo com as regras da democracia, continua a ser a legítima representante da oposição na Venezuela e a sua candidata presidencial perante a comunidade internacional, que respeita o Estado democrático, de direito e constitucional e venceu eleições primárias por uma maioria determinante”.
Segundo o IDEA, “a atuação da ditadura de Nicolás Maduro Moros, através de um STJ cuja direção acaba de ser confiada a uma militante do partido no poder, antiga vereadora, sem prática jurídica nem formação judiciária nem académica, prova o seu reiterado desprezo pelos elementos essenciais e componentes fundamentais da democracia, consagrados na Carta Democrática Interamericana”.