Em entrevista à Lusa, o presidente executivo (CEO) da Vodafone Portugal aborda a consolidação do setor das telecomunicações, considerando que na Europa será “inevitável”, diz que a operadora continuará em Portugal e que espera que os reguladores e o Governo entendam a atual situação do setor e que contribuam para que este continue a evoluir.
“A Vodafone tem investido todos os anos mais de 250 milhões de euros” em Portugal, afirma Luís Lopes.
Além disso, “temos também uma base de pessoas, de colaboradores, que não só trabalham para a Vodafone Portugal, mas temos quase um terço das pessoas a trabalhar para empresas fora do grupo”.
Apesar de um “contexto difícil, nós temos um peso significativo no investimento que fazemos e no papel que Portugal tem para com” a exportação de serviços, de propriedade intelectual, entre outros, adianta.
“Agora também tenho que o dizer que os acionistas ou o acionista Vodafone tem visto com não especial, enfim, atratividade o investimento em Portugal por vários motivos e, portanto, também me compete a mim, e trabalhando com as diferentes entidades em Portugal, seja o Governo, seja reguladores”, entre outros, “e tentar mudar essa perceção” de que “Portugal não é um país bom para investir”, sublinha.
E esse risco de se considerar que o país não é bom para investir existe, “em particular durante muitos anos (…) a regulação em Portugal do setor das telecomunicações foi um problema significativo”, admite o CEO.
Contudo, há mudanças, “em particular no regulador setorial com a nova administração”, diz, aludindo à nova presidente da Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), Sandra Maximiano, que assumiu as funções no final do ano passado.
“Vemos uma muito maior abertura a diálogo, há com certeza pontos em que discordamos com o regulador, mas o importante é que esse diálogo exista e eu vejo esse diálogo agora a existir”, sublinha, admitindo a possibilidade de uma “evolução positiva”.
Já quanto ao negócio da Nowo, “é mais uma vez uma história que não vai contribuir e não contribui para esta perceção do país ser um bom local para investir”, aponta, isto porque “ninguém consegue perceber” a decisão do chumbo da Concorrência.
“É difícil os nossos acionistas lá fora, não lhes consigo explicar porque é que uma operação desta dimensão tem este impacto. E depois mais uma vez” questionam-se se será dos reguladores em Portugal, se deviam investir no país, relata, o que se traduz numa “coisa complicada”.
“E é esse o debate que eu gostava que não existisse, pelo contrário, que fosse um país em que queremos investir todos”, defende, admitindo que, contido, que Portugal atraiu “algum investimento, em particular nas infraestruturas de telecomunicações”, que são as “melhores” da Europa.
Questionado se já partilhou destas preocupações com o Governo, o CEO disse que ainda não.
“Ainda não tive oportunidade de me reunir com o novo Governo”, que “está em funções há muito pouco tempo”, considera.
Luís Lopes recorda que o setor das telecomunicações na Europa tem sido dos “menos atrativos do ponto de vista de investimento” e que os “investidores têm fugido”, de um modo geral, pelo que o seu retorno acionista “é pior” do que a agricultura, entre outros.
“É o setor tem que tido piores retornos”, onde “muitas vezes [se investe] bem mais de 20%” das receitas todos os anos, explica.
Ao longo da última década, “o setor das telecomunicações tem tido rentabilidades abaixo do próprio custo de capital, o que quer dizer mais valia ter posto o dinheiro a render noutra coisa do que ter investido numa rede de telecomunicações”, aponta.
Em alguns países o problema “ainda é mais pronunciado do que noutros”, como é o caso do espanhol ou do italiano, mercados onde a Vodafone vendeu as suas operações já que as perspetivas de rentabilidade do investimento eram relativamente reduzidas.
“Por exemplo, em Itália, o que se fez foi uma venda a outra empresa, mas há uma consolidação”, prossegue, referindo que esta é uma forma de obter ganhos de eficiência e “com isso produzir um pouco melhores retornos que possam justificar os investimentos”.
Nesse sentido, como é que a Vodafone vê como acionista no caso de não haver consolidação da Nowo com a subsidiária portuguesa?
“A Nowo não é uma empresa que nos fosse mudar substancialmente o perfil (…), não é uma questão de vida ou morte para a Vodafone Portugal (…), agora haver um regulador que se opõe a esta transação, obviamente levanta a questão: será que este país é atrativo ou não é atrativo numa ótica de investimento”, lança a questão.
Na Europa, a consolidação “é inevitável”. Até porque o bloco europeu “tem centenas de operadores de telecomunicações, em oposição a mercados como, por exemplo, os Estados Unidos, que têm três grandes operadores de telecomunicações e um mercado interno do tamanho da Europa”, argumenta.
Por isso, “os operadores americanos funcionam com muito mais eficiência por escala, têm mais retorno, conseguem atrair mais investimento, investir com mais rentabilidade e criam um círculo virtuoso”. Mas se na Europa “não houver consolidações, eu temo que o setor nalgum momento vá ter um problema muitíssimo mais sério do que algumas pessoas hoje em dia vêm”, adverte.
“Num país em que são construídas três/quatro/cinco redes, dificilmente” estas “vão ser rentáveis” e, portanto, “algum operador ou alguns operadores ou todos os operadores acabam por não ter rentabilidade sobre o investimento que fizeram dessas infraestruturas acima do tal custo capital. E quais é que vão ser? Em alguns países acabam por ser todos”, defende Luís Lopes.
Sobre o que espera dentro de três anos, assevera que “a Vodafone vai continuar a sua senda” como quando começou, há 30 anos, “que é ter as melhores redes de infraestruturas no país”.
“Fomos pioneiros em muitas coisas neste país, iremos continuar a ser, somos uma referência dentro da Vodafone para aquilo que fazemos, temos um enfoque muito grande na qualidade de serviço que prestamos aos clientes”, pelo que a mensagem é que “daqui a três anos a Vodafone estará em Portugal”, reforça.
“Acredito fortemente, continuaremos em Portugal, espero que os reguladores e o Governo criem e entendam esta situação do setor e que possam também contribuir para que o setor continue a evoluir, não só criando oportunidades para consumidores”, para que as “empresas beneficiem destas tecnologias, mas que os operadores também tenham os incentivos para continuar a investir como investiram até agora”.
A tecnologia está sempre a evoluir “e a competitividade do país depende em grande medida do setor das telecomunicações e da saúde do setor”, remata.