Com 112.395 alunos inscritos no ensino profissional, entre os mais de 350 mil estudantes do secundário, Portugal quadruplicava em 2016 o número de alunos inscritos naquele via de ensino em 1995, sendo um dos países da OCDE onde o ensino profissional mais cresceu.
A conclusão é do estudo “Ensino profissionalizante: à procura do tempo perdido”, que faz parte do terceiro volume das séries históricas “O Ensino em Portugal antes e depois do 25 de Abril” promovido pelo Edulog, o ‘think tank’ para a Educação da Fundação Belmiro de Azevedo.
Da autoria de João Ferreira e Pedro Martins, professores da Universidade Nova de Lisboa, os investigadores avaliaram a evolução do ensino profissional ao longo dos últimos 50 anos e notaram que, após o início de uma procura crescente pelo ensino técnico-profissional na década de 1960, a tendência foi consolidada a partir de 2004, com a reforma do ensino secundário.
A partir dessa altura, a aposta no ensino profissional como alternativa aos cursos científico-humanísticos foi reforçada e o objetivo tem sido caminhar no sentido de uma divisão mais ou menos equitativa dos alunos do ensino secundário entre os dois percursos e, apesar de o país continuar distante dessa meta, houve uma aproximação significativa em duas décadas.
Em 1995, entre 449.663 alunos a frequentar o ensino secundário, 26.198 estavam no profissional. Uma década depois, em 2005, o número de estudantes no secundário tinha caído para cerca de 306 mil, mas havia mais no profissional (36.765).
Em 2016, esse número era significativamente maior (112.395) e o ensino profissional representa hoje a segunda maior modalidade de ensino secundário, refere a EDULOG em comunicado.
Além da procura crescente, a análise dos autores mostra que, por outro lado, os alunos que optam por esta via de ensino têm cada vez mais sucesso: Em 2020/2021 e em 2021/2022, cerca de 70% dos alunos conseguiram acabar o curso em três anos, mais 17 pontos percentuais face 2014/2015.
No entanto, acrescenta o comunicado, “trata-se de um crescimento mais pequeno do que o registado no período homólogo para o ensino científico-humanístico, onde se verificou uma subida de 55% para 79%”, ainda que estes possam ter sido beneficiados pelas regras excecionais de conclusão do secundário, implementadas devido à pandemia da covid-19.
Os autores olharam também para o perfil dos alunos e concluíram que, por norma, os estudantes procuram no ensino profissional uma formação “mais prática e orientada para o mercado de trabalho”, sem fecharem a porta ao ensino superior.
Por outro lado, o contexto socioeconómico parece ter algum impacto na decisão, já que os estudantes do profissional são tendencialmente de contextos mais desfavorecidos, em relação aos colegas dos cursos científico-humanísticos.
O estudo avança que, entre 2014 e 2022, cerca de 43% dos alunos do profissional eram beneficiários de ação social escolar quando estavam no 9.º ano, quase o dobro dos alunos dos curso científico-humanísticos com histórico semelhante.
Quanto aos pais tinham, em média, menos 2,5 anos de escolaridade, havendo ainda uma maior probabilidade de estarem desempregados.
Apesar da evolução positiva ao longo das últimas décadas, os autores defendem que existe atualmente um conjunto de fatores e de mudanças no mercado de trabalho que tornam mais urgente a aposta no ensino profissional, como o envelhecimento, a automação, a inteligência artificial e as migrações.
A modernização do ensino profissional deve passar pela atualização dos cursos, pela criação de novas formações, pelo encerramento de cursos desatualizados e pela atração de novos parceiros empresariais que possam criar novas oportunidades de estágio e de recrutamento.