Crise pode levar muitos pais a voltar a adiar decisão de ter um filho

© D.R.

A demógrafa Maria João Valente Rosa advertiu hoje que a atual crise financeira pode levar muitos pais a voltar adiar a decisão de ter um filho até as condições se regularizarem ou tornarem-se “menos arriscadas” como aconteceu durante a pandemia.

“No próximo ano podemos estar perante o efeito adverso deste momento particularmente complicado do ponto de vista social e económico que estamos a passar hoje, porque o que se está a passar agora só daqui a nove meses é que vamos conseguir observar”, disse a professora universitária da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Maria João Valente Rosa falava à agência Lusa a propósito dos dados do “teste do pezinho”, divulgados hoje pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que apontam um aumento de 5,3% no número de recém-nascidos rastreados em 2022 (83.436) face a 2021 (79.217).

A demógrafa afirmou que ter um filho “é um projeto muitíssimo pensado” e que os pais e mães querem que “a criança nasça nas melhores condições possíveis”, o que também se relaciona com fatores de segurança, financeiros, laborais, entre outros.

Em 2013 e 2014, elucidou, Portugal também atingiu “valores baixíssimos de nascimentos” devido à crise financeira.

Contudo, a covid-19 foi “um período particularmente mais pesado do que a crise financeira anterior”, porque além de ter sido penalizador do ponto de vista laboral e financeiro, também foi do ponto de vista sanitário, combinação que levou a um recorde histórico de quebra de nascimentos em 2021, vincou.

Segundo a demógrafa, o medo de contrair a infeção, a incerteza de conseguir ter uma assistência médica adequada, os problemas com as visitas nos hospitais e no acompanhamento da gravidez e dos partos também pesou na decisão de ter um filho naquela altura.

“Neste momento, estamos a avançar também para um período particularmente difícil do ponto de vista financeiro, a inflação, etc, e também do ponto de vista de estabilidade laboral e pode acontecer que muitas das conceções que poderiam acontecer este ano voltem a ser adiados para 2024 até as condições se regularizarem ou se tornarem menos arriscadas”, advertiu.

Maria João Valente Rosa sublinhou que, “cada vez é mais difícil tomar a decisão do momento melhor para ter um filho” e, por isso, “muitas vezes a decisão é que mais vale tarde que nunca”, acabando a mulher por ter o filho muito tarde.

“O que acontece é que quanto mais tarde se tem o primeiro filho, mais difícil é transitar para o segundo e mais difícil é para transitar para o terceiro”, disse, estimando que em 2022 a idade média das mães ao nascimento do primeiro filho poderá ter sido superior à observada em 2021, “que já foi muito elevada (30,9 anos)”.

Por outro lado, realçou, “é preciso que existam mulheres para ter os filhos e o que está a acontecer é que as mulheres que estão a chegar ao período fértil são cada vez menos em virtude de terem nascido em períodos de baixa natalidade” o que também contribui para que o número de nascimentos não seja tão elevado.

Por exemplo, sustentou, os dois últimos recenseamentos apontaram que, entre 2011 e 2021, registaram-se menos 288 mil mulheres com idades entre os 15 e os 49 anos.

Segundo Maria João Valente Rosa, esta situação pode ser atenuada se “os saldos migratórios forem “muito positivos e particularmente centrados nas idades ativas que são as idades mais férteis”.

“Os saldos migratórios são importantes por duas razões: por um lado, por contribuírem para que as mulheres no período fértil não diminuam tanto quanto estão a diminuir e, por outro lado, por também terem um efeito importante para contrabalançar o saldo natural negativo”, concluiu.

Últimas do País

O Ministério do Ambiente e Energia foi hoje alvo de buscas por parte da Polícia Judiciária, na sequência das anteriormente efetuadas na empresa Transtejo, por suspeita de fraude na obtenção de subsídios, segundo fonte ligada ao processo.
A Inspeção-geral da Saúde está a analisar se há indícios de responsabilidade financeira em três conselhos de administração do hospital de Santa Maria, incluindo o que foi liderado pela ministra da saúde, Ana Paula Martins.
A Transtejo foi hoje alvo de buscas por suspeitas de fraude na obtenção de subsídios, estando em causa 17 milhões de euros, anunciou a Polícia Judiciária, indicando que a operação decorreu de um inquérito dirigido pela Procuradoria Europeia.
Portugal teve a segunda maior quebra no índice de produtividade do trabalho agrícola, de 10,7%, em 2025, tendo o indicador aumentado 9,2% na UE em comparação com o ano anterior, divulga hoje o Eurostat.
A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) alertou hoje para esquemas de recomendações de investimento fraudulentos em redes sociais, em particular em grupos de WhatsApp, que podem servir como um meio para manipulação de mercado.
Um homem de 29 anos foi detido hoje em Lisboa por suspeita de crimes de abuso sexual sobre uma mulher de 21 anos que se encontrava alegadamente em estado de embriaguez, informou hoje a Polícia Judiciária (PJ).
Três pessoas foram detidas e várias armas foram apreendidas hoje de manhã no âmbito de uma operação de prevenção criminal nas freguesias dos Olivais e Marvila, em Lisboa, disse à Lusa fonte da PSP.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) estendeu esta quarta-feira o aviso laranja emitido para seis distritos do norte e centro de Portugal continental devido à previsão de agitação marítima forte até sábado. O IPMA tinha emitido anteriormente aviso laranja até quinta-feira.
A ministra da Administração Interna admitiu hoje que “correu mal” nos aeroportos portugueses a introdução do novo sistema europeu de controlo de fronteiras para cidadãos extracomunitários, mas recusou que seja da "exclusiva responsabilidade" da PSP.
Uma embarcação de pesca que se encontrava nas imediações conseguiu resgatar três dos sete tripulantes da embarcação, mas um deles não resistiu. Há ainda registo de quatro pescadores desaparecidos.