Ferrovia, uma aposta para o futuro?

Com a ampliação das vias rodoviárias na década de 80 e com o declínio da utilização do setor ferroviário, será que no século XXI este mesmo setor poderá ser uma aposta para revitalizar a economia?

Um dos meios mais antigos criado no século XIX, em plena revolução Industrial, é atualmente a nível nacional a representação de um setor que foi abandonado pelos nossos políticos.

Poderia dar ao caro leitor inúmeros exemplos de linhas ferroviárias encerradas, mas isso pediria muito tempo.
De qualquer forma, chegaríamos sempre à mesma conclusão: o setor ferroviário foi prejudicado em relação a outros e não tem progredido, mantendo-se estagnado no tempo.

Num país onde, em sucessivas campanhas políticas, analisamos a vontade – ou a falta desta – em investir no interior ou na “tão desejada regionalização”, percebemos que todas as ações de governos anteriores têm sido marcadas não pela coesão, mas sim pela divisão.
Verificamos tal facto quando várias linhas do nosso interior estão sendo encerradas com a justificação de que não é possível investir tanto nessas regiões, porque existe um número exíguo de população. No entanto, se esse número é menor, é porque essas regiões não possuem acesso facilitado e não apresentam qualquer atratividade. Por outro lado, percebemos que existe uma obsessão com a zona litoral, em detrimento das regiões interiores.

Como é possível que um governo se queira pronunciar acerca do seu sentido de regionalização quando todas as suas ações mostram o contrário? A regionalização não se trata apenas da mudança de uma instituição para outro lugar, mas sim da implementação de várias reformas nas mais diversas áreas.

Como é que os nossos governantes querem que os nossos jovens escolham a vida militar quando, até mesmo, a deslocação para os centros de formação, como Chaves, não tem qualquer linha/estação ferroviária?
Por outro lado, seria viável a localização de um dos maiores hospitais do país, o Hospital do Oeste, nas Caldas da Rainha? Considerando que essa região não possui o mínimo de progresso em relação à sua linha ferroviária, a linha do Oeste, que possui condições precárias e de difícil acesso. Um exemplo claro da falta de progresso e de inovação, onde uma das principais estações da linha, Leira, demonstra as condições deficientes da mesma.

Em pleno século XXI será que vale a pena apostar no setor ferroviário?
Tal como Fernando Pessoa escreveu no seu poema ‘Mar Português’: ‘Tudo vale a pena se a alma não é pequena’, e que bem que esta frase se enquadra. Portugal é um país com inúmeras vantagens, como o facto de sermos a porta da Europa e, por isso, temos a obrigação de sermos o interface comercial do continente europeu. Nada melhor do que termos um forte setor marítimo para receber as mercadorias e um forte setor ferroviário, tanto a nível nacional quanto internacional, principalmente ibérico, para conseguirmos exportar essas mesmas mercadorias.

Apostar na ferrovia é um sinal de futuro, apesar da sua idade, não existe transporte tão seguro e amigo do ambiente. Num século onde nos querem fazer debater acerca das crises climáticas, a aposta neste mesmo transporte seria um bom investimento.

Num país onde temos uma dicotomia entre regiões e existe um Portugal antagónico, onde por um lado existe um excesso populacional e por outro uma quebra demográfica, o setor ferroviário seria um meio de transporte essencial para a população do interior deslocar-se para zona litoral. Não podemos obrigar as pessoas a fixarem-se apenas e exclusivamente na zona interior, mas o transporte ou a possibilidade de existir um de região para região seria um enorme passo para o desenvolvimento dessas áreas.

Portanto, não esqueçamos o setor que ainda tem muito a oferecer. Penso que seria um passo muito importante e que poderia, sem sombra de dúvidas, impulsionar o nosso país a nível económico, social, e em muitas outras áreas. Esta é uma opção de investimento que pode ser bem estudada e analisada para o nosso querido Portugal.

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