História da rainha D. Mécia inspira teatro sonoro em torre do Castelo de Ourém

© Câmara Municipal de Ourém

O drama de D. Mécia, que terá estado presa no Castelo de Ourém no século XIII, está na origem da peça de teatro sonoro que a companhia A Turma estreia no sábado naquele monumento de Ourém, no distrito de Santarém.

A atriz Maria João Luís dá voz ao monólogo interior da monarca em “A partida de Mécia”, um áudio drama que convida os visitantes do Castelo de Ourém a sentarem-se no mesmo local onde terá estado aprisionada a rainha consorte, colocarem auscultadores e ouvirem durante 40 minutos a ficção escrita e imaginada por Tiago Correia.

O dramaturgo explicou à agência Lusa que a peça surgiu na sequência de uma encomenda para criar algo no remodelado Castelo de Ourém.

De entre as diversas histórias apresentadas, estava o caso de Mécia Lopez de Haro, a polémica mulher de Sancho II – era viúva quando casaram – que terá sido raptada em Coimbra e mantida cativa em Ourém, afastada do rei, para não gerar descendência.

Essa história, “controversa e desconhecida”, intrigou o dramaturgo: “Pensei logo que podia ser o ponto de partida para um texto meu e para uma experiência sonora e imersiva na torre, que falasse dessa mulher que foi muito maltratada pela história”.

Iniciou uma investigação histórica – “a Wikipédia só diz mentiras sobre D. Mécia” – e, com “uma equipa muito pequenina”, A Turma criou “todo um universo”, com música original e sonoplastia minuciosa, para convidar à “imersão na intimidade” de Mécia, “sozinha na torre, após muitos meses de solidão, e psicologicamente afetada”.

Remetendo para a véspera da libertação da rainha, “vai-se acompanhando esse dia de Mécia, num monólogo interior – e nunca mais ninguém a vem para levar”, descreveu o dramaturgo, que pensou a peça enquanto “um filme sonoro em que o lugar em que o público está a presenciar a experiência é o cenário da ação”.

Tiago Correia procura colocar o ouvinte no papel da personagem, não só imaginando a história a acontecer na hoje denominada Torre D. Mécia, mas também decidindo o que faria no lugar da rainha.

“O que é que vale mais? Mantermo-nos fiéis a um amor ou a nossa liberdade?”, interrogou o autor.

A peça de teatro sonoro sugere “uma relação poética com a experiência do percurso” e “traz também essa poesia ao próprio espaço”.

“É uma experiência muito intimista e, durante aqueles 40 minutos, a vida fica lá fora”.

Cruzando a história de Mécia com a hierarquia do xadrez e a evolução das regras do jogo – sobretudo o surgimento da rainha ao lado do rei enquanto afirmação da mulher na sociedade e no ecossistema político -, Tiago Correia procura abordar “preocupações atuais”.

A par da desigualdade de género, evoca “todas as pessoas que têm de sair do seu país, porque o seu país está em guerra”, o que também aconteceu com a rainha consorte, leonesa de nascença, que teve de sair de um Portugal agitado pela guerra civil.

“Ela tentou sempre, até ao fim, manter a dignidade enquanto rainha. Ela é sepultada em Espanha e no túmulo pode-se ler-se ‘Rainha de Portugal’”, concluiu o dramaturgo.

A estreia de “A partida de Mécia” em Ourém é no sábado, a partir das 14:30, com a presença do autor, da atriz Maria João Luís e da restante equipa que criou a peça.

Durante todo o verão, o teatro sonoro fica disponível para o público, sob marcação (pelo e-mail museu@mail.cm-ourem.pt), em sessões limitadas a quatro pessoas que, explicou Tiago Correia, “se sentam nos banquinhos de pedra, no interior da torre onde D. Mécia terá estado presa”.

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