DEANA BARROQUEIRO, A LÚCIDA HISTORIADORA

“Os bem-pensantes querem reduzir os Descobrimentos à escravatura, fazendo tábua rasa de tudo o resto.” Não fui eu que teci tal comentário, mas sim a escritora luso-americana Deana Barroqueiro que se tornou mais conhecida entre nós quando, em 2008 no “NAVEGADOR DA PASSAGEM” contou a vida e os feitos de Bartolomeu Dias, esse insigne navegador que dobrou o Cabo da Boa Esperança. Barroqueiro lançou em 2023 a reconstituição histórica do seu êxito comentando para o DN o que pensa da atual postura dos novos “pensadores”. 

Fico impressionado com a sua lucidez e com o cuidado que teve em dividir a expressão em duas partes claramente dedicada aos “historiadores” que não merecem o nosso passado e aos governos que permitem tais desmandos, nomeando qualquer filho desnaturado desta pátria que ou nunca se soube explicar ou se subjuga a ideologias confusas que misturam trigo e joio no pão que dão a comer.

Primeiro Deana chama ironicamente de “bem-pensantes” aos indivíduos que alcandorados a lugares de alguma importância e de inconveniente influência, seguem um pensamento torcido e ideologicamente curvado à conveniência e ao politicamente correto, distorcendo de maneira forçada e fácil o acontecido, não querendo saber do tempo, do homem e da sua circunstância.

Depois pelo que, de uma maneira simples, põe em causa o que os mesmos seres dizem ou fazem, quando reduzem à tábua rasa tudo o que de inovador, heroico e destemido tinham os feitos daqueles que são para nós e para o mundo a nata de todos os heróis. 

Pondo o dedo acusador sobre a escravatura e não a deixando passar sem referida, dá a ideia de condenar a mesma e fazer sentir que sim, que ela existe desde tempos imemoriais e jamais acabará enquanto as diferenças entre os seres humanos prevalecerem. Considerar que se deve pedir desculpa pelo que fez Bartolomeu Dias, D. João II ou Afonso de Albuquerque, vai um enorme, aberrante e ridículo hiato que aponta a seres humanos de outras eras, seus feitos, e o que fizeram sobre as ordens e interesses de Portugal. 

Quem pensam que são os que nos julgam? Que autoridade ou moral têm? A que Deuses, princípios ou ideologia teimam em obedecer? Debaixo de que autoridade condenam a nossa história agora que vivem e criam filhos nas terras dos antepassados que condenam, ignorando ou fazendo tábua rasa de tudo o resto? E porque vêm sempre e só o lado escuro da lua?

Se fosse eu e passe a minha insignificância, a ter uma afirmação destas, não faltariam os detratores, ignorantes, bem-dizentes e outros intelectuais canhotos “a botar faladura” ou a inventar epítetos, nomeadas, alcunhas e outros nomes. Mas não fui! Apenas li a opinião de uma conceituada escritora no Diário de Notícias que conta e canta a gloriosa história dos nossos antepassados. Afinal, a nossa principal razão de ser e de existir. As nossas causas. O nosso chão. A nação.

Se já ouviu falar no “Mostrengo que está no fim do mar” conhece Fernando Pessoa e sabe o que anos antes pensavam os que se atreviam a dobrar o cabo das tormentas a quem D. João II mais tarde chamou o Cabo da Boa Esperança. E se gostou, ficará a saber ainda mais com a leitura de “O NAVEGADOR DA PASSAGEM” de Deana Barroqueiro e com uma admiração e um orgulho tremendo por Bartolomeu Dias que Deana compara a Vasco da Gama, nome conhecido e idolatrado por todos os marinheiros do mundo. Mas fez mais esta autora de descendência lusitana, escreveu entre outros sobre Pêro da Covilhã – “O espião de D. João II” e o “Corsário dos Sete Mares- Fernão Mendes Pinto” o Marco Polo lusitano para com o qual a história foi sempre ingrata. Professora de Português, licenciada em Filologia Românica, apaixonada pela língua e cultura lusitana é um exemplo de como se cantam a pátria e os nossos antepassados. 

Falar sobre o “Capitão do Fim”, como dizia Pessoa na “Mensagem”, é honrar a história. Fundi-la com a escravatura é um crime com dolo só ao alcance dos atuais sinistros “bem-pensantes” que preferem envilecer os antepassados.

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