Ainda o assassinato de Sá Carneiro – Os motivos – O Porquê

Dos três possíveis alvos do atentado Sá Carneiro, Amaro da Costa e o General Soares Carneiro (o avião estava afeto à sua campanha presidencial) o único que se sentia ameaçado fisicamente era Amaro da Costa que até já tinha requisitado uma arma de defesa pessoal. Mas vamos por exclusão de partes:

É difícil acreditar que o alvo a abater fosse o General Soares Carneiro. Porque existiam dois aviões Cessna idênticos, um ao serviço da campanha presidencial e outro ao serviço da RAR. E o General tinha regressado do Porto no dia antes da tragedia nesse avião e se o queriam eliminar seria nessa altura. 

Por outro lado, Sá Carneiro e a companheira já tinham bilhetes na TAP para se descolocarem ao Porto para um comício. Só à última hora é que SÁ Carneiro aceita o convite de Amaro da Costa para irem juntos ao Porto no avião da Campanha do General. Os sabotadores não podiam prever isto. E o outro avião estava, convenientemente, avariado. 

Resta Amaro da Costa. Tudo tinha a ver com o Negócio do trafico de armas.

Após o famigerado 25 de Abril, muitos militares encetaram negócios com os PALOP: O comércio de armas. Uma das fontes desse comércio era o Fundo Extraordinário de Defesa do Ultramar, um fundo que movimentava cerca de 12 milhões de contos por ano.  Estes negócios começaram com o financiamento e armamento da UNITA, do MPLA, da RENAMO E FRELMO e eram supervisionados por membros do Conselho da Revolução.  E uma das promessas de Soares Carneiro nas presidenciais era a extinção imediata desse Conselho. O PCP é frontalmente contra.

Sabe-se que José Esteves foi associado de Otelo no comércio das armas para Angola. O contacto com Otelo, que sabe quem é quem em Angola, foi pedido a Esteves por Múrias, outro arguido neste processo. Otelo é conhecido no regime angolano, nomeadamente pelo MPLA desde que este planeou a expulsão da UNITA de Luanda. Foi mais uma mancha de sangue na guerra civil angolana que teve a assinatura deste capitão de abril.

Uma semana antes do atentado, Amaro da Costa confidenciou a um dirigente do PSD que a “única coisa que posso fazer é o orçamento das Forças Armadas”.

Mas fazia mais, fazia perguntas. Desde 1975 com a chegada do Movimento das  Forças Armadas ao poder que eram os militares que controlavam os maiores orçamentos do Estado e geriam o dinheiro como bem entendiam. Vendas de armas, legais e ilegais, financiamento de Partidos e movimentos africanos.  Era o saco azul, sem qualquer controle ou contas prestadas. Muitos pensam que foram as perguntas de Amaro da Costa que lavraram a sua sentença de morte.

E se alguém tinha motivos para matar Amaro da Costa, também não podia deixar vivo Sá Carneiro, porque este conhecia por dentro as investigações do seu Ministro da Defesa. Amaro da Costa dava regularmente conta a Sá carneiro, através de correspondência e   telefonemas, dos assuntos da Defesa, uma pasta complicada pelas relações de não retorno com o Presidente Ramalho Eanes.

Em Lisboa, em 1980, os militares que fizeram as campanhas em Africa cruzam-se tomando refeições na mesma sala. São agentes da PIDE, da DINFO (José Esteves), do CODECO, das Brigadas Revolucionarias de Isabel do Carmo e Carlos Antunes e das FP25. Todos os abutres a enriquecerem. Todos estes militares viam com maus olhos o novo ministro da defesa, que era um civil perigoso que ameaçava retirar aos militares os amplos poderes que desde o 25 de abril, detinham em Portugal.

A Policia Judiciária que participou na recolha do material proveniente do Cessna, no dia 4 de Dezembro, entregou ao inspector Vitor Amaral uma pasta encontrada em Camarate que continha um documento de várias páginas, elaborado pelos serviços secretos franceses SDECE, sendo o titulo do texto “o jogo duplo dos militares”. Estes documentos nunca vieram a publico nem revelados nas dez comissões. E este documento despareceu dos arquivos da PJ.

Afinal algum dia sabermos quem foram os mandantes?

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