Israel prepara ataque a Rafah (Gaza) ignorando avisos de aliados

Israel está a planear um ataque a Rafah, sul da Faixa de Gaza e junto à fronteira com o Egito, apesar dos avisos em sentido contrário dos aliados e organizações internacionais, alarmadas com potenciais consequências humanitárias.

© Facebook Israel Reports

 

Em Rafah, aos cerca de 200 mil habitantes que residiam na cidade, juntaram-se mais de 1,3 milhões de deslocados vindos no centro e norte do enclave palestiniano, na sequência dos numerosos ataques do exército israelita contra posições do Hamas tanto em Gaza (norte) como em Khan Yunis (centro/sul), iniciados em 07 de outubro de 2023.

Apesar de governos e organizações não-governamentais internacionais terem avisado que os palestinianos já não têm para onde ir, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu insiste na ideia, alegando a necessidade de erradicar o Hamas, movimento islamita palestiniano que atacou Israel há quatro meses, e sem dar pormenores sobre o destino da população.

Eis alguns pontos essenciais sobre uma possível operação militar israelita em Rafah:

*** INTENÇÕES DE ISRAEL ***

Domingo, Benjamim Netanyahu confirmou a entrada próxima das forças militares na cidade de Rafah, último refúgio de centenas de milhares de palestinianos deslocados à força na Faixa de Gaza, para acabar com “os batalhões que restam do Hamas”. Insistiu que a população civil daquela cidade deve “abandonar” a zona, com ou sem a ajuda das organizações humanitárias internacionais.

Até hoje, antes da anunciada grande ofensiva, vários ataques aéreos israelitas causaram pelo menos 164 mortos e 200 feridos em Rafah, depois de as Forças de Defesa de Israel (FDI) terem realizado “uma série de ataques contra alvos terroristas na área de Shabura”.

Segunda-feira, Israel pediu à ONU para que “coopere” na “retirada” dos civis que se encontram nas zonas de combate na Faixa de Gaza, incluindo a cidade de Rafah, face à iminente ofensiva terrestre do exército contra a cidade.

O porta-voz do governo israelita, Eylon Levy, criticou que as agências da ONU “tenham estado a transferir civis para os redutos do Hamas e a validar a estratégia dos ‘escudos humanos’ do Hamas”.

“A guerra pode terminar rapidamente, sem mais sofrimento, se o Hamas se render imediatamente, depor as armas, libertar os reféns e levar os seus criminosos de guerra à justiça. Todos os intervenientes dedicados à proteção dos civis e à melhoria das condições humanitárias em Gaza devem apelar ao Hamas para que se renda agora, em vez de pressionar o Hamas para que mantenha os seus quatro batalhões de pé face a uma vitória israelita iminente”, argumentou.

Israel apontou ainda para “um encobrimento da militarização do Hamas de hospitais e bens militares dentro de instalações das Nações Unidas”, referindo-se à recente descoberta de um túnel sob a sede principal da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) em Gaza.

Em resposta, o Comissário Geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, sublinhou que o pessoal da agência “abandonou a sede na cidade de Gaza em 12 de outubro, na sequência de ordens de evacuação emitidas por Israel e perante a intensificação dos bombardeamentos na zona” e apelou a uma investigação “independente”, apesar de o Ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, ter pedido a sua demissão.

*** HAMAS AMEAÇA NEGOCIAÇÕES PARA LIBERTAÇÃO DE REFÉNS ***

O Hamas avisou que qualquer operação das forças israelitas em Rafah ameaçará as negociações de libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinianos e constituirá uma “catástrofe e um massacre global”.

O Governo de Gaza recordou que 1,5 milhões de palestinianos vivem atualmente na província de Rafah, dos quais 1,3 milhões foram deslocados pela violência noutras partes do enclave, o que “prenuncia uma grande catástrofe”. Acusou ainda Israel de já ter realizado “milhares de massacres no resto das províncias da Faixa de Gaza durante a atual guerra de genocídio”.

Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestiniana – que governa pequenas áreas da Cisjordânia ocupada – disse na sexta-feira que o plano israelita de expandir a ofensiva sobre Rafah faz parte da estratégia para “deslocar o povo palestiniano das suas terras” e apelou que a comunidade internacional aja para evitá-lo.

*** NENHUM ALIADO OU ORGANIZAÇÃO APOIA ATAQUE A RAFAH ***

A ONU, liderada por António Guterres, já apelou variadas vezes ao fim do conflito e alertou que uma operação militar israelita em Rafah agravaria o “pesadelo humanitário” da população local, com “consequências regionais incalculáveis”.

O Presidente norte-americano, Joe Biden, pediu segunda-feira a Netanyahu que garanta a segurança dos 1,5 milhões de palestinianos concentrados em Rafah, reafirmando a opinião de que uma operação militar não deve prosseguir sem um plano credível e exequível para garantir a segurança e o apoio ao mais de um milhão de pessoas que aí se encontram abrigadas”.

Biden, que indicou que Washington não apoiará uma operação de tão grande escala, reafirmou o “objetivo comum” de ver o movimento islamita Hamas derrotado, ao mesmo tempo que apelou também para “medidas urgentes e específicas para aumentar o volume e a consistência da assistência humanitária aos civis palestinianos inocentes”.

O anúncio de uma operação em Rafah gerou preocupação na comunidade internacional, nomeadamente Alemanha, França, Reino Unido ou África do Sul, com o Egito a ameaçar romper o tratado de paz com Israel se as tropas israelitas forem enviadas para aquela localidade fronteiriça.

Também a ONU e a União Europeia advertiram contra esta ação, a que o chefe da diplomacia dos 27, Josep Borrell, se referiu como “uma catástrofe humanitária indescritível”.

Também a Turquia, através do Presidente Recepo Tayyp Erdogan, pediu segunda-feira ao Conselho de Segurança da ONU que “controle Israel” após os recentes ataques à cidade de Rafah.

A Turquia é um aliado histórico de Israel e, embora as relações tenham tido altos e baixos desde que o atual Presidente Recep Tayyip Erdogan chegou ao poder, em 2002, os dois países restabeleceram relações diplomáticas plenas no ano passado, com planos para uma cooperação estreita.

Os Países Baixos anunciaram já a suspensão da exportação de peças de aviões de guerra para Israel.

No Cairo, a ameaça israelita levou a outra, do Egito, que afirmou que sancionará a suspensão do tratado de paz se as tropas israelitas atacarem Rafah cidade fronteiriça densamente povoada em Gaza, alertando que os combates podem forçar o encerramento da principal rota de abastecimento de ajuda humanitária ao território sitiado.

A ameaça de suspender os Acordos de Camp David, pedra angular na estabilidade regional durante quase meio século, surge quando o Egito receia um afluxo massivo de centenas de milhares de refugiados palestinianos que poderão nunca mais ser autorizados a regressar.

Também a Arábia Saudita condenou os planos de Netanyahu e pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança para evitar uma “iminente catástrofe humanitária”.

A China e a Rússia têm-se limitado a repetir na ideia de um cessar-fogo entre as partes, enquanto o Irão, que apoia as milícias anti-israelitas, como o Hezbollah, no sul do Líbano, apelou à exclusão de Israel da ONU, manifestando novamente o apoio à causa palestiniana, vítima de “crimes contra a humanidade”.

Por fim, a Amnistia Internacional (AI) afirmou ter “novas provas” de que os “ataques ilegais” de Israel na Faixa de Gaza causaram “um enorme número de vítimas civis” e que existe “um risco real de genocídio”, em que as tropas israelitas “continuam a desrespeitar o direito humanitário internacional, destruindo famílias inteiras com total impunidade”.

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