2 Maio, 2024

Que Aprendeu a Esquerda Com a sua Derrota a 10 de Março?

© Folha Nacional

Vamos enumerar as humilhações do Partido Socialista nos últimos meses:

  1. Desastres governativos que fazem cair os dois delfins do Partido Socialista (Pedro Nuno Santos e Joao Galamba);
  2. Um escândalo de corrupção que derruba o PM;
  3. Perda de 40 deputados depois de apenas 2 anos de governação e a vasta maioria para o CHEGA, o partido adversário mais detestado; 
  4. Perda do mandato do deputado eleito Presidente da Assembleia da República e uma vez mais para …o CHEGA;
  5. Depois de 2 anos de prepotência e violação das normas democráticas, o PS tem que engolir Diogo Pacheco de Amorim na Vice-Presidência da AR quando poderia ter tido um nome bem menos controverso como Gabriel Mithá Ribeiro;
  6. E claro, a cereja no bolo: 50 deputados do CH nos 50 anos do 25 de Abril.

Depois de tal série de humilhações, presumir-se-ia  que o PS se dedicasse a alguma introspecção para compreender as razões que mobilizam uma grande parte do seu próprio eleitorado a renegar de modo traumático os rapazes do Largo do Rato.

E eis que no dia 25 de Março, a Fundação Mário Soares organiza uma conferência para apresentar os resultados de um inquérito realizado em colaboração com a Fundação Friederich Ebert (associada ao Partido Social Democrata alemão) sobre as preferências ideológicas do eleitorado português.

O evento começa com um vídeo introdutório de entrevistas nas ruas de Lisboa com pessoas …que concordam com todos os valores esquerdistas.

Segue-se uma apresentação das principais conclusões do estudo nas quais se destaca desde logo que os eleitores do CH não são extraordinariamente diferentes do resto do eleitorado em termos de valores. 

Os votantes no partido de André Ventura diferem mais na desconfiança do aparelho Estado e do sistema político, valores que na Esquerda são diametralmente opostos com uma enorme fé no poder da burocracia estatal. Quem vota CHEGA tende a acreditar ainda que o país requere um líder forte, tem uma maior preferência por referendos, pensa que o sistema político penaliza o cidadão comum e que os líderes do Estado Novo foram bons governantes. É ainda no CHEGA que se encontra o maior número de conservadores ideológicos (só ultrapassado pelo CDS) e cépticos da UE, proporcionalmente aos outros partidos.

De resto, o inquérito apura ainda que apenas 15% do eleitorado se considera conservador.

Segue-se uma conversa com o painel de convidados.

Tiago Fernandes da FCSH retira do estudo que ainda que os eleitores do CHEGA não sejam fascistas, a liderança do partido é e que André Ventura fez a saudação nazi para apelar aos extremistas marginais. Uma conclusão perfeitamente ‘razoável’ e ‘tolerante’ para além de assente numa completa falsidade perpetuada pelo jornalismo enviesado, e tal vindo de um professor de uma universidade pública paga com os nossos impostos…

Já a redactora do Público Bárbara Reis, opina que os jornalistas devem ser naturalmente curiosos e críticos. Tão curiosos e críticos que passou a maior parte do seu tempo a discorrer como se deveria discriminar contra os ‘populismos’ pois esses merecem tratamento parcial. Perdida na sua dissonância cognitiva, Reis confessa a sua incerteza de como fazer a cobertura de André Ventura porque este se farta de mentir e é difícil desmontar as mentiras a tempo do ciclo noticioso. Curiosamente, não lhe ocorre como lidar com as mentiras do jornalismo. Nos últimos anos foram muitas e nenhum jornalista sofre consequências por isso. Desde que Trump era um agente russo, a que as vacinas eram seguras e eficazes, toda a propaganda divulgada sobre a guerra da Ucrânia, várias retracções do Polígrafo, etc. Mas isso não a preocupa pois ela segue a linha editorial corrupta e hipócrita do próprio Polígrafo: “o Polígrafo não analisa notícias de outros jornais. O trabalho dos nossos colegas, sendo muito relevante, não é o nosso core business. Escolhemos avaliar e classificar, de acordo com uma escala, as declarações dos protagonistas das notícias, porque são eles os agentes proativos na difusão de inverdades no espaço público.“ Conveniente…

Segue-se Rui Pena Pires do ISCTE que correctamente chega à conclusão de que o voto no CHEGA se deveu mais a questões de governação e corrupção do que à imigração. Pena é que Pena vá mais longe ao dizer que o voto na Direita nada tem a ver com problemas de imigração apontando a Hungria e a Polónia como exemplos. Opina ainda que deveria haver mais diversidade na classe política …de sexo e etnia, apontando os deputados negros no CHEGA. Ora, é óbvio que o problema da imigração teve relevância, sobretudo em grandes áreas urbanas, tal como problemas com a comunidade cigana mobilizam voto a favor do CHEGA nas zonas rurais e suburbanas. Esta realidade é problemática para a Esquerda porque implica aceitar que o voto do povo difere das teorias multiculturais das elites de extrema-esquerda. A razão para o problema da imigração – ilegal e em massa – mobilizar o eleitorado que não enfrenta problemas directamente deve-se apenas a empirismo básico: ‘não queremos aqui os problemas que os outros adoptaram ali’.

Resumindo, a Esquerda, quando confrontada com realidades que escapam aos seus preconceitos, prefere negar a realidade. Em vez de ouvirem os problemas e as preocupações do povo e dos trabalhadores, preferem atribuir culpas ao populismo e à manipulação. Persistem em não querer enfrentar a realidade de que grande parte do eleitorado, mesmo sem ser conservador, vê na classe política e nas suas decisões, o pior dos males. 

Que o PS preferisse fechar os olhos em 2019 e em 2022 era uma coisa mas estamos em 2024 e centenas de milhares de votos do CHEGA vieram do PS. Talvez fosse boa ideia começarem a reflectir sobre a falta de credibilidade do jornalismo, da classe política e nos problemas que as políticas de Esquerda causaram ao país.

Em países como o Reino Unido ou a Alemanha, o sistema político até já evoluiu ao ponto em que começam a nascer alternativas políticas de Esquerda, cépticas da imigração em massa, depois de anos de monopólio eleitoral da Direita, nestas questões. Porém, quem estiver à espera que por cá o Partido Socialista acorde para esta realidade, bem pode esperar sentado.

A obsessão em continuar a estigmatizar o CHEGA resulta no aumento das credenciais anti-sistema do partido mas implica igualmente que a Esquerda permanece autista para as causas que movem o CHEGA e que mobilizam o seu eleitorado. Menosprezar problemas reais como ‘não frequentáveis’ – para citar José Manuel Fernandes – leva ao acantonamento dos partidos de Esquerda, cada vez mais reféns de nichos intelectuais elitistas completamente divorciados da realidade.

Falar de minorias e febrilmente privilegiar os insucessos não contribui para tornar Portugal competitivo. Ignorar a obesidade do sector Estado, a descaracterização cultural do país e a degeneração moral da sociedade, não ajudará a sustentabilidade do país. 

No fundo, a Esquerda vê o barco a afundar desde a ponte de comando e fica incomodada por todos os que barafustam em alta voz no convés, perturbando a sua paz altiva. Nada disto é de estranhar pois nem sequer o PSD acordou, quanto mais a Esquerda. Tudo isto é, evidentemente, prejudicial para a nação mas servirá, paradoxalmente, para engrandecer ainda mais a relevância eleitoral do CHEGA.

Bem hajam.

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