Ex-combatentes organizam concentrações e criticam estatuto que é “mão cheia de nada”

Um movimento de antigos combatentes quer ser ouvido pelo novo ministro da Defesa, Nuno Melo, e vai organizar um conjunto de concentrações nos próximos dias, contestando o estatuto que classifica como “uma mão cheia de nada”.

© D.R.

 

“Há 50 anos praticamente estão prometidas diversas regalias e o que acontece é que quando foi aprovado em 2020 o Estatuto do Antigo Combatente, só foi aprovada uma mão cheia de nada”, defendeu António Araújo da Silva, dirigente do Movimento Pró-Dignidade ao Estatuto do Combatente, em declarações à Lusa.

O movimento pretende ser recebido “o mais urgentemente possível” pelo ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, e quer alertar para a “revolta” destes antigos combatentes, cujo dia é hoje assinalado.

Entre as reivindicações está a utilização gratuita de transportes, já prevista no estatuto para as áreas metropolitanas e comunidades intermunicipais, alargada a todo o país, e ainda um complemento mensal de 100 euros para ajudar a pagar medicamentos.

“Com mais de 70 anos, como devem compreender, estamos carregados de problemas graves de saúde. Se não tivéssemos ido à guerra não teríamos motivo. Muitos dos meus camaradas vieram de lá com graves problemas de saúde e estão cá e quem é que lhes vai pagar a medicação?”, questionou António Araújo da Silva.

O movimento argumenta que os antigos combatentes não têm acesso ao apoio psíquico necessário através do Hospital das Forças Armadas e pedem melhor assistência às viúvas destes ex-militares, que também sofreram com “os traumas” que os maridos trouxeram da guerra colonial (1961-1974). Queixam-se ainda de muitos cidadãos ainda não terem recebido o cartão do Antigo Combatente, que garante o acesso aos seus benefícios.

O dirigente lamentou ainda a situação dos antigos combatentes recrutados nas ex-colónias, cidadãos naturais de países como Angola, Moçambique ou Guiné-Bissau, e que combateram nas Forças Armadas portuguesas mas não são abrangidos por algumas compensações por não terem registos de carreira contributiva em Portugal.

No passado domingo, em Leiria, nas cerimónias comemorativas do 106.º aniversário da Batalha de La Lys e do Dia do Combatente, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pediu um estatuto condigno para os militares, sem os quais “não há Forças Armadas fortes”, e considerou que não se deve desbaratar o momento irrepetível de cumprir aquilo que está por cumprir no Estatuto do Antigo Combatente.

Também o ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, considerou que Portugal ainda tem deveres a cumprir “numa política justa de antigos combatentes”, para tratar melhor os seus problemas sociais ou de saúde.

António Araújo da Silva disse esperar que estas não sejam palavras vãs e pediu a estes responsáveis políticos que não se lembrem dos antigos combatentes apenas nestas ocasiões ou no 10 de junho, Dia de Portugal.

O movimento tem a primeira concentração marcada para dia 13, no Porto, dia 15 em frente ao Ministério da Defesa Nacional, em Lisboa – caso não sejam recebidos por Nuno Melo –, e dia 16 na escadaria da Assembleia da República.

Para dia 17 está agendada uma outra concentração e ainda o início de uma greve de fome, na qual o dirigente prevê a presença de “mais de cem antigos combatentes”.

O movimento garante também que vai organizar concentrações pelo país no 25 de abril, dia em que se assinalam os 50 anos desde a Revolução dos Cravos.

O Estatuto do Antigo Combatente, uma reivindicação antiga das associações do setor da Defesa e dos deficientes das Forças Armadas, foi aprovado em 2020, por larga maioria de PS, PSD, BE, CDS-PP, PAN, Chega e Iniciativa Liberal e a abstenção de PCP e PEV.

O diploma inclui benefícios como a isenção de taxas moderadoras, gratuitidade do passe intermodal nos transportes públicos das áreas metropolitanas e comunidades intermunicipais, direito de preferência no acesso a habitação social, entrada gratuita em museus ou honras fúnebres, entre outros apoios.

Quando promulgou o Estatuto, o Presidente da República, Comandante Supremo das Forças Armadas, disse esperar que o diploma fosse visto “como o início de um caminho e não como o seu termo”.

Últimas do País

O bombeiro suspeito de violência doméstica em Machico, na Madeira, detido em agosto e sujeito inicialmente à medida de coação de prisão preventiva, foi perdoado pela vítima e o processo foi suspenso.
A Polícia Judiciária (PJ) detectou hoje no Porto o advogado Paulo Topa, confirmou à Lusa fonte da polícia, tendo a diligência ocorrida no âmbito de uma investigação por desvio de fundos.
A SOS Amianto - Associação Portuguesa de Proteção Contra o Amianto alertou hoje que Portugal falhou o prazo para a transposição da diretiva europeia que obriga à redução do limite de exposição dos trabalhadores ao amianto.
A Polícia de Segurança Pública (PSP) deteve no sábado em Lisboa um homem de 38 anos que era alvo de um Mandado de Detenção Europeu pela prática de Furtos Qualificados e Burlas Informáticas, anunciou hoje a PSP.
Onze distritos de Portugal continental estão hoje sob aviso laranja, o segundo mais elevado, devido à queda de neve e à interferência marítima, indicou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Seis distritos de Portugal Continental estão hoje em aviso laranja e quatro em aviso amarelo para a queda de neve até domingo de manhã, podendo condicionar e interditar estradas, informou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Uma antiga fábrica que estava em obras para ser transformada em residência universitária ardeu hoje em Braga, revelou à Lusa fonte do Comando Sub-Regional do Ave.
As empresas de chocolate nacionais enfrentam o otimismo do período natalício, “um dos mais relevantes” para as vendas, não evitando baixar preços porque o valor do cacau continua no dobro da média de 2023.
A maioria dos desfibrilhadores disponíveis nas viaturas dos Sapadores de Lisboa tem componentes cujo prazo de validade está ultrapassado, mas o Regimento deu orientações para que os bombeiros continuem a utilizá-los, denunciou hoje um sindicato.
O aumento de doentes com alta clínica retidos nos hospitais por razões sociais é um dos maiores obstáculos à gestão de camas hospitalares, afetando a resposta nos serviços de urgência e impedindo a realização de cirurgias.