Portugal e a escravatura parte (2)

A percepção de que a escravatura era uma coisa injusta sempre existiu na cultura ocidental. A forma como se lidou com isso é que foi mudando. Entendamo-nos bem: o tráfico negreiro e as relações de escravatura foram abominações. Mas é preciso perceber que foram as nações ocidentais as primeiras que as estigmatizaram e proibiram. 

Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a escravatura na metrópole. O Marques de Pombal, em 1761, através de alvará régio. Teve logo efeitos pois deixou de se importar escravos para o território metropolitano e um alvará posterior, em 1773, extinguiu o estado de escravidão em Portugal. Isto são factos inegáveis que a esquerda radical não fala, nem promove. Foram os primeiros passos para acabar a escravatura a nível internacional.

A partir dessa data, foram os brasileiros que tomaram as rédeas do comércio de escravos, já que não havia triângulo económico com Portugal. Mesmo que a independência do Brasil só se tenha dado formalmente em 1825. O grosso do recorde de gente aconteceu entre 1826 e 1850 quando Portugal já não tinha colónias na América. O que quer dizer que o grosso do tráfico de escravos foi feito por e para um novo país chamado Brasil. 

O tráfico de escravo feito pelos portugueses e outros países ocidentais é muito inferior, em termos quantitativos, ao tráfico de escravos levados a cabo pelos países muçulmanos. Estes países terão levado 14 milhões de negros escravizados – muito mais do que o Ocidente levou – e terão adquirido também milhões de escravos ocidentais e asiáticos. O comércio da escravatura feito para o mundo muçulmanos foi, aliás, muito dilatado no tempo, porque começou no seculo VII e estendeu-se até ao seculo XX, até mesmo até aos nossos dias pois sabemos que ressurgiu na Líbia. Onde andam as vozes indignadas da esquerda?

No Ocidente, a maior potência esclavagista não foi Portugal, mas os Estados Unidos da América. Os Estados do Sul, estiveram até à derrota na Guerra Civil, em 1865, aquilo a que se chama Breeding, ou seja a reprodução biológica. Em 1800, s EUA tinham 9 mil escravos, em 1820 já tinham 1,5 milhões. Em 1850 tinham 3,2 milhões e em 1865 eram 4 milhões, convertendo o país no maior reservatório de escravos do hemisfério ocidental. 

O combate contra a escravatura em Portugal, não foi uma iniciativa da esquerda da época mas sim uma iniciativa de Sá da Bandeira, Morais Sarmento, Palmela, entre outros, todos de direita. Aliás a esquerda da época foi o maior obstáculo à aplicação das políticas abolicionistas em Portugal.

E mais: se a relação de Portugal com a escravatura é mal contada pelos radicais de esquerda, a sua relação com a abolição ainda o é mais. Porque esquecem-se de dizer  que foram os países ocidentais, Portugal incluído, a acabar com a escravatura.  O abolicionismo é uma ideologia ocidental, Não houve abolicionismos asiáticos ou africanos. 

A extrema-esquerda também vem com a tese que teriam sido os escravos revoltosos  que, através da sua luta, teriam chegado à abolição da escravatura e forçado os países ocidentais a decretá-la. Percebe-se a intenção, marcadamente política , mas é falsa.  Aliás as grandes revoltas de escravos foram menos frequentes do que se diz. Nos 350 anos que vão desde o inicio do tráfico atlântico até à época do abolicionismo e da Revolução Francesa, houve nove revoltas em todo o mundo colonial. Porém elas não visavam o fim da escravatura. Visavam sim, a libertação dos revoltosos que, uma vez libertos e livres, escravizavam outras pessoas.

Por isso quando ouvirem os radicais de esquerda dizerem que foram os escravos rebeldes a provocarem a abolição, peçam que vos mostrem onde e quando, nos anos imediatamente anteriores às decisões de abolir, terá havido revoltas dessas em colónias portuguesas, espanholas, dinamarquesas, suecas, inglesas, holandesas, nos Estados Unidos, etc.

A escravatura não acabou devido à Revolução Industrial, não acabou devido a revoltas escravas. Acabou graças aos brancos que combateram ao lado de organizações abolicionistas e nos exércitos de forma conjugada, cooperando uns com os outros para por fim a esse flagelo (que não foi inventado pelos brancos).

 “Se não tivesse havido o movimento abolicionista, os sistemas escravistas nas Américas não tinham acabado no séc. XIX”  David B. David

A partir de finais do séc. XVIII e durante cem anos, o Ocidente analisou e discutiu longamente a questão da escravatura e, ao faze-lo, trouxe à luz do dia todos os seus dramas e horrores. E isso teve custos humanos (brancos ocidentais).  Pense-se na guerra civil norte americana que fez mais de 600 mil mortos.

Porque razão, pergunta Eduardo Lourenço, há esta necessidade da esquerda de crucificar o passado português?

Artigos do mesmo autor

Enid Blyton (11 de Agosto de 1897 – 28 de Novembro de 1968) foi uma escritora inglesa de livros de aventuras para crianças e adolescentes. Faz parte do meu imaginário e de muitos como eu que leram o Nodi, enquanto crianças e devoraram “os cinco” já a caminhar para a adolescência, sem esquecer “os sete” […]

Em Fevereiro de 1986 foi barbaramente assassinado pelas FP-25 de Abril Gaspar Castelo Branco, às portas de sua casa, em Lisboa. O país estava em choque com os assassinatos, assaltos e actos terroristas levados a cabo pelas Fp-25 de Abril, lideradas pelo Otelo Saraiva de Carvalho. À altura dos factos, em 1982, foi nomeado Director-Geral […]

Portugal. Palavra clara, dinâmica, projectada sobre o futuro numa ressonância marítima. Nome gritado pelos nossos mortos, em cada pedra e calçada da fortaleza e castelo, em cada muro da herdade, em cada laje de sepultura, em cada lar, em cada uma das pegadas que os portugueses deixaram por toda a redondeza da terra. Hoje confunde-se […]

Passados 47 anos do 25 de Abril de 1974, o tempo das ilusões optimistas e românticas chegou ao fim. Confrontado o povo com a dura realidade económica e social desta época presente, o povo amadurece dia após dia, indo ao encontro das ideologias preconizadas e proclamadas efusivamente pelo Partido Chega. Compreende-se que a grande maioria […]