Arouca com mercado oitocentista para lembrar monjas e Alexandre Herculano

Arouca recebe de sexta-feira a domingo mais uma edição da recriação 'História de um mosteiro', que replicará costumes do tempo das monjas da Ordem de Cister com um mercado oitocentista e encenações sobre o escritor Alexandre Herculano (1810-1877).

© Facebook Arouca - História de um Mosteiro

Todo o programa desse evento do concelho no distrito de Aveiro tem como principal cenário o Mosteiro de Santa Maria de Arouca, que, erigido no século XVII sobre edificado já existente, está classificado como Monumento Nacional desde 1910 e foi habitado por freiras até 1886.

A organização da iniciativa cabe à câmara municipal, que, em colaboração com cerca de 30 associações locais e 250 atores e figurantes, definiu para este ano um cartaz especialmente evocativo da Rainha Santa Mafalda, monarca que viveu como religiosa no referido mosteiro e que deixou instruções para nele ser sepultada — como se lê no testamento que, depositado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo desde 1854 na sequência da extinção das ordens religiosas, regressou a Arouca 170 anos depois para exposição pública temporária na semana passada.

A presidente da autarquia, Margarida Belém, recorda que foi o escritor e historiador Alexandre Herculano a levar para Lisboa o testamento régio, enquanto comissário da então Academia Real das Ciências, e declara hoje à agência Lusa: “Na edição deste ano vamos recriar a visita do escritor a Arouca, onde ele esteve de 21 a 23 de julho de 1854, para a realização do inventário dos Arquivos Episcopais e Mosteiros”.

A autarca diz que, “entre o riquíssimo acervo monástico da época”, guardado “com zelo pelas monjas ao longo dos séculos”, o autor de “Eurico, o Presbítero” escolheu nessa altura “os documentos que considerou património da Nação, levando-os para o Arquivo Nacional”.

Outras situações recriadas durante os três dias do evento serão, por exemplo, a entrega das varas do poder judicial pela abadessa, a visita do bispo de Lamego para beatificação da rainha filha de D. Sancho I, as negociações dos “vendedores de banha da cobra”, os anúncios dos pregoeiros e ardinas da vila, o roubo de alimentos no mosteiro, a preparação de barrelas de roupa, a cerimónia de tonsura em que as noviças “renunciam à vaidade” dos cabelos e a entrega de uma criança abandonada à porta da chamada “Roda dos Enjeitados”.

O programa também simulará a confeção de curas e remédios na botica das monjas, a visita de familiares aos presos do mosteiro, a punição de uma noviça “na sala do capítulo”, um casamento à moda da época e a aclamação da Rainha D. Maria II, ao que se juntarão ainda preparativos de uma ceia barroca, duelos poéticos e um despique entre bandas de música.

“É uma viagem ao passado áureo do Mosteiro de Santa Maria de Arouca e ao burgo que floresceu à sua volta”, realça Margarida Belém. “Uma experiência única em que o visitante pode conviver com os preceitos da Ordem de Cister, observando o quotidiano de oração e trabalho das monjas, que outrora viviam afastadas dos olhares mundanos”, acrescenta.

Esse recato não invalida, nota a autarca, que as religiosas fossem decisivas na gestão do território, considerando que “as comunidades cistercienses escolhiam com critério os locais onde habitavam e rapidamente os transformavam em centros de culto, de cultura e de dinâmica económica”.

“Povoar e ordenar o território, trazer inovação à agricultura, introduzir novos produtos, como o vinho, as hortícolas e, claro, os doces conventuais — tudo isto é herança de Cister”, conclui Margarida Belém.

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