Pedro Queiroz Pereira diz que Salgado procurou comprar Marcelo Rebelo de Sousa

O empresário Pedro Queiroz Pereira acusou Ricardo Salgado de comprar Marcelo Rebelo de Sousa ao entregar trabalho jurídico do BES à antiga companheira do atual Presidente da República, segundo o testemunho hoje ouvido no julgamento do processo BES/GES.

© LUSA/ANDRE KOSTERS

“O doutor Salgado fez o seguinte: pega no Departamento Jurídico e manda entregar trabalhos de cobrança à doutora Rita Amaral Cabral, que tem um escritório de advocacia. Para quê? Para recuperar a relação com o professor Rebelo de Sousa. Se for, por exemplo, ao escritório da doutora Rita Amaral Cabral, mais de metade ou 60% do trabalho era o BES que dava. Era uma forma de comprar o professor Rebelo de Sousa”, afirmou o industrial falecido em 2018.

Pedro Queiroz Pereira recordou que houve uma deterioração da relação entre Marcelo Rebelo de Sousa e Ricardo Salgado, quando o primeiro foi a um congresso do PSD e falou “mal do GES”, porque “era conveniente mostrar que se era contra os grandes grupos económicos”, o que deixou a relação entre ambos “muito tremida” quando até passavam férias juntos, segundo o antigo líder da Semapa.

“Só que os interesses eram grandes demais: o interesse político de Marcelo Rebelo de Sousa era grande, mas precisava do dinheiro por trás; Salgado tinha poder económico, mas não tinha poder político. Foram as mulheres, Rita Amaral Cabral e Maria João Salgado, que trabalharam na relação”, revelou o industrial no depoimento como testemunha perante o Ministério Público (MP) em janeiro de 2018.

De acordo com o empresário, que faleceu em agosto de 2018, Ricardo Salgado agiu então através da companheira de Marcelo Rebelo de Sousa para reparar a relação com o antigo líder social-democrata, mediante a entrega de trabalho jurídico e a posterior nomeação como administradora da Semapa.

“Para ajudar Ricardo Salgado, [Rita Amaral Cabral] veio para administradora da Semapa por alturas de 2004, 2005 ou 2006, juntamente com Rui Silveira. E Rui Silveira fez uma opção da vida dele que foi seguir Ricardo Salgado até à morte. O que Ricardo Salgado dizia era lei e ele chega a administrador e nem tem capacidade para isso… Rui Silveira é um advogado medíocre, mas que desempenhava uma função muito importante de lealdade ao chefe”, declarou.

Na sessão que decorre no Juízo Central Criminal de Lisboa, até agora preenchida com a reprodução do depoimento de Pedro Queiroz Pereira, o empresário lembrou também a guerra de poder com Ricardo Salgado, quando o BES tentou assumir o comando do seu grupo através de posições acionistas e da influência sobre as suas irmãs.

“No início dos anos 2000, os bancos começaram a ser obrigados a cumprir rácios mais exigentes e tiveram de fazer aumentos de capital. Depois, diziam que a procura era oito vezes superior e isso foi sempre mentira… financiaram com as ‘offshores’, a concorrer com dinheiro do próprio banco, e vinham para os jornais dizer que toda a gente queria ações do BES. E eu vivia revoltado com isso. Foi assim que eles compraram a minha irmã Margarida”, notou.

“Deram-lhe as ações da ‘offshore’ e ela deu as ações dela no grupo. Mas não disseram quem era, diziam que era um investidor norueguês, e depois apareceram lá Rita Amaral Cabral e Rui Silveira como administradores. Depois só lhes faltava comprar a minha outra irmã. Aquilo era uma vigarice completa”, observou, resumindo: “Já desde 2001 que eu não tinha confiança nenhuma [em Ricardo Salgado], mas fingia”.

O industrial acusou ainda Ricardo Salgado e outros administradores do BES, como Rui Silveira, de acharem que “eram Deus na Terra, que mandavam no país e que eram donos do mundo” e destacou a existência de ameaças veladas do ex-presidente do Banco Espírito Santo (BES) ao governador do Banco de Portugal.

“O Ricardo Salgado chegou a ameaçar o governador do Banco de Portugal a dizer: ‘eu já estou há muitos anos e os governadores mudam’. Assim como quem diz, ‘se calhar tenho de falar com alguém para te tirar’. Era uma prepotência desmedida”, finalizou.

Últimas do País

As burlas foram responsáveis no ano passado por um prejuízo patrimonial superior a 65 milhões de euros, menos 41% face a 2023, uma diminuição que acompanha o decréscimo das denúncias deste tipo de crime em 2024, revela a PSP.
Recusou abandonar o hospital após alta clínica, intimidou profissionais de saúde e chegou a exigir casa e cirurgia inexistente. O caso arrastou-se durante meio ano no Hospital Amadora-Sintra e só terminou com intervenção policial.
A PSP deteve nos últimos dias no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, três cidadãos estrangeiros procurados internacionalmente por crimes sexuais, fraudes e burlas transnacionais, e captação indevida de depósitos, anunciou esta sexta-feira a força de segurança.
Portugal registou um aumento de infeções respiratórias graves, sobretudo nos maiores de 65 anos, e excesso de mortalidade na região Norte em pessoas de 75 a 84 anos, revelam dados do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA).
Agentes da PSP foram alvo de apedrejamento no Bairro da Cova da Moura, depois de tentarem intercetar uma viatura em fuga. Os suspeitos escaparam, mas deixaram para trás indícios de crime.
Dezenas de repartições de Finanças estão encerradas durante a manhã de hoje, até às 13h, e outras enfrentam constrangimentos no atendimento, enquanto decorre uma reunião ‘online’ de trabalhadores da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) para discutir reivindicações salariais e laborais.
Uma mulher de 60 anos foi constituída arguida pela GNR por utilização indevida de cartão bancário na aquisição de vários bens, num valor superior a 3 mil euros, no concelho do Sabugal.
O segundo dia de greve dos trabalhadores da função pública estava às 09:00 de hoje a ter uma adesão elevada, com 75% na educação e 90% nas cantinas das universidades e politécnicos, disse à Lusa fonte sindical.
Os doentes classificados como urgentes no hospital Amadora-Sintra enfrentaram hoje de manhã tempos de espera que rondava as 12 horas para a primeira observação, segundo dados do portal do SNS.
O desaparecimento de uma bebé no Hospital de Gaia não mostrou apenas uma falha de segurança: revelou um mercado milionário sem escrutínio, contratos feitos à porta fechada e sistemas supostamente infalíveis que afinal podem ser contornados.