Numa entrevista à Lusa a propósito de investimentos brasileiros em Portugal, Otacilio Soares da Silva Filho disse que há interesses de grandes empresas brasileiras em investir nos setores da banca, da saúde e da construção civil, portugueses, neste último caso na habitação em grande escala.
E adiantou que “pelo menos dois” bancos brasileiros já avançaram com pedidos de licença ao Banco de Portugal para poderem operar no mercado português.
“Um banco brasileiro é um banco de Estado (…) e o outro é um banco privado brasileiro. E os dois pediram licença. Agora, atendem pelos processos do Banco de Portugal”, afirmou, sublinhando que “os empresários do setor financeiro brasileiro respeitam o ritmo das autoridades portuguesas”.
Segundo Otacílio Soares, o projeto inicial destes bancos não se destina ao mercado de retalho, ou seja, ao fornecimento de serviços financeiros para famílias e pequenas empresas, como gestão de crédito, depósito e dinheiro, nos seus balcões ou agências.
“O retalho português já está bem atendido pelos grandes bancos de retalho. Por isso, os interesses brasileiros vêm primeiro num conceito do seu campo digital, em que o Brasil é bem desenvolvido”, esclareceu.
E é aí que “vão demonstrar aos clientes portugueses o que é que pode ser feito de forma digital”.
Além disso, não têm a intenção de investir pela via da aquisição de outros bancos. “O interesse mesmo é ter uma autorização nova, que começa do zero”, sublinhou.
Para o presidente da CCILB, os bancos brasileiros “sentem-se atraídos pelos avanços na tecnologia financeira e pelo ambiente regulatório favorável” em Portugal, admitindo que “o Banco Itaú e grupos de ‘fintechs’ [tecnologia financeira] estão explorando o mercado português”.
Já na saúde, disse que há grandes empresas brasileiras em consulta e negociação para “a consolidação de clínicas dentárias e de dermatologia, para aquisição de hospitais regionais e também para cuidados paliativos” em Portugal.
“Há negociações em curso” com as autoridades portuguesas, adiantou, admitindo que algumas possam estar fechadas já “no decorrer de 2025”.
Os investimentos, a concretizarem-se, ocorrerão em todo o país.
Também duas empresas brasileiras do setor da construção civil estão a estudar com as autoridades portuguesas as possibilidades de investirem, por todo o país, na construção de habitação em larga escala.
“Nós, os brasileiros, estamos cientes de toda a atenção que o Governo português tem dado para procurar melhorar o nível de cotação das empresas, o nível de manutenção de bons profissionais em Portugal, com as questões de renda para as pessoas mais jovens, com menos de 35 anos”, declarou, realçando que “isso tudo favorece na análise de investimento em Portugal”.
À medida que estas empresas brasileiras estejam presentes na Europa, via Portugal, “sem dúvida” que faz sentido que o Banco do Brasil tenha uma presença mais forte em Portugal, defendeu.
“É uma instituição que tem como dar suporte e apoio de maneira bastante vigorosa” a estes clientes e aos seus projetos, considerou.
“Um banco brasileiro trabalhando em Portugal com a sua carteira comercial pode favorecer a venda de produtos brasileiros feitos pelas empresas brasileiras que estão no mercado português” ou pode “providenciar financiamentos para ampliação das unidades industriais” dessas empresas, por exemplo, referiu.
Para reforçar a ideia do quanto o investimento de empresas brasileiras em Portugal pode crescer nos próximos anos, Otacilio Soares disse que a CCILB regista uma a duas consultas por semana de empresas brasileiras que querem investir em Portugal, principalmente nos últimos dois anos.
Também na APEX – Agência para a Promoção das Exportações e Investimentos do Brasil, mais de 60% dessas consultas de empresas ou empresários brasileiros que pretendem investir no exterior já são sobre Portugal.
No período anterior à pandemia da covid-19, 80% das consultas de empresários brasileiros para investir no exterior eram sobre o mercado dos Estados Unidos da América, adiantou.
O Banco de Brasil está presente em Portugal desde 1972 e presta atendimento a clientes com conta no mercado português, dos segmentos Corporate e Private Banking, através de agendamento prévio num escritório em Lisboa.
Segundo o site do Itaú BBA, o Itaú Europe é autorizado como instituição de crédito junto do Banco de Portugal e como intermediário financeiro junto da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), mas o seu escritório é fora de Portugal.