Por décadas, o 25 de Abril foi consagrado como o dia da liberdade, um símbolo incontornável da queda da ditadura, do fim da censura, do regresso do povo à História, mas nem todos levantam o cravo em punho com o mesmo entusiasmo, porque para muitos, essa data tornou-se o início de um outro silêncio, o daqueles que perderam tudo e nunca foram ouvidos.
Nas celebrações oficiais, sobram discursos e faltam memórias, fala-se de Liberdade, mas esquecem-se dos que, após o 25 de Abril, foram perseguidos não pela PIDE, mas por comités revolucionários que confundiram democracia com revanche, porque a censura mudou de lado, vestiu-se de vermelho, e o contraditório passou a ser tratado como crime, onde muitos dos que lutaram pela liberdade viram-se calados novamente, desta vez pela mão daqueles que se diziam libertadores.
A descolonização, tida por alguns como exemplar, foi, para outros, um êxodo forçado, onde famílias inteiras, expulsas de terras onde tinham nascido e vivido por gerações, foram espoliadas, humilhadas, abandonadas à sua sorte e o Estado português, que tinha o dever de proteger os seus cidadãos, virou-lhes as costas com frieza, em que o desprezo foi tal que, em Lisboa, chegou-se a ouvir: “Atirem-nos aos tubarões”.
Até hoje, nenhum pedido de desculpas, nenhuma reparação, apenas a retórica cínica de quem fala em “compensações históricas” com a leveza de quem nunca soube o que é perder tudo.
É por isso que muitos recusam celebrar essa data, não por negarem a importância da queda do regime, mas por saberem que a História contada nas praças não é a mesma que viveram na pele, porque consideram que os militares de Abril, hoje ovacionados, não libertaram, venderam-se, porque as ex-colónias foram entregues aos interesses soviéticos da época, sem que se pensasse um segundo nos povos que ali viviam.
Felizmente, houve 25 de Novembro, a tal data esquecida, marginalizada, mas que salvou a democracia do abismo totalitário, porque foi nesse dia que Portugal reafirmou o seu direito à liberdade plural, à divergência, à reconstrução institucional e sem essa correção, talvez hoje nem sequer houvesse espaço para levantar a voz contra os erros de Abril.
Mas Portugal está longe de estar curado, a democracia foi conquistada, mas está doente, com a Corrupção, Nepotismo, Compadrio, pois vivemos hoje sob um sistema que recompensa o oportunismo e pune o mérito, onde os honestos pagam a conta dos que vivem à sombra do Estado.
É preciso romper, não com a democracia, mas com este simulacro de justiça social, é preciso dar um murro na mesa, exigir um País onde o mérito pese mais que o favor, onde o futuro não dependa do “amigo certo”, mas do esforço de cada um.
Não se trata de rejeitar Abril, trata-se de exigir que ele cumpra, de verdade, o que prometeu.
CHEGA de corrupção.
CHEGA de impunidade.
Viva o 25 de Abril, com todas as suas luzes e sombras.
Mas viva, também, o 25 de Novembro, o dia em que Portugal salvou a sua democracia.