Há uma expressão que se popularizou nos círculos políticos anglo-saxónicos para descrever a histeria anti-Trump – “Trump derrangement syndrome”, ou a síndrome do transtorno (anti-) Trump. Os sintomas, reiterados e espetacularmente observáveis, incluem uma total incapacidade para analisar criticamente com um mínimo de lucidez, racionalidade ou sentido das proporções qualquer intervenção ou medida proposta pelo presidente americano.
Por cá, os sintomas são semelhantes – embora a sua causa seja mais abrangente. Dir-se-ia que o sistema imunitário do nosso comentariado e da classe política nacional (não serão sinónimos?) se encontra fatalmente debilitado por mais de 50 anos de exposição excessiva a um ambiente de ecossistema protegido. Portugal tornou-se numa espécie de reserva ambiental de esquerdismo na Europa. É que para além do desarranjo psíquico que o líder do mundo atlântico instintivamente provoca nos espíritos iluminados que congestionam o nosso espaço mediático, também muitas outras figuras (des)venturadamente os quebrantam. As manifestações europeias da virose incluem os clássicos Marine Le Pen, Viktor Órban, Santiago Abascal e Nigel Farrage; as suas recentes variações internacionais incidem, com a especial virulência da novidade, em figuras como Elon Musk e Javier Milei. Mas os vírus mais violentamente capazes de quebrar as réstias de imunidade cognitiva e moral da suposta elite bem-pensante nativa são André Ventura e o CHEGA.
Como escrevi no meu último artigo, Portugal é hoje um país endividado, envelhecido, disfuncional e desmotivado. Com cerca de um quarto da população em risco de pobreza, caminhamos, cantando e rindo de cravos no peito, para a progressiva extinção – seremos o 4.º país mais envelhecido do mundo, em 2050 (relatório do Centro Regional de Informação para a Europa Ocidental das Nações Unidas), com 40% da população acima dos 60 anos. Somos também o 5.º país mais desigual da Europa (e o 2.º da UE, superados apenas pela Bulgária), em que 5% da população detém 42% da riqueza nacional.
Olho para estes dados e pergunto – afinal, onde está a doença, e qual será a cura? Será que meio século de (des)governo deste regime de rotativismo socialista nos trouxe prosperidade, segurança ou vitalidade enquanto Nação? À endémica paralisia económica e hostilidade estatizante à iniciativa privada do Portugal de abril vem agora somar-se a constatação irrefreável da ingovernabilidade do statuos quo político. É caso para a atualizar a máxima romana, aplicando-a ao estado: não se governa, nem nos deixa governar.
Somos o equivalente da comunidade afro-americano estado-unidense, amarrada às miríficas promessas igualitárias do partido democrata (os socialistas deles), que a troco de esmolas cativou o espírito de iniciativa em que assenta a verdadeira prosperidade. Quanto Trump lhes perguntou simplesmente “o que têm a perder?”, atingiu um nervo. Décadas de subornos públicos, tributários da mesma mentalidade pré-capitalista que nos caracteriza (a expressão é de António José Saraiva, referindo-se ao esbanjamento do ouro do Brasil em construções de prestígio, como o Convento de Mafra, incapazes de gerar receitas futuras através da multiplicação do capital investido) afundaram parte substancial desse eleitorado nas águas estagnadas do desperdício e das oportunidades de crescimento perdidas. Nas palavras de Thomas Sowell, economista de génio: as pessoas não votam à esquerda porque são pobres – são pobres porque votam à esquerda.
Dirigindo-se aos portugueses, pergunta André Ventura: o que temos a perder em votar CHEGA? Que possível métrica – política, social, moral, económica ou securitária – abona em favor deste regime? O que há de magnífico a preservar, para que o CHEGA seja temido como potentíssima ameaça, cuja quarentena profilaticamente se impõe? Ou será que o vírus é precisamente a situação, de que a André Ventura e o partido são a vacina?
O delírio manifestado pela síndrome do transtorno anti-CHEGA é a instintiva reação da doença em relação à cura – a longa agonia da corrupção arreigada, o estertor da cleptocracia e do nacional porreirismo como forma de governo. Como tratar esta condição? Recomenda-se o ginásio cívico da tolerância e umas vitaminas de inteligência.