De acordo com o Ministério do Interior britânico, que anunciou esta primeira deportação em comunicado, o migrante é um homem que chegou a Inglaterra em agosto a bordo de um pequeno barco que partiu da costa francesa.
O migrante é de origem indiana, segundo o Governo francês, e foi deportado a bordo de um voo comercial da Air France.
Concluído em julho, durante a visita de Estado do Presidente francês, Emmanuel Macron, ao Reino Unido, o acordo entrou em vigor no início do mês passado, tendo o Governo britânico anunciado as primeiras detenções no dia 07 de agosto.
O tratado franco-britânico baseia-se no princípio de “um por um”.
A França receberá migrantes que tenham chegado ao Reino Unido em “pequenos barcos” e cujos pedidos de asilo não sejam admissíveis e Londres receberá pessoas localizadas em França que se tenham candidatado a migrar através de uma plataforma ‘online’, dando prioridade às que têm ligações ao Reino Unido.
O Governo de Keir Starmer, em luta contra a ascensão do partido de extrema-direita Reform UK, prometeu conter as travessias do Canal da Mancha para o Reino Unido, cujos números atingiram um recorde desde o início do ano, com mais de 31.000 chegadas.
Fortemente criticado pelas organizações de defesa dos direitos humanos, este acordo-piloto, previsto para durar até junho de 2026, visa impedir novas travessias.
A recém nomeda ministra do Interior britânica, Shabana Mahmood, saudou esta primeira deportação, afirmando, em comunicado, que a considera um “primeiro passo importante para a segurança” das fronteiras do país.
“Isto envia uma mensagem às pessoas que atravessam [o Canal da Mancha] em pequenas embarcações: se entrarem ilegalmente no Reino Unido, serão deportados”, disse.
Outros voos para deportação de migrantes para França estão agendados para esta semana e para a próxima, avançou o Ministério do Interior, adiantando que os primeiros migrantes vindos de França e autorizados a entrar no Reino Unido também chegarão “nos próximos dias”.
Na terça-feira, o Governo britânico sofreu um revés quando o Tribunal Superior de Londres bloqueou temporariamente a deportação, prevista para o dia seguinte, de um migrante eritreu, que contestou a sua expulsão, alegando ser vítima de tráfico humano.
O Governo de Londres decidiu recorrer da decisão e anunciou que “iria examinar” a legislação sobre a escravatura moderna para evitar que fosse “mal utilizada” para evitar deportações.
As organizações humanitárias, pelo seu lado, estão a organizar-se para ajudar os migrantes a apresentarem recursos.
A associação francesa Auberge des Migrants denunciou “um comércio cínico de vidas humanas”, tendo a sua porta-voz, Stella Bosc, considerado que o acordo está condenado ao fracasso.
Também o responsável, da organização Bail for Immigration Detainees (BID), Pierre Makhlouf, apontou a “falta de clareza” que abre espaço para inúmeros recursos.
De acordo com os meios de comunicação britânicos, dois aviões que deveriam transportar migrantes para França no início desta semana acabaram por levantar voo sem qualquer migrante a bordo.
Segundo o jornal The Guardian, 92 pessoas foram detidas no início da semana e aguardam a sua expulsão para França.
Desde que assumiu o poder, em julho de 2024, o Governo trabalhista, que abandonou o plano dos conservadores de deportar os requerentes de asilo para o Ruanda, tem atuado em várias frentes para tentar reduzir a imigração irregular, assinando vários acordos de cooperação com outros países (nomeadamente Alemanha e Iraque) e reforçando os recursos da polícia fronteiriça para combater as redes de tráfico.