Numa apresentação perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) das suas prioridades para 2024, Guterres avaliou que, desde os cuidados de saúde até à educação, e da ação climática aos sistemas alimentares, a IA generativa é a “ferramenta potencial mais importante para construir economias e sociedades inclusivas, verdes e sustentáveis”.
Contudo, o líder da ONU observou que, além dos efeitos e riscos que está a criar, a IA está também concentrada em poucas empresas e em ainda menos países, gerando desigualdades.
“A tecnologia deve reduzir as desigualdades e não reproduzi-las – ou colocar as pessoas umas contra as outras. A IA afetará toda a humanidade, por isso precisamos de uma abordagem universal”, defendeu.
As Nações Unidas lançaram no ano passado um órgão consultivo sobre IA com o intuito de reunir Governos, empresas privadas, universidades e sociedade civil em torno de um alinhamento mais estreito entre as normas internacionais e a forma como a tecnologia é desenvolvida e implementada.
O órgão consultivo da IA publicará o seu relatório final no próximo verão, e as suas recomendações contribuirão para o Pacto Digital Global proposto para adoção na Cimeira do Futuro, em setembro deste ano.
“A Inteligência Artificial não deve substituir a iniciativa humana. Foi criada por humanos e deve estar sempre sob controlo humano”, advogou hoje Guterres.
“Devemos agir rapidamente, ser criativos e trabalhar em conjunto para garantir barreiras de proteção e padrões éticos adequados, promover a transparência e desenvolver capacidades nos países em desenvolvimento”, acrescentou.
Guterres alertou ainda que a velocidade e o alcance da desinformação e do ódio têm aumentado exponencialmente na era digital, resultando na ascensão do antissemitismo, da intolerância anti muçulmana, da perseguição de comunidades cristãs minoritárias e da ideologia da supremacia branca.
“Estamos a pressionar as empresas tecnológicas a assumirem a sua responsabilidade de parar de amplificar e capitalizar a propagação de desinformação tóxica e outros conteúdos nocivos”, indicou.
Nas suas prioridades para este ano, o ex-primeiro-ministro português deu ainda grande destaque à ação climática, no seguimento daquela que tem sido uma das prioridades do seu mandato na liderança das Nações Unidas.
Guterres afirmou que a humanidade deve “fazer as pazes com o planeta”, frisando que se trata de uma guerra que o homem não consegue ganhar.
Salientando que a crise climática continua a ser o “desafio que definirá o nosso tempo”, o secretário-geral observou que os próximos anos serão fundamentais para determinar se o mundo conseguirá limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus celsius.
“Para permanecer dentro desse limite, temos de reduzir as emissões em 45% até 2030, em comparação com os níveis de 2010. (…) A boa notícia é que nunca estivemos tão bem equipados para evitar o colapso climático. E os benefícios das energias renováveis são mais claros a cada ano”, disse, anunciando que mobilizará todo o sistema das Nações Unidas para ajudar os países a atingir essas metas.
Para os países em desenvolvimento, esta é uma oportunidade, segundo Guterres, para criar planos climáticos nacionais que funcionem como planos nacionais de transição e de investimento.
Para o G20 (Grupo dos 20, formado pelas maiores economias do mundo), esta é uma oportunidade de mostrar “verdadeira liderança no cenário global”, acelerando uma eliminação justa e equitativa dos combustíveis fósseis, acrescentou.
“A era dos combustíveis fósseis está nos seus últimos estágios. A revolução das energias renováveis é imparável. Mas temos de agir este ano para garantir que a transição seja (…) suficientemente rápida para evitar uma catástrofe climática total. Isso exige triplicar a capacidade global de energia renovável e duplicar a eficiência energética até 2030, conforme acordado na COP28”, declarou.
Saudando o compromisso do Brasil de reunir as discussões sobre clima e finanças como presidente do G20, o líder da ONU instou todos os países a chegar a um acordo sobre um novo e ambicioso objetivo de financiamento climático até à COP29, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2024, que será realizada em novembro no Azerbaijão.