Na próxima quarta-feira, a Hungria assinala 20 anos de integração na União Europeia (UE), tendo feito parte daquele que foi até agora o maior alargamento do bloco comunitário a 10 países, mas a data é marcada por tensões entre Budapeste e Bruxelas pelo bloqueio de verbas europeias para exigir o cumprimento das normas relacionada com o Estado de direito.
Em entrevista à agência Lusa em representação do executivo húngaro, o diretor político de Viktor Órban, Balázs Órban, salienta que “a imagem da UE é bastante positiva entre os húngaros porque é uma nação antiga no meio da Europa”, mas lamenta que os últimos anos não tenham sido de “histórias de sucesso da integração europeia”.
“As coisas pioraram desde que os britânicos saíram [da UE] e desde que a cooperação centro-europeia, devido à guerra [da Ucrânia], se tornou mais complicada. Atualmente, o equilíbrio entre as forças soberanistas pró-europeias e as forças federalistas pró-europeias já não existe e a Hungria será sempre um país pró-europeu, mas também soberanista, que não é favorável à ideia de federalização e de criação de um super-Estado europeu”, vinca o também deputado húngaro, que partilha o mesmo apelido com o chefe de governo húngaro, no poder desde 2010.
Para Balázs Órban, em causa está “um problema de liderança” dos atuais altos funcionários das instituições europeias, como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que a Hungria tem criticado, nomeadamente pela ativação do mecanismo de condicionalidade do Estado de Direito para exigir mudanças nas políticas húngaras relacionadas com o controlo sobre os tribunais e os media, as organizações sem fins lucrativos e os académicos.
Por essa ativação, a Hungria tem cerca de 21 mil milhões de euros congelados em fundos comunitários (coesão, marítimos e assuntos internos).
“Tenho quase a certeza de que não é um problema de estrutura, é um problema de liderança, porque os anteriores eram mais bem-sucedidos”, compara Balázs Órban, numa alusão ao antecessor de Ursula von der Leyen, Jean-Claude Juncker.
Embora admitindo que, na UE, seja difícil equilibrar posições de 27 Estados-membros com características, atitudes geopolíticas e agendas ideológicas diferentes, o responsável condena que Bruxelas queira “colocar toda a gente na mesma direção em muitos domínios”, nomeadamente por o executivo comunitário (que tem a iniciativa legislativa) ter avançado com dossiês relativos à gestão migratória ou à agenda ‘verde’.
Criticando a “opressão ideológica” de Bruxelas, Balázs Órban adianta, neste 20.º aniversário, que a UE “não precisa de maior nível de integração porque o que tem é suficiente”.
“O projeto europeu tem de ser salvo porque agora está em apuros e, se a atual liderança e a atual atitude de liderança se mantiverem, então haverá uma desintegração” da UE, adianta.
Após 20 anos de pertença ao bloco comunitário, a Hungria é dos Estados-membros que mais recebe verbas comunitárias, embora tenha fundos suspensos por violação das regras europeias, e onde metade da população tem imagem positiva do projeto europeu.
Questionado sobre os benefícios da entrada na UE, em 2004, Balázs Órban destaca a livre circulação e o mercado único, dado a Hungria ser um país exportador (agricultura, serviços e indústria).
“É muito importante para nós termos os produtos produzidos na Hungria e podermos vendê-los”, conclui, nesta entrevista à Lusa.
Neste 20.º aniversário, a pró-europeia Hungria vê-se isolada na UE pelo posicionamento do primeiro-ministro húngaro, no poder desde 2010, contra questões como alargamento à Ucrânia ou o apoio a Kiev.