Turismo em massa em Portugal ameaça identidade da gastronomia local

O turismo em massa em Portugal está a ameaçar a identidade da gastronomia local e a acelerar o consumo de alimentos ultraprocessados, revelou um estudo conduzido por embaixadores do Pacto Climático Europeu.

© D.R.

“O turismo deveria ser um motor de valorização da gastronomia regional, mas está a reforçar padrões alimentares homogeneizados e menos saudáveis, colocando em risco a identidade gastronómica e a segurança alimentar das regiões”, alertou a embaixadora do Pacto Climático Europeu, Amélia Delgado, que coordenou o estudo.

O estudo `Food and Tourism Nexus, Challenges and Opportunities` indicou que o aumento dos preços dos alimentos, sobretudo em épocas de grande afluência turística, tem levado à substituição dos produtos locais e sazonais por alternativas padronizadas, alinhadas com os hábitos dos visitantes.

Segundo os embaixadores do Pacto Climático Europeu, a identidade alimentar portuguesa pode estar em risco, “se não forem adotadas medidas urgentes”.

O Pacto Climático Europeu apelou à Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) para que “assuma um papel central na promoção de políticas que integrem a sustentabilidade alimentar no planeamento municipal”.

“A ANMP tem a responsabilidade de mobilizar os municípios para proteger a cultura alimentar e garantir a valorização dos produtos regionais”.

De acordo com a investigadora especialista em ciência dos alimentos, o turismo pode e deve ser um aliado da gastronomia tradicional sustentável.

No entanto, “sem uma estratégia clara, continuará a acelerar a substituição dos produtos locais, que rentabilizam o património natural”.

A substituição dos produtos locais é feita por ultraprocessados, “prejudiciais à saúde pública e à resiliência face a roturas nas cadeias de abastecimento, dificultando ainda estratégias de adaptação a alterações climáticas”.

Segundo Amélia Delgado, muitos turistas procuram uma dieta globalizada, baseada em produtos industriais ou exóticos, que não são adaptados ao clima local nem a uma dieta equilibrada, relegando a gastronomia tradicional para segundo plano.

“Como resultado, as grandes empresas do setor alimentar, em especial as que produzem ultraprocessados, têm vindo a dominar o mercado, fornecendo produtos congelados e pré-preparados inclusive à restauração tradicional, onde se crê continuar a satisfazer o cliente, com redução de custos”, disse.

A investigadora explicou ainda que a Dieta Mediterrânica é frequentemente associada à pobreza, “quando, na verdade, representa um modelo equilibrado, onde carne e peixe complementam os pratos em vez de serem protagonistas”.

“É uma cultura alimentar quase vegetariana, onde predomina a sazonalidade e a ausência de desperdício”, frisou, recordando ainda que, no passado, os produtos vendidos por pequenos produtores eram mais nutritivos, “mas hoje enfrentam dificuldades crescentes para competir com as multinacionais que fornecem produtos alimentares não sustentáveis, não saudáveis, mas baratos”.

O preço, disse, não pode ser o principal determinante na compra de alimentos.

“A alimentação é um direito básico e os sistemas alimentares atuais têm custos elevados, para os sistemas de saúde, para as economias locais e para o planeta, que é a nossa casa”, concluiu.

O estudo `Food and Tourism Nexus, Challenges and Opportunities` integra o `Global Nutrition Dialogues Synthesis Report`, um projeto da ONG 4SD, apresentado em março, em Paris.

Além de Amélia Delgado, participaram na investigação e redação os embaixadores do Pacto Climático Europeu Luísa Barateiro, Rosmel Rodriguez e Anna Staszewska, com base em inquéritos a diversos especialistas, incluindo uma médica perita em obesidade, uma produtora de azeite, um chef, investigadoras em urbanismo e turismo e um economista.

Últimas do País

O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Álvaro Almeida, estimou hoje que há cerca de 2.800 internamentos indevidos nos hospitais, quer devido a situações sociais, quer a falta de camas nos cuidados continuados.
O quinto dia de greve dos guardas prisionais, convocada pela Associação Sindical dos Profissionais do Corpo da Guarda Prisional (ASPCGP), está a ter uma adesão que ronda os 80%, adiantou hoje a estrutura representativa.
Os trabalhadores das empresas de distribuição cumprem hoje um dia de greve, reivindicando aumentos salariais e valorização profissional, e voltam a parar no final do ano.
Dois agentes da PSP acabaram no hospital após serem atacados durante uma ocorrência num supermercado. Agressores fugiram e estão a monte.
Um homem é suspeito de ter matado hoje uma criança de 13 anos, morrendo de seguida numa explosão alegadamente provocada por si numa habitação em Casais, Tomar, num caso de suposta violência doméstica, informou a GNR.
O tribunal arbitral decretou hoje serviços mínimos a assegurar durante a greve dos trabalhadores da SPdH/Menzies, antiga Groundforce, marcada para 31 de dezembro e 1 de janeiro, nos aeroportos nacionais.
O Ministério da Administração Interna (MAI) disse hoje que foi registada uma diminuição das filas e do tempo de espera no aeroporto de Lisboa e que todos os postos têm agentes da PSP em permanência.
Quatro urgências de Ginecologia e Obstetrícia estarão fechadas na quarta-feira, número que sobe para cinco no Dia de Natal e seis na sexta-feira, dia de tolerância de ponto na administração pública, segundo o Portal do SNS.
Em 2026, será possível observar em Portugal em agosto um eclipse solar total, um fenómeno raro, que embora parcial em grande parte do país “terá bastante importância”, disse hoje o astrónomo Rui Jorge Agostinho.
Autoridade da Concorrência (AdC) está a investigar um alegado abuso de posição dominante no mercado nacional dos portais de anúncios imobiliários online, “envolvendo o principal grupo empresarial a operar neste segmento em Portugal”, indicou esta terça-feira em comunicado.