O ministro das Infraestruturas referiu esta noite que quem lhe disse em 26 de abril para contactar o SIS foi o secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro e que nessa madrugada reportou a António Costa os acontecimentos.
Durante a audição na comissão parlamentar de inquérito à TAP, que durou mais de sete horas, João Galamba respondeu ao deputado Bernardo Blanco, da IL, que quem lhe disse para contactar o Serviço de Informações de Segurança (SIS) foi “o gabinete do senhor primeiro-ministro”, detalhando que foi o secretário de Estado António Mendonça Mendes.
O ministro das Infraestruturas disse ainda que, depois dos acontecimentos, reportou ao primeiro-ministro, António Costa, o sucedido no ministério e contou “que tinha sido ligado ao SIS”, uma conversa que aconteceu pela 01:00, horas depois de uma primeira tentativa de contacto em que o chefe do executivo não atendeu.
“Ninguém ativou o SIS. […] A única coisa que posso informar é que foi feito um reporte. A única intervenção do gabinete foi só um reporte”, reiterou.
O ministro das Infraestruturas disse ainda que ia tentar confirmar a hora exata de entrada no ministério na noite de 26 de abril, altura do incidente que envolveu o ex-adjunto Frederico Pinheiro, mas garantiu que não transmitiu à chefe de gabinete, Eugénia Correia, a instrução para ligar ao SIS.
“O meu telefonema com António Mendonça Mendes termina depois do telefonema de Eugénia Correia com o SIRP [Sistema de Informações da República Portuguesa]”, afirmou.
Os deputados confrontaram o ministro com diferenças na versão hoje transmitida e na da conferência de imprensa de 29 de abril, em que João Galamba disse que não estava no ministério quando aconteceu a agressão à chefe de gabinete e à adjunta, tendo ligado imediatamente ao senhor primeiro-ministro, que não atendeu, tendo então telefonado ao secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, a quem reportou os acontecimentos.
Segundo o que o ministro disse naquela conferência de imprensa, foi-lhe transmitido naquele telefonema que “devia falar com a ministra da Justiça”.
“Reportei o facto e disseram-me que o meu gabinete devia comunicar estes factos àquelas duas autoridades, coisa que fizemos”, explicou naquela ocasião.
Na audição desta noite, Galamba revelou que ligou ao ministro da Administração Interna, algo que não tinha dito na conferência de imprensa de 29 de abril, que “foi feita quase no calor dos acontecimentos”, admitindo que há coisas que podiam ter sido ditas de melhor forma.
“Reconstruir a verdade dá trabalho”, concluiu.
Relativamente ao grande número de fotocópias tiradas por Frederico Pinheiro, algo que o ministro já tinha referido, bem como a chefe de gabinete no dia anterior, Galamba explicou que “havia a presunção que todas as fotocópias tiradas eram trabalho de recolha de informação para enviar à comissão parlamentar de inquérito”, mas percebeu-se que “isso não era inteiramente assim”.
Na segunda ronda da audição, o deputado suplente do Chega André Ventura, que interveio na primeira ronda, foi substituído pelo efetivo Filipe Melo. Porém, segundo o Regime Jurídico dos Inquéritos Parlamentares citado pelo presidente da comissão, a substituição pelo suplente “vigora pelo período correspondente a cada reunião em que ocorrer”.
Esta questão gerou um momento de discussão na sala e o presidente da comissão de inquérito, António Lacerda Sales, admitiu que na reunião de quarta-feira foi cometida uma irregularidade que não devia ser repetida hoje, terminando com o Chega a abandonar a audição de João Galamba.
Antes deste momento, o ministro e o deputado social-democrata Paulo Rios de Oliveira protagonizaram um momento de tensão, quando Galamba comentou a referência do deputado a “senhoras desvairadas” e uma pergunta feita na quarta-feira à chefe de gabinete sobre o motivo para se ter colocado à frente de Frederico Pinheiro quando foi buscar o computador.
“Quando pergunta ‘porque é que se puseram à frente do agressor’, isto é uma versão nova do ‘ela estava de minissaia’”, disse o governante, irritando Paulo Rios de Oliveira, que interrompeu o ministro e disse não admitir mentiras de João Galamba.
Relativamente à reunião preparatória de janeiro, o ministro reiterou que não vê problema na realização deste tipo de encontros prévios a audições parlamentares, com teor político, mas sem manipulações, dizendo mesmo estar convencido que é o “primeiro governante a vir a uma comissão de inquérito” que não teve uma reunião preparatória com o grupo parlamentar do seu partido.
Já ao deputado liberal Bernardo Blanco, que perguntou sobre o telefonema em que o ministro exonerou Frederico Pinheiro e onde, segundo o governante, o ex-adjunto lhe fez “imensas” ameaças físicas “violentas”, Galamba garantiu: “Pode ter a certeza que teria todo o interesse em que essa conversa toda fosse publicada, adorava senhor deputado”.