O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) constituiu hoje mais um arguido, o oitavo, no processo que envolve sócios gerentes da academia de futebol BSports, em Riba de Ave, Vila Nova de Famalicão, suspeitos de tráfico de seres humanos.
Em comunicado, o SEF refere que deu cumprimento a um mandado de busca domiciliária na cidade de Paredes, distrito do Porto, e constituiu arguido um cidadão português, na sequência do inquérito que corre termos no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Paredes, “e que visa investigar a conduta dos sócios gerentes da Academia BSports”, situada no distrito de Braga.
Fonte judicial disse hoje à agência Lusa que o inquérito passa a ter oito arguidos — cinco sociedades e três pessoas singulares -, acrescentando que este último arguido trata-se de Manuel Cardoso, primo do ex-presidente da Assembleia Geral da Liga de Clubes Mário Costa, também arguido e responsável por aquela academia, que renunciou ao cargo após as buscas de que foi alvo.
No comunicado, o SEF indica que, “no decorrer da busca domiciliária, em que estiveram envolvidos oitos inspetores do SEF, foram apreendidos diversos documentos e material informático, relacionados com a atividade da academia e dos seus clubes satélites”.
“No âmbito da operação ‘El Dourado’, realizada no passado dia 12 de junho, o SEF já havida dado cumprimento a cinco mandados de busca judiciais, tendo, na altura, constituído arguidos dois cidadãos portugueses e cinco sociedades”, lê-se na nota do SEF.
Os dois cidadãos portugueses constituídos arguidos em junho foram Mário Costa e o seu pai.
Aquando das buscas à academia BSports, foram identificados 114 jovens jogadores, oriundos da América do Sul, de África e da Ásia, que estariam todos em situação irregular no país.
Em comunicado divulgado nessa ocasião, o SEF dava conta de que sinalizou 47 vítimas de tráfico de pessoas, das quais 36 menores e nove jovens adultos.
No total, foram identificados 85 estrangeiros, entre adultos e menores.
Durante as buscas realizadas em junho, o SEF apreendeu documentos, nomeadamente passaportes e cartões de residência, que não estavam na posse dos seus titulares, os menores em causa.
Fonte judicial adiantou hoje à Lusa que a grande maioria das alegadas vítimas, todos menores, já foi ouvida no Tribunal de Penafiel para memória futura, acrescentando que, após as férias judiciais, deve começar a inquirição de testemunhas.
A investigação acredita que os jovens atletas eram recrutados na América do Sul, em África e na Ásia e vinham para Portugal com a promessa de contrato, válido por 11 meses, e seriam impedidos de sair da academia, caso os pais quisessem interromper a sua formação ou não tivessem coberto o pagamento previsto.
As famílias pagariam entre 500 e 1.800 euros por mês para a formação, treino e alojamento dos jovens atletas.
Os atletas seriam acolhidos, alegadamente, em condições precárias, passando fome e frio.