Allen esteve na Faixa de Gaza numa missão de uma semana no fim de março e alertou para a falta de medicamentos, para os obstáculos enfrentados na distribuição de ajuda humanitária, assim para como para as dificuldades de acesso ao enclave.
“Estamos muito preocupados com as mulheres grávidas e lactantes. Médicos e parteiras disseram-nos que as suas pacientes estavam a dar à luz crianças mais pequenas e que a subnutrição, a desidratação e o medo estavam a causar complicações”, sublinhou o representante da UNFPA.
De acordo Allen, foi recusada a entrada na Faixa de Gaza a vários fornecedores do UNFPA em postos de controlo e pontos de passagem.
“É essencial conseguir levar produtos médicos aos locais onde as mulheres e raparigas mais precisam deles. O acesso ao norte da Faixa de Gaza é muito difícil”, referiu.
“As pessoas estão à beira da fome neste momento em Gaza. Esta situação deve-se a um enorme atraso na entrega de géneros alimentícios devido à impossibilidade de acesso a Gaza há muitos meses, o que agravou as necessidades”, afirmou.
O representante da agência da ONU declarou que entrou em Gaza num veículo blindado, no qual conseguiram transportar vários medicamentos, nomeadamente anestésicos, ocitocina e suprimentos cujo transporte deve ser refrigerado.
“Num hospital, disseram-nos que quando um paciente precisava de ser operado, tinham de verificar primeiro o nível de combustível, que faz funcionar os geradores elétricos necessários para alimentar a sala de operações. Um médico disse-me que, por falta de pinças utilizadas para prender o cordão umbilical em recém-nascidos, às vezes usavam barbante. Na realidade, há escassez de todo o equipamento básico para o parto, pós-parto e cuidados infantis”, sublinhou.
De acordo com Allen, existem vários milhares de mulheres que não têm ou quase não têm acesso à proteção sanitária.
“Fomos informados de casos verdadeiramente chocantes de mulheres que acabam por fazer a sua proteção com pedaços da sua tenda. Portanto, uma das nossas prioridades é fornecer `kits`” de higiene em grande escala, acrescentou.
Segundo o representante da UNFPA, as equipas médicas em Gaza disseram que o número de complicações durante o parto quase duplicou, o que significa que há mais intervenções e, portanto, são necessários mais produtos médicos.
“Além disso, todas as pessoas com quem falei em Rafah (sul) têm muito medo do que acontecerá no caso de uma incursão terrestre. O diretor médico do hospital Emirati disse-me que os cuidadores já tinham saído das instalações para outras partes do território”, indicou.
“Na verdade, saí de Gaza aterrorizado com o que poderá acontecer lá. Honestamente, quando se vê bebés pequenos e frágeis amontoados numa incubadora onde estão agrupados porque não há uma para cada um, a fragilidade da vida salta aos olhos”, acrescentou.