“Vamos mudar regras brevemente”, respondeu Luís Montenegro a André Ventura no debate quinzenal, no parlamento, numa altura em que já dispunha de pouco tempo para usar da palavra – e após o líder do CHEGA o ter acusado de “saneamento” ao anterior diretor nacional da PSP e de ser igual ao PS nas negociações com a plataforma das forças de segurança.
Também de forma telegráfica, o líder do executivo reagiu neste ponto ao discurso proferido pelo presidente do CHEGA: “Partidos nas polícias não obrigado”, disse, no final de um debate muito duro e que obrigou o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, a intervir por várias vezes para serenar os ânimos.
Ao longo do debate, o presidente do CHEGA acusou o Governo de não ter qualquer medida para a saúde, defraudando promessas que a AD fizera aos eleitores, e de ter apresentado “um choque fiscal que deixou os portugueses chocados”.
“Tanta conversa”, comentou André Ventura, dizendo que quem ganha 1.505 euros por mês terá um desagravamento de 4,6 euros. E deixou um aviso: “O CHEGA não fará qualquer acordo em que quem ganha menos não seja beneficiado, porque os ricos safam-se por si”.
A bancada do PSD reagiu ruidosamente em sinal de protesto. E André Ventura comentou: “A linha de Cascais está chateada”.
Neste ponto, o primeiro-ministro começou por questionar André Ventura se, tal como o PS, também entende que não deverá haver desagravamento fiscal para quem está no sexto escalão do IRS. A seguir, passou ao contra-ataque, considerando que o líder do CHEGA parece “enamorado” pelas propostas fiscais do PS.
Mas Luís Montenegro foi ainda mais longe, a propósito do tema da saúde, considerando que André Ventura “está mais socialista do que os socialistas”.
No final do debate, já depois de um confronto entre ambos sobre descida das portagens, o primeiro-ministro levantou a bancada do PSD com a seguinte acusação a André Ventura: “O senhor tem uma conceção muito peculiar do exercício de funções públicas e de responsabilidade política, porque, para si, o não é não justifica todos os seus posicionamentos sobre os assuntos que dizem respeito à vida das pessoas”.
“Acho isso intolerável, infantil e imaturo. Não está à altura da representação dos interesses das pessoas”, concluiu.
Antes, o presidente do CHEGA tinha recusado qualquer aproximação ao PS, olhou para as bancadas do público e contrapôs: “O CHEGA tornou-se próximo dos portugueses”.
“A vida é o que é, senhor primeiro-ministro”, completou, o que levou José Pedro Aguiar-Branco a advertir Ventura que “os deputados falam para outros deputados e não para as galerias” do público.