Preço do borrego dispara nas vésperas da Páscoa por culpa da língua azul

Nas vésperas da Páscoa, época em que a carne de borrego é mais procurada para consumo, o preço dos animais disparou para valores nunca antes vistos, devido à diminuição dos rebanhos provocada pela doença da língua azul.

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“Há pessoas da idade do meu pai, dentro dos 70 anos, que não se lembram de ver os preços assim”, afiança à agência Lusa o agricultor e criador de ovinos Alexandre Lobo, dono de uma exploração pecuária na zona de Redondo, distrito de Évora.

Alexandre é um dos participantes no leilão de ovinos e caprinos em Évora que antecede a Páscoa, organizado pela Associação dos Jovens Agricultores do Sul (AJASUL) e pela Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina (ANCORME).

“Não nos podemos queixar”, pois o valor a que estão a ser vendidos os animais “tem sido uma mais-valia para o produtor”, admite este criador, que tem 1.500 ovelhas, enquanto espera para descarregar um lote de 50 borregos para o leilão.

O agricultor realça que a doença da língua azul causou grandes prejuízos, que atingem os 40 mil euros na sua exploração, entre a morte de animais jovens e adultos e abortos. Os valores agora cobrados nas vendas ajudam a compensar as perdas.

“Muitas pessoas desistiram e outras estão com a moral um bocado em baixo e, se não fossem os preços a que os animais estão, então… Mas estamos a chegar à Páscoa e é um período em que os animais estão com um valor espetacular”, assume.

Um pouco antes de o leilão começar e já com os animais pesados e divididos em parques, André Pinto, gerente de uma empresa grossista de carne com sede na zona do Porto, circula pelo pavilhão e observa os lotes que lhe podem vir a interessar.

“Os preços que se praticam aqui é uma coisa fora do normal”, comenta à Lusa, salientando que o produtor teve “um ano muito difícil”, devido à língua azul, mas “nunca recebeu tanto dinheiro na vida como está a receber este ano”.

Com o preço em alta, a ‘cara’ de quem vende não é igual à de quem compra e este empresário diz que tem “que vender, para defender o mercado da carne, abaixo do custo de compra”, pois, caso contrário, os consumidores não a adquirem.

“Este ano, há menos animais e a razão é a língua azul”, explica à Lusa o secretário técnico da ANCORME, Tiago Perloiro, lembrando que o novo serotipo 3 da doença, detetado em meados de setembro do ano passado, provocou a morte de animais e abortos.

Segundo o também criador de ovinos, a diminuição de animais no campo, a par da maior procura para exportação, fez subir em flecha os preços, sobretudo, nos primeiros três meses deste ano.

“No final de 2024, tínhamos borregos vendidos entre os 100 e os 150 euros, dependendo das classes de pesos”, enquanto, “no início do ano, os preços subiram de forma significativa e chegámos a ter borregos vendidos a quase 200 euros”, exemplifica.

Ainda assim, Tiago Perloiro antevê “uma tendência de estabilização” dos preços, que atribui à entrada de borregos em Portugal vindos de Espanha, nas últimas semanas, entre outros fatores relacionados com alterações no mercado de exportação.

“O borrego está mais caro do que o ano passado. É a lei da oferta e da procura. Há pouco e está mais caro”, atesta à Lusa o presidente da AJASUL, Diogo Vasconcelos, estimando que se tenha perdido “60% a 70% da produção” de ovinos.

Assinalando que “os intermediários estão a comprar mais caro”, o também agricultor alerta que estes também “vão vender mais caro” e a carne de borrego “vai chegar mais cara às prateleiras dos supermercados”.

“Face ao preço em que está, acho que esta carne vai ser uma iguaria em Portugal. Não é para todas as carteiras”, atira o criador de ovinos Alexandre Lobo.

Já o produtor Carlos Balsa, com uma propriedade perto de Évora, não levou animais ao leilão, ao contrário do que é habitual. Optou por ficar com “o maior número de fêmeas e de machos para repor as perdas” de animais que morreram com língua azul.

Se não fossem estes “animais de reposição” e a morte de 140 crias, devido à doença, este criador teria “um maior número de animais para serem vendidos” em leilão ou diretamente a colaboradores, explica.

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