A testemunhar na primeira sessão do julgamento, aquela arguida, de 43 anos, admitiu que mentiu, garantiu que a mãe, o pai, a irmã e a prima, também arguidos, “não têm culpa” e que cometeu os crimes sob o efeito de droga, porque de outra forma “tinha pânico”.
Segundo a acusação, foram identificados 87 ofendidos, incluindo duas operadoras de telecomunicações e quatro entidades bancárias, que, ao longo de quatro anos, foram lesados em mais de 188 mil euros.,
O Ministério Público acredita que a arguida, “em colaboração dos restantes arguidos em algumas ocasiões”, montou um esquema para frutar as identidades das vítimas e pedia segundas vias de cartões telefónicos para depois ter acesso às aplicações de “homebanking” e às contas bancárias das vítimas, realizando “operações bancárias online, como pagamentos, compras e transferências para contas por si controladas (usando, várias vezes, as contas bancárias dos restantes arguidos)”.
À “mentora e principal autora” dos crimes são imputados 56 crimes de burla qualificada, 57 crimes de acesso ilegítimo, falsidade informática e dano relativo a programas ou outros dados informáticos, dois crimes de contrafação de cartão, quatro de recetação e furto qualificado, seis crimes de falsificação, um crime de violação de correspondência, branqueamento e aquisição de cartões ou outros dispositivos de pagamento obtidos mediante crime informático.
“Foram cometidos numa época em que fazia consumos de droga extremamente elevados. Nunca cometi um crime sem estar drogada porque tinha pânico. Drogada, o medo desaparecia, o perigo desaparecia”, confessou.
Ao tribunal, a mulher confessou estar arrependida: “Queria pedir desculpa a todos os ofendidos. Eu não tenho um tostão, se não dava tudo”, disse.
A arguida explicou que os familiares “não têm culpa”, que lhes mentiu e que lhes pedia os telemóveis, tendo criado contas de e-mails em seu nome, sem que eles soubessem, assim como não sabiam a proveniência do dinheiro que a arguida pedia para depositarem nas suas contas.
No entanto, a mulher apontou os dois ex-namorados como coautores dos crimes e um terceiro homem, que lhe terá arranjado os dados de clientes das operadoras.
Também a testemunhar na sessão de hoje, um dos ex-namorados da arguida assegurou que “todos sabiam” o que se estava a passar, incluindo a família da arguida, sendo que este arguido admitiu ter participado em alguns dos esquemas.
“Ela é que fazia e desfazia. Eu usufruía”, explicou.