Para muitos, o uso da burca é uma escolha pessoal e uma expressão legítima da fé islâmica. Argumentam que a sua proibição seria uma violação dos direitos individuais e da liberdade religiosa, a que algumas alas ideológicas gostam de chamar de “islamofobia”. No entanto, é fundamental questionar até que ponto essa “escolha” é genuinamente livre, especialmente em contextos onde a pressão social e cultural, ou até mesmo familiar, pode ser avassaladora para as mulheres. No Irão, por exemplo, o testemunho da mulher vale metade comparado com o do homem.
Não tenho grandes dúvidas de que a burca é um símbolo de submissão. Ela não se alinha com os valores de igualdade e empoderamento feminino que defendemos. A ideia de que uma mulher deve cobrir-se completamente para preservar a sua intimidade ou para evitar a tentação masculina é, no mínimo, redutora e, profundamente misógina. O uso da burca, ao ocultar a identidade da mulher, torna-a invisível. Impede a interação plena e igualitária, dificultando a sua integração na sociedade e limitando a sua participação cívica e profissional. Numa sociedade que preza a transparência e a comunicação aberta, a ocultação do rosto, e do corpo, é um obstáculo à plena vivência em sociedade.
Em Portugal, conquistámos, ao longo de séculos, a igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres. Não podemos permitir que o nosso país seja palco de práticas que veiculam uma mensagem de inferioridade feminina, que contraria frontalmente a nossa Constituição e o nosso modo de vida. Jamais devemos aceitar que em Portugal, e sob o argumento da aceitação ideológica, cultural, religiosa, as mulheres, independentemente da sua nacionalidade, sejam tratadas com inferioridade, diminuídas, caladas.
Não podemos compactuar com a normalização de práticas incompatíveis com os nossos valores e que estas se estabeleçam e sejam aceites.
A proibição da ocultação do rosto em espaços públicos, não se trata de uma medida contra qualquer religião, mas sim de uma medida de defesa da nossa cultura, dos nossos valores e da nossa segurança. A proibição da burca é um passo essencial nessa direção, um sinal claro de que em Portugal, os nossos valores, a nossa cultura, estão acima de tudo, e que a mulher é igual em direitos e deveres, em opinião e oposição, e que jamais é inferiorizada e subjugada pelo simples facto de ser mulher.