Resumo
Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre as semelhanças estruturais entre o fascismo e o comunismo, destacando os elementos totalitários comuns aos dois regimes. Através de um percurso histórico e comparativo, são analisados os traços autoritários de ambos os sistemas, incluindo a repressão política, o culto à personalidade, a planificação central da economia e os massacres perpetrados em nome da ideologia. Referências literárias como 1984 de George Orwell e Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley são convocadas como alertas distópicos, cuja atualidade é redobrada perante propostas contemporâneas como a Agenda 2030 da ONU e o Great Reset do Fórum Econômico Mundial. A análise é complementada com uma crítica às ideologias contemporâneas, como a cultura woke e as ideologias de gênero, que negam evidências históricas e científicas acumuladas pela civilização humana, além de uma discussão sobre os movimentos Black Lives Matter (BLM) e as políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), que, sob a bandeira da justiça social, promovem formas de discriminação positiva e narrativas que ecoam os autoritarismos juvenis do passado. As ideias de Thomas Sowell e Douglas Murray são integradas para reforçar a crítica a essas tendências e sua convergência com políticas europeias atuais que se aproximam dos regimes totalitários expostos. A critica ao alarmismo das alterações climáticas por steven Koonin , no uso exagerado do medo, que pode servir como ferramenta política para impor agendas centralizadoras sob o disfarce da urgência.
Conclui-se com uma análise do perigo ético e político de legitimar partidos ou projetos políticos que se baseiem em ideologias com histórico genocida.
1. Introdução
A polarização ideológica do século XX produziu dois dos regimes mais violentos e repressivos da história moderna: o fascismo e o comunismo. Embora frequentemente apresentados como antípodas no espectro político, a investigação historiográfica tem revelado similitudes estruturais profundas entre ambos. Os trabalhos de Ernst Nolte (O Fascismo na sua Época, 1963) argumentam que o fascismo surgiu como uma resposta ao bolchevismo, mas ambos compartilhavam a ambição de criar uma nova ordem social pela força do Estado. Emilio Gentile (Fascismo: História e Interpretação, 2002) destaca a natureza revolucionária e totalitária de ambos, voltada para moldar uma nova sociedade. Hannah Arendt, em As Origens do Totalitarismo (1951), complementa essa visão ao identificar o uso do terror e da propaganda como ferramentas centrais para o controle total da sociedade em regimes como o nazismo e o stalinismo.
A estas análises, somam-se as contribuições de Thomas Sowell e Douglas Murray, que, em obras como The Vision of the Anointed (Sowell, 1995) e The Madness of Crowds (Murray, 2019), criticam ideologias contemporâneas que, sob a fachada de justiça social, promovem narrativas que renegam evidências históricas e científicas em prol de utopias coletivistas. A cultura woke e as ideologias de gênero, por exemplo, frequentemente rejeitam o conhecimento acumulado sobre diferenças biológicas e comportamentais entre os sexos, documentadas ao longo da história e corroboradas por estudos científicos, em favor de visões subjetivistas que ecoam o controle ideológico dos regimes totalitários.
2. Origens e Convergências Totalitárias
Benito Mussolini iniciou a sua carreira política como militante do Partido Socialista Italiano, tendo sido diretor do jornal Avanti!. Após divergências em relação à participação da Itália na Primeira Guerra Mundial, rompeu com o partido e fundou o fascismo, mantendo elementos do socialismo revolucionário, como o controle estatal da economia e a exaltação do coletivo. O nacional-socialismo alemão (nazismo), por sua vez, integra no seu nome e programa princípios socialistas, combinados com um nacionalismo agressivo e racista.
Ambos os regimes impuseram economias planificadas e cultos de personalidade em torno dos seus líderes (Hitler, Mussolini, Stalin, Mao), suprimindo liberdades fundamentais. Na Itália fascista, o Estado subordinou a Igreja Católica através do Pacto de Latrão (1929), enquanto na União Soviética a religião foi alvo de repressão sistemática, com o fechamento de igrejas e a perseguição de líderes religiosos em nome do ateísmo estatal. A juventude também foi instrumentalizada: a Juventude Hitlerista no nazismo e a Komsomol no comunismo soviético serviram como vanguardas ideológicas.
Atualmente, movimentos como a cultura woke e as ideologias de gênero replicam essa instrumentalização juvenil, promovendo narrativas que exigem conformidade ideológica e suprimem o debate racional. Thomas Sowell, em Intellectuals and Society (2010), alerta para o perigo de elites intelectuais que, como nos regimes totalitários, impõem visões de mundo desconectadas da realidade empírica. Douglas Murray, em The War on the West (2022), aponta como a cultura woke frequentemente demoniza a civilização ocidental, ignorando suas contribuições históricas e científicas, enquanto promove uma visão maniqueísta que lembra a propaganda fascista e comunista.
3. Genocídios e Repressões: Um Balanço Histórico
Os crimes perpetrados por regimes comunistas e fascistas estão amplamente documentados. O Livro Negro do Comunismo (1997), coordenado por Stéphane Courtois, estima em mais de 100 milhões as mortes causadas por regimes comunistas ao longo do século XX. Exemplos incluem o Holodomor (1932-1933) na Ucrânia, uma fome deliberada que matou cerca de 4 milhões de pessoas devido à coletivização forçada de Stalin; o Grande Salto para a Frente (1958-1962) na China, que resultou em até 45 milhões de mortes por fome; e o genocídio cambojano sob Pol Pot (1975-1979), com cerca de 2 milhões de vítimas.
No campo fascista, R.J. Rummel (Death by Government, 1994) calcula que o nazismo e o fascismo provocaram entre 40 e 50 milhões de mortes. O Holocausto, com a eliminação sistemática de 6 milhões de judeus, ciganos, eslavos e outros, é o exemplo mais conhecido. O genocídio armênio (1915-1923), perpetrado pelo Império Otomano, matou cerca de 1,5 milhão de pessoas e é considerado um precursor dos genocídios do século XX.
Na União Soviética, o marxismo declarava-se anti-racista, mas praticou forte antissemitismo instrumental. O “Complot dos Médicos” (1953), uma conspiração fabricada por Stalin, visou eliminar médicos judeus da elite soviética, como relata Simon Sebag Montefiore (Estaline: A Corte do Czar Vermelho, 2003). De maneira semelhante, movimentos contemporâneos como Black Lives Matter (BLM) e as políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) são criticados por promoverem formas de discriminação positiva que, paradoxalmente, reforçam divisões raciais. Sowell, em Wealth, Poverty and Politics (2015), argumenta que tais políticas frequentemente ignoram dados empíricos sobre desigualdades socioeconômicas, favorecendo narrativas ideológicas que perpetuam conflitos raciais em vez de resolvê-los. Murray complementa, em The Madness of Crowds, apontando como o BLM pode, em alguns casos, adotar táticas de intimidação e censura que lembram os métodos totalitários do passado.
4. A Visão Distópica em Orwell e Huxley
A literatura distópica antecipou muitos dos elementos característicos dos regimes totalitários. Em 1984 (1949), George Orwell, influenciado pela repressão stalinista que testemunhou na Guerra Civil Espanhola, apresenta um mundo onde o Estado controla ações e pensamentos através da novilíngua e do duplipensar, refletindo as práticas propagandísticas de regimes como o soviético e o nazista. A cultura woke, com sua ênfase em redefinir linguagem e suprimir dissenso, ecoa a novilíngua orwelliana, especialmente em sua tentativa de apagar conceitos baseados em evidências científicas, como as diferenças biológicas entre sexos.
Admirável Mundo Novo (1932), de Aldous Huxley, propõe uma distopia hedonista, onde o controle é exercido por manipulação genética, hipnopedia e prazeres artificiais. Escrito em resposta ao avanço da ciência e da tecnologia, Huxley teme a perda da individualidade por meios mais sutis que o terror. A atual ênfase em ideologias de gênero, que negam a biologia em favor de identidades subjetivas, ressoa com a manipulação huxleyana, onde a verdade é subordinada ao conforto ideológico. Ambas as obras convergem na crítica ao apagamento da liberdade em nome de uma ordem desumanizada.
5. A Agenda 2030 e a Nova Utopia Tecnocrática
Propostas como a Agenda 2030 da ONU e o Great Reset (Klaus Schwab, 2020), promovidos pelo Fórum Econômico Mundial, têm gerado preocupações. Embora voltadas para sustentabilidade e justiça social, críticos como Michael Rectenwald (The Great Reset and the Struggle for Liberty, 2022) alertam que a vigilância digital, o controle econômico centralizado e a censura algorítmica podem recriar condições distópicas, reminiscentes de Orwell e Huxley. Sowell, em The Quest for Cosmic Justice (1999), critica a tendência de elites globais de impor soluções universais que desconsideram contextos locais e evidências empíricas. Murray, em The Strange Death of Europe (2017), aponta como políticas europeias atuais, influenciadas por ideologias woke e multiculturalistas, convergem para formas de controle social que lembram os regimes autoritários do passado, sacrificando liberdades individuais em nome de utopias coletivistas.
Nesse contexto, o físico e ex-subsecretário de Energia dos EUA Steve Koonin, no livro *Unsettled: What Climate Science Tells Us, What It Doesn’t, and Why It Matters* (2021), oferece uma crítica fundamentada ao alarmismo climático que sustenta parte desse discurso global. Para Koonin, os modelos climáticos, embora úteis, apresentam incertezas significativas, como:
– Sensibilidade climática incerta: ainda se debate o quanto a temperatura global aumentará com a elevação do CO₂.
- Projecções imprecisas: fenómenos como aumento do nível do mar ou eventos climáticos extremos não possuem previsões tão conclusivas quanto se afirma nos meios de comunicação e relatórios políticos.
Koonin não nega o aquecimento global, mas contesta a narrativa de catástrofe iminente. Segundo ele, o uso exagerado do medo pode servir como ferramenta política para impor agendas centralizadoras sob o disfarce da urgência. Em vez disso, defende que:
– As decisões devem basear-se em evidências concretas, com uma leitura honesta da ciência;
- As respostas políticas devem ser pragmáticas e proporcionais, evitando soluções radicais que gerem efeitos colaterais económicos e sociais graves
Historicamente, projetos como o Cybersyn no Chile (1971-1973), que tentou gerir a economia com tecnologia, ilustram essa tentação de controle centralizado. Por outro lado, defensores argumentam que tais iniciativas são essenciais para enfrentar mudanças climáticas e desigualdades globais. Contudo, a negação de evidências científicas e históricas por movimentos woke e de gênero, assim como as políticas de DEI, reforça a crítica de Sowell e Murray sobre o risco de novas formas de totalitarismo disfarçadas de progresso.
6. Conclusão
Classificar o fascismo como “de direita” e o comunismo como “de esquerda” é insuficiente, pois ambos convergem no autoritarismo. A escala bidimensional de David Nolan, que opõe autoritarismo a libertarianismo, revela que fascismo e comunismo pertencem ao quadrante autoritário. Exemplos contemporâneos, como a repressão aos uigures na China com vigilância tecnológica, reforçam os alertas de Orwell. A cultura woke, as ideologias de gênero e as políticas de DEI, ao negarem evidências científicas e históricas, ecoam os métodos totalitários do passado, promovendo conformidade ideológica e suprimindo a liberdade de expressão. As ideias de Thomas Sowell e Douglas Murray reforçam a necessidade de um retorno ao empirismo e à liberdade individual como antídotos contra essas tendências. A história do século XX evidencia os perigos de ideologias que sacrificam a liberdade por utopias coletivistas, tornando eticamente problemática a legitimação de projetos com tais fundamentos em democracias.
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Notas
Koonin, no livro *Unsettled: What Climate Science Tells Us, What It Doesn’t, and Why It Matters*
GENTILE, Emilio. Fascismo: História e Interpretação. Lisboa: Edições 70, 2002.
NOLTE, Ernst. O Fascismo na sua Época. Lisboa: Presença, 1963.
KURTH, James. “The Protestant Ethic and the Spirit of Totalitarianism”, The Intercollegiate Review, 2004.
ORWELL, George. 1984. Lisboa: Antígona, 2002.
RECTENWALD, Michael. The Great Reset and the Struggle for Liberty. Nashville: The Mises Institute, 2022.
SOWELL, Thomas. The Vision of the Anointed. New York: Basic Books, 1995.
SOWELL, Thomas. Intellectuals and Society. New York: Basic Books, 2010.
SOWELL, Thomas. Wealth, Poverty and Politics. New York: Basic Books, 2015.
SOWELL, Thomas. The Quest for Cosmic Justice. New York: Free Press, 1999.
MURRAY, Douglas. The Madness of Crowds. London: Bloomsbury Continuum, 2019.
MURRAY, Douglas. The War on the West. London: HarperCollins, 2022.
MURRAY, Douglas. The Strange Death of Europe. London: Bloomsbury Continuum, 2017.
Bibliografia (ABNT)
Koonin, no livro *Unsettled: What Climate Science Tells Us, What It Doesn’t, and Why It Matters*
ARENDT, Hannah. As Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
COURTOIS, Stéphane (Org.). O Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror e Repressão. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
GENTILE, Emilio. Fascismo: História e Interpretação. Lisboa: Edições 70, 2002.
HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. São Paulo: Globo, 2009.
MONTEFIORE, Simon Sebag. Estaline: A Corte do Czar Vermelho. Lisboa: Casa das Letras, 2003.
NOLTE, Ernst. O Fascismo na sua Época. Lisboa: Presença, 1963.
ORWELL, George. 1984. Lisboa: Antígona, 2002.
RECTENWALD, Michael. The Great Reset and the Struggle for Liberty: Unraveling the Global Agenda. Auburn, AL: The Mises Institute, 2022.
RUMMEL, R. J. Death by Government. New Brunswick, NJ: Transaction Publishers, 1994.
SCHWAB, Klaus; MALLERET, Thierry. COVID-19: The Great Reset. Geneva: Forum Publishing, 2020.