A política deveria ser o espaço nobre da democracia, onde se discutem ideias e se defendem princípios em prol do bem comum. Contudo, na realidade portuguesa de hoje, tem-se transformado num palco cada vez mais marcado pelo oportunismo e pela conveniência.
Assistimos a uma tendência crescente: pessoas que integram listas partidárias não por afinidade ideológica, mas por cálculo estratégico. Escolhem os partidos não porque acreditam nas suas propostas e ideologias, mas porque sabem que ali têm maiores probabilidades de ser eleitos. A política deixa, assim, de ser um exercício de convicção para se tornar num exercício de carreira.
A este fenómeno junta-se outro, não menos corrosivo: o alpinismo social. Muitos encaram a política não como serviço público, mas como uma escada para alcançar estatuto, privilégios e notoriedade. Para esses, pouco importa a coerência; o que interessa é a visibilidade, o poder e as vantagens pessoais que o cargo lhes pode oferecer.
Não faltam exemplos de indivíduos que, ao longo dos anos, passaram por diferentes partidos políticos, mudando de cores e de discursos consoante as conveniências. Mais grave ainda é quando alguém que outrora criticou ferozmente determinada força partidária, acaba por encabeçar as suas listas, como se nada tivesse acontecido. A memória curta e a ambição longa transformam esses casos em autênticos retratos da degradação da vida política.
Esta lógica mina a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas. O eleitor sente que já não vota em representantes de ideias, mas em gestores de ambições pessoais. E, enquanto a política for dominada por oportunistas em busca de lugar e prestígio, a democracia continuará enfraquecida.
A regeneração política só será possível quando houver coragem para devolver à política a sua verdadeira essência: a defesa de princípios, a seriedade do debate e a lealdade para com aqueles que se pretende representar. Sem isso, permaneceremos reféns de uma política podre, onde os interesses individuais se sobrepõem ao interesse coletivo.