Que luta é a nossa?

Vejo gritos de vitória pelas cores pintadas no mapa de Portugal, festejos pelas conquistas de mais autarcas enraizados nos municípios e freguesias junto com análises deturpadas de que “ainda estamos cá e temos presença nacional (…)” com vozes de luta e persistência de que “é o início e lutaremos para conquistar mais autarquias no futuro”.

A minha opinião vale o que vale e vou tentar ser o mais imparcial possível.
O resultado de umas eleições legislativas como leitura para umas eleições autárquicas é o pior erro que um analista ou líder de um partido pode ter. Para a comunicação social, é-lhe favorável encostar à parede o líder do partido que perde autarquias comparando com os resultados das eleições legislativas, pois vende notícia ao perguntar “acha que perdeu presença no país com este resultado?”. Tretas normais da comunicação social. Já para o líder, é-lhe conveniente dar relevo quando é cada vez mais pequeno na Assembleia da República, ao potente resultado das eleições autárquicas.

Meus caros, não é a mesma coisa e nem se podem comparar. Para o governo central, os eleitores votam em quem acreditam ser uma mais-valia para o país e numa ideologia política. Para uma autarquia, a maior parte das vezes não querem saber do partido. Votam na pessoa que conhecem, na que transparece maior confiança, em quem o vêm “na missa todos os domingos (…)” e em quem é da terra ou já o pai era autarca. Seja de que partido for, depois de eleito a responsabilidade é gerir a cidade, os equipamentos, a qualidade de vida dos munícipes, as escolas, a mobilidade, etc.

Se partido A “conquistou” 60% das autarquias, não quer dizer que irá ter 60 % presença na Assembleia da República nas próximas eleições. Nem o contrário. Pois pode ser o partido B que está no governo a ter menos autarquias “conquistadas”.
Realço como citação, no parágrafo anterior, as referências à palavra “conquista” porque quero vos colocar novamente a questão: Que luta é a nossa? Tanta imaturidade neste novos candidatos…

Eu próprio sou novo membro da assembleia de freguesia de Santo António da Charneca, por isso, novo autarca, e tenho vergonha quando vejo esta imaturidade de autarcas que lutam pelo poder em vez de lutarem pelo povo.
Pois deixo aqui uma mensagem aos novos autarcas:
Ao ver os milhares de publicações nas redes sociais e cobertura de notícias dos novos autarcas a festejar que “conquistamos mais três autarquias (…)”[sic] ou que “estamos a começar a criar raízes para conquistar ainda mais autarquias no futuro (…)”[sic], fico perplexo pelo foco destes candidatos, uns com experiência política e outros a iniciar, sejam de que partido forem.

Senhores novos autarcas, a vossa conquista não é o lugar que poderão vir a ocupar nas assembleias ou nos executivos e muito menos é o status que poderão ter. A vossa luta não é pela autarquia ou freguesia “conquistada”. Penso que posso afirmar que, acima de tudo, a vossa luta é pelo povo, pelo munícipe, pelo freguês…

Nas vossas reportagens, digam antes que “estamos a conseguir ter lugar nas assembleias para trabalhar para o bem do povo, que é o nosso principal foco”. Senão, serão mais uns que caem na boca do povo com o rótulo popular de que “vão para lá à procura de tachos”, só vêm jogos de poder e esquecem o bem do povo e a qualidade de vida dos munícipes.
Agora que têm a oportunidade de ter uma parte ativa nas assembleias, façam valer cada voto. Lutem, não pelo próximo lugar a “conquistar”, mas antes pelos eleitores que acreditaram em vocês. Aproveitem esses lugares para mostrarem o que valem, que são diferentes do habitual e que merecem ter o cargo que têm, o cargo que os fregueses e munícipes vos deram e sejam a voz deles nas assembleias.

Porque antes de conquistar as autarquias, têm que conquistar o respeito e a confiança das pessoas.

Artigos do mesmo autor

Não existem publicações !