Direita Progressista Horrorizada pelos Exemplos a Seguir

O resvalar dos sociais-democratas para oposição totalmente serviçal da Esquerda, está a ultrapassar toda a razoabilidade.

Em Dezembro, o histórico – eufemismo para inamovível – eurodeputado laranja Carlos Coelho, publicou mais uma diatribe contra a Hungria de Viktor Orbán no Observador.

Desde logo, é extraordinário como um suposto político de Direita, usa uma das principais publicações não conotadas com a Esquerda, em Portugal, para atacar… um governo conservador. Mas não se espantem porque no seu primeiro artigo para o Observador em 2018, Coelho havia criticado a excessiva preocupação com a questão da imigração, levada pelos governos nacionais a Bruxelas – segundo ele, um bicho papão alimentado pelos ‘populismos’ [de Direita]. Isto, no mesmo ano do ataque terrorista islamista em Carcassonne que vitimou 20 pessoas entre as quais um português, para além de 6 outros ataques na Europa que feriram ou mataram dúzias de pessoas.

Carlos Coelho, ficamos a saber, está muito preocupado com a “independência do sistema judiciário” e com o “desrespeito pelo Estado de Direito”. Isto é muitíssimo louvável visto a degradação que os mesmos têm vindo a sofrer no Ocidente. Poderíamos pensar que Coelho se poderia estar a referir à censura de conservadores nas redes sociais em Portugal, ao bloqueio da eleição de vice-presidentes da Assembleia da República do CHEGA! e da Iniciativa Liberal ou das tentativas de ilegalização do CH levadas a cabo por activistas de extrema-esquerda. Porém, o alvo das suas preocupações é mesmo a Hungria.

Muito preocupado anda Carlos Coelho com o acordo entre a Comissão Europeia e o governo de Budapeste para o descongelamento de milhares de milhões de euros devidos à Hungria. Atente-se na preciosidade da dissonância cognitiva do eurodeputado do PSD: “(…) este reembolso surge num momento em que a Hungria exerce uma chantagem política forte no Conselho Europeu”. Portanto, a Comissão, sem qualquer precedente semelhante e com pesado preconceito, decide, escandalosamente, reter fundos comunitários devidos à Hungria, de modo a pressionar o PM Orbán e condicionar as eleições europeias na Hungria em 2024 mas a ‘chantagem’ não é a quem é roubado do dinheiro que lhe é devido – ainda por cima por uma entidade sem qualquer tipo de legitimidade democrática – não, a vítima é a pobrezinha da Comissão que se viu obrigada a libertar os fundos que não lhe pertencem.

O governo húngaro aproveitou as negociações relativas ao financiamento e adesão da Ucrânia à UE, para as usar como moeda de troca mas, no fundo, a vitória foi da Comissão Europeia pois Budapeste não tinha nem tem interesse nenhum em promover a adesão ucraniana e, desta forma, Bruxelas conseguiu assegurar a neutralidade de Orbán num voto do Conselho Europeu sobre a matéria. Uma adesão da Ucrânia poria a Hungria em perigo de ser arrastada para os conflitos de Kiev com Moscovo, para além de muito provavelmente secar o fluxo de fundos de coesão para Budapeste, para os redireccionar para a Ucrânia.

É que, infelizmente para os ultra-federalistas febrilmente obcecados em retirar poderes aos estados-membro, os Tratados de Roma foram explícitos sobre a necessidade de unanimidade em matéria de alargamentos e de Política Externa e de Segurança Comum (PESC), e apesar de sabotados pelo Tratado de Lisboa, tais regras mantêm-se, pelo que o direito de veto nacional ainda se faz sentir.

Mas a atitude da Comissão é ainda mais obscena! É que o que Coelho aqui está a admitir, é a Comissão Europeia ter tomado uma decisão puramente política. Normalmente, a Comissão dever-se-ia encarregar de gerir política comercial enquanto que a formulação da política que informa os instrumentos comerciais e administrativos da Comissão, caberia aos órgãos mais democráticos como o Parlamento e o Conselho Europeu. A Comissão decidiu assim que o seu capricho com a Guerra da Ucrânia era mais forte que o seu capricho em discriminar contra a Hungria, expondo a tendência crescente da Comissão se arrogar tanta ou mais autoridade que os governos nacionais.

Carlos Coelho defende que caberá ao Parlamento Europeu escrutinar a Hungria e garantir o respeito dos ‘valores’ da União. Pois bem, para justificar as sanções da UE à Hungria – ao abrigo do Artigo 7º – o Parlamento Europeu elaborou um relatório detalhando os horrendos crimes de Orbán contra os tais dos princípios fundamentais. Quais são afinal esses ‘valores’ em perigo? Bom, Bruxelas está ultrajada pelo facto de que Viktor Orbán se recusa a permitir a entrada e circulação de imigrantes ilegais em território húngaro, que ele impede que os LGBTs sejam mediatizados de forma a proteger menores de práticas desviantes, e ainda que fundos da Política Agrícola Comum são mal empregues – mais concretamente… 4% desses fundos… quatro porcento. A mim não me parece muito mas seria interessante comparar com Portugal para ver se a soberba moralista de Carlos Coelho se manteria. A Hungria é ainda acusada de subsidiar vários meios de comunicação social, assim impedindo um clima de abertura e diversidade ideológica nos media mas obviamente, nem tal subsidiação começou com Orbán como os governos da Europa ocidental fazem a mesmíssima coisa sem nunca terem sido alvo de sanções europeias. Orbán é também criticado por ter passado medidas de concentração de poder político durante a pandemia, algo que todos os países europeus fizeram, igualmente.

Na verdade, a Hungria de Orbán é, sim, um exemplo a seguir na Europa. Em matéria de criminalidade, a Hungria é mais pacífica que ‘estados progressistas’ como Itália, França, Alemanha, Bélgica, para nem comparar com outros no Leste Europeu. No que toca a endividamento, e sem integrar a Zona Euro, Budapeste é mais responsável que Grécia, Itália, França, Espanha, Portugal, Bélgica, Chipre e até que a Áustria. E que dizer dos problemas gravíssimos em matéria de violência sexual que devem existir no degredo machista e xenófobo do feudo Orbánista? Curiosamente (ou não), a Hungria é o 6º país mais harmonioso da UE, à frente da Europa ocidental inteira, incluindo os países nórdicos… A Hungria é ainda acusada com frequência de problemas de corrupção mas no Índice de Facilidade de Investimento do Banco Mundial, o país destaca-se como mais fiável para o investimento que Chipre, Roménia, Itália, Bulgária, Luxemburgo, Grécia ou Malta – e penso nem precisar de evidenciar que vários destes são paraísos fiscais…

Enquanto eurodeputado do Partido Popular Europeu com um enfoque em questões constitucionais e de direitos humanos, eu gostaria de ter observado Carlos Coelho a expôr e criticar as Big Tech norte-americanas pela censura aos cidadãos europeus de Direita, o governo britânico e alemão pelo uso orwelliano das leis de ‘discurso de ódio’ para a censura e a perseguição de cidadãos de Direita, Justin Trudeau pela perseguição política aos camionistas ao ponto de lhes confiscar as contas bancárias por crimes ideológicos ou o incitamento de uma onda de violência anti-religiosa no Canadá, a UE pela censura e proscrição dos jornalistas russos do território comunitário, os responsáveis pela sabotagem do gasoduto Nordstream, o governo espanhol pelas leis dementes de sexualização das escolas, etc

Mas não, a transformação de força partidária complacente mas minimamente meritocrática está completa com o descarrilar para a actual total oposição à meritocracia e bom senso. O PSD expirou a sua utilidade e merece ser votado à sucata partidária das forças ultrapassadas.

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