De acordo com informações divulgadas hoje, o Conselho Interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) aprovou, para a campanha 2024, uma redução do rendimento máximo por hectare das vinhas dos 55 hectolitros para os 45 no vinho tinto e dos 65 hectolitros para os 60 no vinho branco.
A proposta apresentada pelo comércio contou com o voto de desempate por parte do presidente do IVDP, Gilberto Igrejas, o qual, após contacto da agência Lusa, não se quis pronunciar sobre o assunto.
Por sua vez, a produção informou que votou contra por considerar que se trata de uma “redução generalizada na região demarcada, de forma cega e sem critério”.
Por parte do comércio, António Filipe, da Associação das Empresas de Vinho do Porto (AEVP), disse que existe um problema sério de excesso de vinho no Douro, em Portugal e em várias partes do mundo e, por isso, apontou para a necessidade de se tomarem medidas para se inverter esta situação.
“Uma das medidas que nós propusemos de curto prazo é esta questão da limitação da produtividade na Região Demarcada do Douro”, afirmou, realçando, no entanto, que quem estiver em condições de provar que tem produções superiores poderá requerer ao IVDP um pedido de verificação da parcela e obter um aumento de produtividade até 20%.
“Queremos dar um sinal à região que é necessário pensarmos na gestão da oferta e, por outro lado, também para, de certa maneira, moralizar o funcionamento do setor, ajustando a produtividade àquilo que têm sido historicamente os valores registados na região”, explicou.
António Filipe refutou ainda que o comércio queira limitar a oferta de forma drástica.
Já as associações representativas da produção, a Federação Renovação do Douro (FRD) e a Associação da Lavoura Duriense (ALD), em comunicado conjunto, apontaram para uma “grande e acentuada diminuição de rendimento para o viticultor, a acrescentar aos elevadíssimos custos de produção já existentes, o que se traduz numa calamidade para a produção no Douro”.
Estas organizações propunham a redução do rendimento por hectare para as densidades mais baixas.
“Em resultado da redução do rendimento por hectare cega e sem critério proposta pelo comércio, haverá um aumento de uvas sem denominação de origem que serão pagas a um preço substancialmente inferior e muitas delas sem previsão de compra”, referiram ainda.
Rui Paredes, da FRD, classificou ainda como “um problema” a “falta de cadastro do IVDP”, porque, assim, não se consegue perceber se há ou não área a mais de vinha, considerando ainda que o cadastro é uma ferramenta essencial para decidir sobre o rendimento por hectare numa região que se subdivide em diferentes três sub-regiões.
As quebras na venda de vinho do Porto que se têm sentido nos últimos anos, fazem a FRD e a ALD antever uma diminuição do quantitativo de autorização de benefício na próxima vindima e o consequente aumento da quantidade de uvas disponíveis para os vinhos de Denominação de Origem Controlada (DOC) Douro e Indicação Geográfica Protegida (IGP)”.
No ano passado, a Região Demarcada do Douro beneficiou, ou seja, transformou um total de 104 mil pipas de mosto em vinho do Porto, menos 12 mil do que no ano anterior.
A vindima do ano passado ficou marcada por alguma agitação social na região porque, invocando dificuldades de vendas de vinho, grandes empresas não compraram ou compraram uvas em menos quantidade aos produtores.
No seio do Interprofissional foi criado um grupo de trabalho que está a analisar outras medidas para o Douro, como a limitação da entrada de vinhos de fora da região, a produção de aguardente no Douro, o arranque de vinha e a poda (vindima) em verde, ou seja, o corte de uvas consideradas a mais numa videira.